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"Crenças e Desavenças" - Editora Baraúna
"Qual será o Sabor da crônica?" - Editora Baraúna
Cada título contém 40 crônicas e pequenos contos de pura alegria com o mesmo número de receitas "que dão certo". Pedidos através:
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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

"SEU" PEDRO FARINHEIRO - IIª PARTE

 Após a tentativa frustrada de suicídio, Pedro tornou-se outro homem: passou a valorizar a vida, a abraçar árvores, a sorrir para as flores e até mesmo a gostar de si mesmo. Apesar de ter ficado sem um pedaço da orelha e de ter que usar o velho par dAe óculos de uma perna (ou braço?!) só, não se sentia mais um injustiçado por Deus. 


A partir de então, quando ia à cidade entregar lenha, seguia conversando, alegremente, com a mula recentemente adquirida e batizada de Serafina:
“Vamos ligeiro, minha amiga! Quem sabe não será hoje que conhecerei a mulher de minha vida.”

 Passou a reparar nas pessoas, a ficar falante e a “tirar linha” com as mocinhas da cidade. Percebeu que algumas delas “davam corda” e isso  fazia o jovem sentir-se como um Rodolpho Valentino ou um John Barrymore, galãs da cinematografia d’antão. Usava sempre o chapéu meio que do lado, um tanto para dar pinta de herói e mais para esconder a orelha mutilada.

Seu Joanicão, dono da casa de moagem e torrefação de farinhas, tinha uma filha chamada Helena. Filha única, já pela casa dos vinte e tantos mas ainda solteira. Pedro começou a cortejá-la de longe. 
 Não era muito novinha, devia até ser mais velha do que ele, mas era uma “mocetona”, de corpo grande e forte, bonita de se ver!

 As noites do rapaz  passaram a ser povoadas de sonhos inquietantes sendo que, muitas vezes, acordava no meio da noite com o “coração na boca”,  peito palpitante e o corpo suado. Estava apaixonado...

Mais afoito ficou quando percebeu que sua paixão fulminante estava sendo correspondida, de leve a princípio e mais forte a medida em que os olhares iam perdendo o pundonor inicial. Fugidia que era, a moça foi-se deixando levar ao sabor daquele enlevo e toda a vez que ouvia o trotear compassado de Serafina, corria à janela, com as faces afogueadas e as pernas bambas.
 Enquanto seu pai ajudava a descarregar a carroça, a embarcar sacos de farinha ou de fubá em troca da lenha, os dois jovens cruzavam olhares cúmplices e maliciosos.

 Numa manhã, pela ausência do pai, Helena teve que atender ao enamorado. Pedro seguiu-a até ao moinho de fubá, meio anestesiado pela emoção, e enquanto ele segurava o saco de aniagem, ela, munida de uma concha grande, de alumínio batido, recolhia o fubá de um caixote baixo para o saco. 

Vendo o abaixar-se e o levantar-se contínuo da moça, Pedro ficou extremamente  excitado e num rompante de insensatez, grudou-se nos quadris da amada. Helena, tensa que estava, deu um berro assustado e numa reação automática, meteu a concha de ferro na cabeça do rapaz, cortando-lhe um pedaço da outra orelha, a que era perfeita...

Quando seu Joanicão chegou e viu a filha curando a orelha de Pedro, quis saber a razão e a explicação que ouviu foi que ao apertar a cinta “barrigueira” da mula, o rapaz levou um coice certeiro do animal. Pedro ainda acrescentou: “Pois é, seu Joanicão, essa mula é uma desgraça de brava e traiçoeira!”

 “A Mula não é brava não _ replicou Helena, com toda a calma maliciosa _ Você é que pegou ela no susto...”

Anos mais tarde, sempre que alguém lhe questionava o porquê de usar sempre um gorro "atolado" na cabeça, ele dizia para a esposa: "Conta ai, Helena!"
A gorda senhora, em entremeios a sonoras gargalhadas, não se cansava de repetir a mesmas estórias, decisivas na vida do marido..

O receituário para o fubá é extenso, principalmente na cozinha mineira e escolhi para hoje uma receita, que aprendi quando morei em Poços de Caldas/MG, de broinhas mineiras que não é qualquer um que tem "saco" para fazer e lanço o desafio:
 BROINHAS DE FUBÁ: (Usar como medida um copo grande) - 1 copo de leite; 1 copo de água; 1/2 copo de gordura vegetal; 1 copo de fubá; 1 copo de farinha de trigo; 1/2 copo de açúcar; 2 pitadas de sal; 1 colher (sopa) de erva-doce; 1 colher (sobremesa) de fermento em pó e 6 ovos inteiros. Levar ao fogo uma panela com o leite, a água e a gordura. Quando levantar fervura, acrescentar os demais ingredientes (menos os ovos). Mexer (colher de pau) vigorosamente, até desgrudar do fundo da panela. Tirar do fogo e deixar amornar. Juntar o fermento em pó e misturar bem. Por último, acrescentar os ovos, um a um, misturando com as mãos. Umedecer uma xícara (chá), de fundo arredondado, com água e polvilhá-la com fubá. Jogar porções de massa na xícara e agitá-la até formar pequenas bolas. Despejar cada bola em tabuleiros untados e enfarinhados. Assar em forno quente. Sirva com café preto da hora.


sábado, 15 de outubro de 2011

"SEU" PEDRO FARINHEIRO - Iª PARTE


 O  “Seu” Pedro Maturano era míope de muitos graus e até onde vão minhas lembranças, sempre usou um gorro enfiado nas orelhas e o mesmo par de óculos “fundo de garrafa”, meio esverdeado. O peso da armação era tanto que lhe deixara uma marca profunda no nariz e as lentes estavam sempre embaçadas de pó amarelo, visto que era um “farinheiro” (moia e torrava farinha de milho e fubá).

 Nasceu e foi criado na roça, perto da Fazenda Santa Helena. A família vivia dos parcos recursos que conseguia “catando” e rachando lenhas, vendidas para as padarias, olarias e  fecularias da cidade.

 Pedro, rapaz ainda, era encarregado de levar para a cidade os paus de lenha, numa carrocinha puxada por uma égua de uns três anos, chamada Esmeralda. O animal era muito bonito e saudável e as pessoas, na cidade, sempre ofereciam bom dinheiro para a compra da égua; ofertas prontamente recusadas por Pedro, que alegava não ser seu dono. 
 Um dia porém ele capitulou ante a quantia oferecida pelo dono da Padaria Estrela: vinte contos de réis! Voltou para casa com o volumoso pacote de notas no bolso e puxando, ele mesmo, a carroça. Pelo caminho vinha pensando no quanto seu pai ficaria feliz com aquele dinheiro: “dava para comprar duas mulas!”, meditava ele.

Seu pai, espanhol  de Málaga e “bravo como o capeta”, ao saber da venda de Esmeralda, deu-lhe uma sova de chicote, obrigando-o a voltar à cidade a fim de desfazer o negócio. Pedro, envergonhado até à alma, implorou ao comprador para devolver a égua mas que nada... “Negócio feito era sagrado!”

 O velho espanhol comprou outro animal mas, a partir daí, era Pedro quem catava e trazia a lenha dos matos, puxando a carroça, qual um burro de carga. A mula comprada servia-se apenas para a entrega da mercadoria aos comerciantes.

Trabalhava como um "asno de engenho"e não podia freqüentar o jardim ou ir ao cinema pois não tinha tempo nem dinheiro. Além disso, por achar-se feio e “cegueta”, não cogitava em arrumar namorada.

 Lá pelos seus 23 anos, decidiu acabar com a miséria de vida que levava: Numa manhã de segunda feira, saiu com a velha garrucha espanhola, herança do avô e começou a maquinar seu suicídio. Enquanto caminhava, antevia, com certo prazer amargo, o desgosto e remorso que sua morte iria causar a seu pai. Já de caso pensado, levou consigo um comprido barbante que lhe seria útil para a consecução do ato final.

Numa grota não muito distante da colônia, ele enroscou o cano da cartucheira num feixe de lenha, amarrou o barbante no gatilho e postou-se a alguns metros, bem na mira da arma. Primeiramente, resolveu “ensaiar” o suicídio e para tanto, amarrou a outra ponta do barbante no dedão do pé, o qual serviria como acionador da engrenagem.
 Ao flexionar a perna direita, ele desequilibrou-se e enquanto tombava para um lado, o gatilho disparou vindo a bala passar rente a sua cabeça, arrancando-lhe o pedaço superior da orelha.
 Quando os colonos acudiram, ele estava meio que desmaiado, com a cara toda preta e ensangüentada. Ficou surdo do ouvido direito e por muito tempo usou óculos com uma “perna só”, amarrada com elástico mas... nunca mais pensou em suicídio!

E como o assunto hoje é farinha, segue aí uma receita de farofa, deliciosa e muito simples para acompanhar os churrascos da vida:
 FAROFA FRIA DA ROSALI:  copos de farinha de milho torrada; 2 copos de farinha de mandioca crua; 1/2 copo de óleo ou azeite; 1/2 copo de limão Tahiti; sal e´pimenta a gosto. Esfregue com as mãos até as farinhas ficarem uniformemente misturadas. Acrescente 2 dentes de alho picadinhos; 1 cebola bem picada; azeitonas; tomates; ovos cozidos picados e cheiro verde batidinho. Não mexer muito. 

domingo, 25 de setembro de 2011

TRÊS MULHERES DE MINHA INFÂNCIA (repito essa crônica, para quem ainda não a leu!(



  Naquele tempo, as crianças entravam para a escola somente após completarem 7 anos. Não existia maternal, prezinho e nem jardim da infância. Era direto para a primeira série e para a Cartilha Sodré, livro de alfabetização muito famoso, à época.


  A pata nada, pa-ta-pá, na-da, ná; O dado é da Dadá, da-do, dá; A macaca é má, ma-ca-ca, cá...
A autora dessa obra chamava-se Benedicta Stahl Sodré mas eu sempre pensei que fosse o Abreu Sodré, famoso deputado e governador de São Paulo, da antiga UDN/ARENA..
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 Dona Elza Zogbi foi minha primeira professorinha, doce de criatura! Ela morava no centro da cidade, numa residência estilo mourisco que hoje percebo, não era tão grande assim. Mas para o menino da época, era um palacete. Pelo meu bom comportamento fui convidado para conhecer sua casa e compartilhar de seu chá da tarde. 
Mamãe vestiu-me com o terninho branco de linho da primeira comunhão, gravatinha borboleta e "brilhantina glostora" no cabelo (Meu Deus!). 

 Lá pelas 5 horas da tarde descia eu, sozinho, a rua "do feijão queimado" (por ali passavam todos os enterros e as donas de casa, a pretexto de assistirem à passagem fúnebre, deixavam queimar as panelas).



 Havia chovido e pouco antes de chegar à Avenida, escorreguei na calçada de terra e cai sentado numa poça d`água. Fiquei com as mãos enlameadas e a bunda suja de barro. Sem saber o que fazer, começei a chorar (como era fácil chorar!). 


Não poderia me apresentar assim no chá de D. Elza e se voltasse pra casa, meus amigos que certamente estariam todos na rua àquela hora, iriam gozar de mim, vestido de anjo, sujo e chorando. Desci a Rua Olaia e fui direto para a casa de minha avó Vitta, nos consfins da Rua Riachuelo e quando lá cheguei, a chuva começou novamente.


 Menti para minha avó que minha mãe sabia que eu estava na casa dela e à noite viriam buscar-me.  A velhinha acreditou e fez para mim chá de erva cidreira com limão e fritou seus deliciosos "bolinhos de chuva com bananas"  


A chuva apertou e tranformou-se em "toró" com o cair da noite. Fiquei com medo, pois a casa de meus avós era encostada a um córrego e quando dava enchente, a casa ficava inundada. Desandei a chorar, apavorado pela chuva e também pela mentira. Tanto que acabei por adormecer.


 Minha "nonna" ajeitou-me no velho bercinho que serviu a todos os seus 11 filhos (inclusive a meu pai) e ficou aguardado meus pais chegarem. E eles chegaram... Furiosos quando me viram, pois já haviam rodado as casas de todos os parentes, inclusive da professorinha, à minha procura. 
Meu pai Paschoal arrancou-me do berço e quis bater em mim, alí mesmo, mas o "nonno Beponne" não deixou: "Lascia il bambino, Pascuale! Poverino, stà a dormire!"        
              
  Mas que nada, levou-me debaixo de chuva mesmo e enfiou-me na Chevrolet 54, ruminando "juras de vingança". Chegando em casa, enquanto meu pai guardava o veículo e fechava o portão, mamãe, apavorada, enfiou-me na cama, cobriu-me com vários travesseiros e jogou por cima um cobertor bem grosso (ainda bem que estava muito frio naquela noite), recomendando: 
"Cubra a cabeça e grita feito um cabrito toda vez que ele der as pancadas".


 O velho entrou espumando, com o relho de "rabo-de-tatu" na mão (era uma espécie de chicote de bater em animais) e iniciou a pancadaria. A raiva era tanta que nem percebeu o subterfúgio armado pela extremosa mãezinha
Salvo uma ou outra fisgada nas orelhas, saí-me ileso mas o susto foi tão grande que acordei de manhã com febre de 40º e como "prêmio", não pude ir à escola por uns três dias.


 Nunca mais vesti o maldito terninho de linho mas os bolinhos de chuva de minha avó, eu faço até hoje e copiem aí pois é muito fácil a receita:


BOLINHOS DE CHUVA COM BANANAS: 3 ovos inteiros; 3 colheres (sopa) de açúcar; 1 pitada de sal (1/2 colherinha de café); 1 copo de leite (mais ou menos); 1 colher (chá) de pó royal); 3 bananas bem maduras em rodelas e farinha de trigo até o ponto de pegar com a colher e pingar na gordura quente (ajudando a empurrar com os dedos). Fritar e escorrer. Se preferir, troque as bananas por pedacinhos finos de goiabada.
Salpicar bastante açúcar e canela. Espere chover e sirva com chá ou café.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A TIA - 2ª PARTE


  Descobri o nome das três morenas da paineira:  Alzira, Elmira e Elvira. A do meio é a Tia.
No último aniversário do Ciro Ney, nós fizemos Tia Elmira tomar quase uma garrafa inteira de cachaça. Até colamos, no rótulo da bebida, um papel escrito: "da Tia". E ela bebeu... a noite toda! 
Disse-nos que estava chateada pois seu dia havia sido muito complicado, por força das limitações que a idade lhe impunha e pela  incompreensão das pessoas.


Após meia garrafa de cachaça, ela contou-nos a razão de suas mágoas: Naquela manhã ela acordara bem contente, pois iria almoçar na casa do Landão, um antigo amigo. Estranhou o fato de estar sem a dentadura de cima e não se lembrava de tê-la tirado para dormir. 


 Procurou na gaveta do criado mudo, na penteadeira, na pia do banheiro e nada!! Desesperada, ligou para o amigo, mentiu que estava com uma forte enxaqueca e cancelou o almoço: Jamais sairia sem dentadura...
Mais tarde, quando foi arrumar e alisar as cobertas da cama, sentiu algo saliente. 


Era a dentadura que escapara de sua boca, enfiando-se num buraco do velho edredom. Retornou  para o Landão, confirmando sua presença, "já que a enxaqueca havia passado."


 O amigo serviu feijoada e tomaram várias caipirinhas. A sobremesa foi uma espécie de torta de chocolate, chamada Tiramissú, deliciosa mas que, definitivamente, não combina com feijoada e cachaça!
De repente, a dor de barriga apertou... 


Percebendo que a "explosão" seria terrível, não quis usar o banheiro de Landão e foi despedindo-se às pressas. Morava no final da avenida mas, já no começo, sabia que não daria tempo de chegar.
 Pelo meio do caminho, entrou numa loja das Casas Pernambucanas, mas a balconista ruiva, "com unhas de puta", foi categórica:
 _ O toilette é só para funcionários!


Percebendo que não adiantava insistir, branca como os lençóis que a balconista dobrava, Tia Elmira saiu da loja, cambaleante:  _ Meu Deus, não vou aguentar!


  Um pouco mais adiante, ela topou com uma jovem, com roupas de enfermeira que saía de sua casa, com as chaves na mão. Enquanto a moça encostava o portãozinho do corredor, a Tia agarrou seus braços, desesperada: _ Filha, pelo amor de Deus! Deixe-me usar teu banheiro?


_ Ah, larga do meu braço sua velha doida! Eu já estou atrasada e não vou abrir a casa para ninguém... 


A Tia, com as pernas cruzadas e as mãos na barriga, ainda insistiu: _ Por favor, estou quaze fazendo nas calças! A enfermeira respondeu-lhe com a bunda e assim que dobrou a esquina, Tia Elmira empurrou o portãozinho e correu para uma pequena varanda, no fundo do quintal.


Agachou-se e foi aquela pororóca! Sentiu até os pelos dos braços arrepiarem-se de tanto alívio. Como não achou papel, limpou-se com um lençol branco que encontrara no varal. Saindo dalí, retornou à Loja da Pernambucanas e procurou a mesma balconista ruiva que lhe recusara o toillete. 


Pegue para mim dois lençóis brancos, dos mais caros que tiver na loja.


Após a venda, a moça perguntou-lhe: _ A senhora vai usar o crediário?
A Tia, com ar de desdém, respondeu-lhe: _ Não, filha... eu compro com cartões de crédito. Quem usa crediário são as balconistas ou enfermeiras!


Pediu papel e caneta emprestados, escreveu um bilhete e voltou à casa da enfermeira. Olhou para a varanda e riu-se do estrago que aprontara. 
 Estendeu os dois lençóis novos no varal e deixou, preso ao arame, o seguinte recado: 
_ Sou velha, mas honesta!!


Tudo bem, não deveria mas...vou deixar a receita da sobremesa italiana:


  TIRAMISSU: 4 ovos; 4 colheres de açúcar; 300 gramas de requeijão firme (mascarpone); 1 lata de creme de leite (sem soro); 1 pacote de biscoito champagne; 1 colher (de chá) de baunilha; 1 colher (sopa) de licor de cacau ou brandy; 1 xícara grande de café e 100 gramas de chocolate meio amargo raspado ou chocolate em pó.
Bater as gemas com o açúcar, adicionar o requeijão, o creme de leite e bater mais. Misturar com as claras em neve, até ficar um creme uniforme. Juntar o licor (ou brandy) ao café, molhando os biscoitos nessa mistura. Forrar uma travessa com os biscoitos molhados e espalhar metade do creme por cima. Dispor outra camada de biscoitos e o resto do creme. Alisar bem e espalhar o chocolate (raspado ou em pó). Levar à geladeira.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A TIA - 1ª PARTE


Prá falar a verdade, no momento, esqueci-me do nome dela. Mas é Tia da Marlene, mulher do Ciro Ney, meus amigos. Aliás, nós todos a chamamos por Tia e ela é uma figura ímpar, umverdadeiro barato!
 Muito embora já tenha passado a casa dos setenta, é uma mulher vaidosa e bem bonitona. Não aparenta a idade que tem... Disse-nos que na juventude, ela e as irmãs foram famosas bela beleza. Eram conhecidas como as "morenas da paineira", pois moravam numa chácara, pertinho da cidade e na porteira de entrada, havia uma árvore dessa, bem grande.


Pelo gosto do pai, elas deveriam casar-se com doutores ou fazendeiros e preparou-as para isso. Todas sabiam tocar piano, receberam aulas de etiqueta e falavam o francês fluentemente. Mas, designos do destino... nada disso aconteceu! A mais velha casou-se com um violeiro, a Tia, com um caminhoneiro e a mais nova, tornou-se professora e solteirona.


 A mulher do violeiro ficava acordada, noites e mais noites, à espera do marido, o qual, invariavelmente, chegava bêbado e com a viola fora do saco. E,ai dela, se reclamasse! Levava violada na cabeça... Bebeu tanto, até morrer com cirrose hepática.


O marido da Tia era um romântico e ela, apaixonada, não se cansava de elogiar o maridão. Sujeito trabalhador, passava semanas e semanas na estrada, a fim de trazer conforto para ela e aos filhos! 


 Toda a vez que retornava de Belém do Pará, trazia-lhes pupunha, cupuaçu, açaí e outras frutas típicas daquelas terra.
O que ela não sabia é que quando ele para lá voltava, também levava jabuticabas, uvas, pinhão e goiabada cascão para a família que mantinha em Belém: mulher e dois filhos...


Acabaram contando para ela e a Tia ficou desarvorada, sem saber o que fazer. A irmã solteirona dizia-lhe para abandonar o marido. A viúva, aconselhava: "Fica com ele, pois eu sei o que é solidão... É melhor dividir um bife do que comer agrião!"


Mulher ferida não raciocina e... o homem foi-se embora. A coitada ficou com uma pensão tãomerreca, que mal dava para pagar o aluguel. Aos poucos, vendeu tudo o que tinha

De valor, mesmo, só lhe restaram o fusca vermelho e um anel de brilhantes. Já no fim do poço, a irmã deu-lhe a idéia: 
 "Vamos até Aguaí, lá tem um macumbeiro dos bons e com a a ajuda dele, teu marido volta para casa. Foi ele quem fez meu finado parar de beber..."


A Tia estranhou aquele papo: "Mas, se teu marido morreu com cirrose?!" A irmã ponderou: É, morreu... mas, uns dias antes, ele tinha largado da bebida!


 O "pai de santo" afirmou-lhe que o marido voltaria para casa, dentro de três semanas, em troca do anel de brilhante que ela trazia no dedo. Ela concordou e aguardou. Passaram-se duas, três, quatro semanas e... nada!


De volta à Aguaí, dessa vez, o homem conduziu-as a um ranchinho no quintal, cheio de imagens com chifres e capas vermelhas: _ É, minha filha, os exús de Belém são bem fortes! A outra mulher fez um trabalho dos grossos, para segurar teu marido. Vai ser preciso muito dinheiro para quebrar as correntes. Quanto você pode pagar?


Acabou deixando o fusca, levando a promessa de que, antes de dois meses, o marido estaria entrando em sua casa: _ E pela porta da sala!


Numa tarde, lá pela hora da "Ave-Maria", a Tia viu estacionar à porta, uma perua de resgate. Dois homens entraram pela porta da sala, transportanto o corpo de seu marido. O caminhão, carregado de laranjas, havia tombado numa curva, próxima à Atibaia e o único endereço que encontraram nos documentos do acidentado, foi aquele, o da casa da Tia.


Dessa vez, a macumba deu certo e, naquele momento, veio-lhe à mente, as palavras do "pai de santo": _ Muito cuidado com o que pedes aos espíritos, pois eles poderão atender-lhe...
Acho que aí no texto, eu falei sobre pinhão e então, lembrei-me dessa receita muito boa:


 ARROZ MORENO COM PINHÕES: 2 copos de arroz4 colheres (sopa) de óleo, 4 dentes de alho picados, 1 cebola pequena picadinha, sal, água e pinhões (já cozidos e cortados em lâminas bem finas). Lave o arroz e espere secar bem. Frite no óleo a cebola e o alho, até ficarem queimados. Junte os pinhões e frite mais um pouco. Acrescente o sal (pouco) e o arroz. Misture até ficar moreninho. Junte a água fervente, abaixe o fogo e espere secar.
Não tenha medo de queimar, pois o segredo está aí. Use pouco sal, pois o sabor fica a cargo do alho e da cebola queimados.