A Mirandina contou-me que certa vez, quando era gerente em uma Agência no interior da Bahia, tinha como concorrente um gerente muito gozador chamado Gildázio que mandou imprimir e distribuir pela cidade toda, panfletos anunciando que a Agência local do Banco X (onde ela era gerente) estava selecionando pessoas para participarem de um programa de TV muito famoso à época, o "Topa Tudo Por Dinheiro".
Minha baianinha 3M, como a apelidei (Mirandina de Moura Miranda), viu-se na maior dificuldade para se desembaraçar de todo aquele pessoal doido, querendo fazer malabarismos e coisas completamente loucas dentro da Agência. Vieram palhaços, engolidores de faca, quebradores de tijolos, macaco batedor de carteiras, papagaio que cantava hinos religiosos e até um jegue que fazia não sei lá o quê...
Ela descobriu o autor do vexame e deu o troco de uma forma mais contundente: O único jornal da cidade era bisemanário e na 4ª feira saiu, na primeira página, o comunicado de falecimento do Sr. Gildázio de "Tal", muito querido Gerente do Banco Y, cujo corpo seria velado no saguão daquela Instituição, a partir das 10 da manhã.
A Mirandina foi a primeira a aparecer e lá por volta das 9 horas já tinha uma multidão de curiosos, clientes chorosos, coroas de flores mandadas pelo Rotary, pelo Lions, pelos Amigos do Footboal, etc... Quando o Gildázio apareceu (já que bom gerente baiano chega somente na hora de abrir o Banco), a multidão saiu a gritar espantada e foi aquela confusão.
Só Mirandina sorria...
No único jantar que ela ofereceu em seu diminuto apartamento na Asa Norte de Brasília, o prato foi uma Moqueca Baiana, deliciosa, que mais tarde eu fui aperfeiçoando e acrescentando alguns detalhes. Para quem não sabe, existe a Moqueca Baiana e a Capixaba (esta leva urucum). Misturei as duas receitas mas continuo a batizá-la de
Moqueca 3 MBater no liquidificador 1/2 maço de coentro, 1 maço de cheiro verde, 2 cebolas, 3 tomates, 2 dentes de alho, caldo de pimenta malagueta ou cumari (prefiro a cumari) e sal. Temperar 2 kg de postas de peixe (pode ser caçonete, pargo, namorado, robalo ou badejo) com sal, alho e limão. Levar os ingredientes batidos para cozinhar até formar um molho encorpado. Em uma frigideira grande ou panela de barro, espalhar azeite de oliva e deixar frigir. Colocar as postas de peixe, jogando o molho por cima . Acrescentar 1/2 vidrinho de azeite de dendê, rodelas de tomates, rodelas de pimentão e rodelas de cebola. Misturar 2 colheres de urucum (colorau) desmanchado em meia xicara de água quente. Por último, acrescentar 1 vidro pequeno de leite de coco e salsinha picada. Deixar sobre fogo forte e apenas chacoalhar a panela, sem mexer, para não grudar no fundo. Servir com arroz branco e pirão.