LEIAM MEUS LIVROS

"Crenças e Desavenças" - Editora Baraúna
"Qual será o Sabor da crônica?" - Editora Baraúna
Cada título contém 40 crônicas e pequenos contos de pura alegria com o mesmo número de receitas "que dão certo". Pedidos através:
www.editorabarauna.com.br - www.livrariacultura.com.br - jbgregor@uol.com.br

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

OS TAMANCOS DE MADEIRA

A bem da verdade, quando iniciei a crônica anterior, ia falar sobre outra coisa mas acabei por enroscar-me na "mala de pau" e por ali fiquei. Senão, vejamos, pois...

Minha mãe era uma portuguesa alta. Media um centímetro a mais que meu pai e calçavam o mesmo número. Ela nem gostava de usar salto alto para "não humilhar seu adorado italianinho".

Impunha respeito até ao marido que vivia bravo e esbravejante com todo mundo. Porém, bastava uma palavra mais firme dela para que o velho "enfiasse a viola no saco" e ruminasse, sozinho, a sua irascibilidade. Às vezes, chegava até a se desculpar com ela, coisa que jamais fez conosco, senão depois de velho.

Ela gostava muito de usar tamancos de madeira, um calçado aberto, de couro forte e planta de pau. Era um pouco diferente das tamancas portuguesas, pois que eram mais baixos e as entradas mais largas. A gente levava cada pisa com aqueles danados!! Mas era gostoso de escutar o cláp... clóp da sola de madeira pisando nos tacos e ladrilhos lá de casa. Quando ela estava mais nervosa ou agitada, aquilo estalava mais que matraca de semana santa e dai o som transformava-se em cláp...clép...clóp.

Perto de nossa casa existia um cortiço, com casebres centenários, conhecido como "Coloninha". Alguns diziam que os negros foram alojados naquelas casinhas. após a abolição da escravatura e outros afirmavam que o casario era parte da antiga colônia da Fazenda Conrado, ali existente, antes do loteamento para o bairro. Na habitação mais estropiada, morava a familia "cata bosta".

Eles sobreviviam com a ajuda dos vizinhos e com os parcos recursos conseguidos na venda de esterco de animais. Naquele tempo, era comum a passagem de boiadas por nossas ruas de terra e quando isso acontecia, a gente corria a fechar portas e portões para que as vacas não invadissem nossos quintais. Nem bem passava a boiada e lá estavam os "cata bosta" recolhendo o estrume. O filho carregava uma ou duas latas grandes e a mãe, com uma pá, raspava os montes, ainda quentes jogando-os nas latas.

A Dona Antônia cata bosta, miudinha e bem judiada, era viúva e vivia apanhando do filho único, o Osvaldo cata bosta. A velhinha tinha até uma cicatriz na testa, resultado de uma pancada que o filho lhe dera, com uma frigideira quente e cheia de couve. O Várdo, já cansado de comer, todo o dia, a mesma verdura, pegou a vasilha de ferro e socou na cabeça da mãe, gritando: _ Essa fia da futa de mãe só fáiz côve! (ele era fanhoso e trocava o p pelo f )

Mas, a respeito dos tamancos; numa daquelas tardes de sábados em que íamos, todos limpinhos e contentes, com minha mãe, ao "Salão da Margarida", aconteceu um fato que acabou com nosso passeio e foi assim que ocorreu:

Na esquina de baixo, o Várdo estava sentado na soleira de um bar, bêbado que nem gambá e quando nos viu aproximando, abordou minha mãe, com uma certa insolência: _ Ô, Dona Alzira! A senhora fode me enfrestar um dinheirinho frá eu comprar uma finga? Mamãe costumava levar o dinheiro escondido nos soutiens, com medo de perdê-lo e abanando as mãos para mostrar que não tinha carteira, disse: _Não tenho dinheiro para bêbados!

O cara, lançando um olhar malicioso nos seios de minha mãe, completou: _Eu sei que a senhora esconde a grana nesse feito gostoso!

Prá quê!! Levou o pau do tamanco na testa que lhe abriu um corte, do alto da cabeça até ao olho. Mamãe ficou tão nervosa que voltou conosco para casa.

Naquele dia, mais uma vez, ela ficou sem fazer permanente nos cabelos e nós, crianças, sem os sanduíches de pão doce com mortadela e os deliciosos rocamboles de goiabada que ela costumava comprar, na padaria de Dona Maximina, encostada ao salão da cabeleireira.

E vai aí a receita...

ROCAMBOLE: 4 ovos; 2 xícaras de açúcar; 2 xícaras de farinha de trigo; 1 xícara (mal cheia) de água; 1 colher (sobremesa) de pó royal. Bater as claras em neve, depois o açúcar (aos poucos), as gemas (uma por uma), a farinha, a água e o pó royal. Assar em forma retangular (20cm por 30cm) em temperatura média, por mais ou menos 25 minutos. Deixar esfriar uns 10 minutos e desenformar por cima de um pano de prato umedecido e polvilhado com açúcar. Rechear com goiabada ou com leite condensado cozido e coco ralado. Enrolar cuidadosamente, com a ajuda do pano de prato. Salpicar com açúcar ou fazer qualquer outra cobertura.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A "MALA DE PAU"

Quando minha mãe ia à cabeleireira para cortar o cabelo e fazer permanente era assim: os três filhos mais velhos ficavam na casa de minha tia e os três mais novos, ela os levava consigo. Normalmente era em tardes de sábado e nesses dias, a rotina lá em casa mudava um pouco. O almoço saia mais cedo, a roupa não era lavada e nosso banho era mais caprichado. Como eu era o menor, minha irmã cuidava de mim, no chuveiro. Era aquela choradeira, pois ela esfregava tanto meu pescoço e orelhas que deixava-me todo vermelho e ardendo.

Depois, para o processo de "secagem", colocava-me em pé sobre um antigo baú de madeira, com tampa abaulada que minha avó Adelaide trouxera de Portugal, no início do século passado. Vai-se saber quais louças preciosas ou tralhas necessárias vieram, diretamente de Coimbra, naquela respeitável "mala de pau". Entretanto, na minha infância e adolescência, o móvel de carvalho servia-se apenas para guardar roupas sujas ou sustentar moleques molhados.

Num sábado desses, já estávamos todos prontos para acompanhar mamãe ao "Salão da Margarida" que ficava distante de casa, quase no fim da Avenida. Não me recordo bem qual arte aprontei, mas fiz por merecer uma surra de minha mãe. Só me lembro de que, enquanto ela procurava o cordão do ferro elétrico para aplicar-me o corretivo, corri a esconder-me dentro da mala de pau.

Quando ficava nervosa, minha mãe tinha a mania de falar demais, numa lamúria sem fim e, na maioria das vezes, aquela cantilena monocórdica acabava por acalmá-la. Então, fiquei ali, bem quietinho, com as pernas encolhidas, esperando chegar a "calmaria".

Sobre a maciez das roupas usadas, acabei por adormecer profundamente, alheio ao "fuzuê" que se armou na minha casa, por conta de meu sumiço. Inicialmente minha mãe queria achar-me para a aplicar a sova prometida, depois para que eu não sujasse a roupa de passeio, mais tarde porque perdera a hora da cabeleireira e finalmente, quando anoiteceu, desesperou-se pensando que eu havia sido sequestrado.

_ Meu Deus... os ciganos estiveram aqui hoje pra buscar o porco: devem ter carregado o menino!

Naquela tempo, meu pai vendia porcos, galinhas, cabritos e toda a espécie de animais, que trazia do sítio. Esses bichos ficavam num grande cercado que existia em nosso quintal e minha mãe se encarregava da venda no varejo a diversos fregueses da redondeza. Dentre os compradores, "vira e mexe", apareciam os ciganos que acampavam na parte alta da cidade, perto da antiga caixa d'água. Meu pai tinha amizade com todos.

Assim que papai chegou da roça, minha mãe, em prantos, implorou para que ele fosse ao acampamento dos "gitanos" a minha procura. Mas, o velho retrucou, incomodado: _Alzira, como é que eu vou lá perguntar uma coisa dessa para eles?! São gente boa e isso de roubarem criança é lenda... Seria uma ofensa das bravas!

Mamãe já estava disposta a "quebrar violinos e pandeiros", quando minha irmã chamou lá do banheiro: _ Mãe, achei o safadinho!

A velha levantou-me em seu colo, ainda dormindo. Sentou-se na tampa do baú e começou a beijar-me, chorando baixinho. Acordei-me sentindo aquele cheirinho gostoso de mãe. Vendo-a chorando, segurei uma das pontas de seus cabelos finos e macios e somente consegui perguntar: _ A senhora não fez permanente?

Ela respondeu-me, dando um daqueles seus beijos estalados: _ Não, filhinho! A Margarida não abriu o salão hoje...

Assim era minha mãe e, quanto à mala de pau, não sei que fim levou!

Por falar em ciganos, segue aí uma receita, modificada ao meu gosto, de:

ARROZ À MODA CIGANA: 2 xícaras de arroz temperado e cozido; 1/2 xícara de pinhões pré-cozidos ou castanhas do Pará; 3 colheres de manteiga; 1 xícara de queijo suiço (aqueles com buracos) picado; 3 ovos batidos; 2 copos de leite; 1 xícara de espinafre cozido, com sal e picado; 1 xícara de brócolis cozido, com sal e picado, 1 cebola picadinha.

Corte os pinhões ou as castanhas em filetes bem finos. Dê uma leve fritada na manteiga e misture aos demais ingredientes. Leve ao forno por 15 a 20 minutos.



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

AS COSTUREIRINHAS DA SINGER

Em 1903 chegaram ao Brasil as famosas máquinas de costura "SINGER". Até então, as pobres costureiras tinham que "tocar a máquina" por meio de uma manivela manual (lembro-me delas ainda, eram umas belezinhas!).

As novas máquinas "SINGER", e posteriormente chegaram as italianas "PFAFF" (acho que é assim que se escreve), tinham pedais, deixando, dest'arte (gostaram) as mão das costureiras à vontade para trocar linhas, deslizar o tecido, chulear, bordar ou... acariciar alguém.

Provocaram uma verdadeira revolução no ramo das confecções que se expandiu rapidamente, necessitando contratar mãos de obra femininas e especializadas. Mas, buscar onde essa mão de obra especializada?!

Naquela época mulher casada e "direita" não trabalhava fora do lar e a saída, então, foi contratar todas as mulheres levianas, desquitadas, largadas do marido, regateiras, desfrutáveis, janeleiras, de rótulas e viuvinhas já consoladas.

Pois bem, essas pobres coitadas não tinham quem as sustentasse ou aos seus filhos. Muitas eram desprovidas de beleza ou coragem para irem "batalhar" nos bordéis, que proliferavam naquela época, com suas prostitutas importadas, francesas e polacas, principalmente .

Ganhavam seu dinheirinho a duras penas mas ficavam "faladas" no bairro. Foi daí que surgiu, à época, o preconceituoso termo popular "ela costura para fora", então, maldosamente usado para designar as mulheres que agiam de forma mais liberal
Elas levavam uma vida pobre e pobres também eram suas marmitas, feitas às pressas; no cardápio eram constantes as batatas _ batatas cozidas e recheadas com mortadela e queijo. Para que as batatas não se abrissem elas as envolviam em linhas.

Minha mãezinha, penso eu, nunca "costurou prá fora" (apesar de ter uma PFAFF lá em casa)) mas fazia com muita frequência essa iguaria deliciosa, denominada de:

Batatas de Costureira: Cozinhe na água com sal umas seis batatas grandes, com a casca (antes, dê umas furadinhas com um alfinete ou garfo). Ainda mornas, retire toda a casca e parta-as ao meio. Recheie-as com uma fatia de mortadela (ou presunto) e outra de queijo prato (ou mussarela). Enrole-as em linhas (ou enfie um palito), prendendo as duas partes. Passe-as no ovo batido (um ou 2 ovos inteiros, batidos com 3 colheres de água e uma pitada de sal) e depois na farinha de rosca. Frite-as em óleo bem quente, até ficarem douradas. Acondicione-as (chic) numa travessa forrada de guardanapo, para absorver o excesso de gordura. Sirva-as ainda quentes como as tais costureirinhas das máquinas Singer...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O JOÃO COELHO


Ele foi bicheiro, famoso lá em Poços de Caldas/MG e sua vida era cheia de altos e baixos. Às vezes estava rico, às vezes na miséria; às vezes estava livre, às vezes foragido. Mas, chá de cadeia eu acho que ele nunca tomou, pois tinha amizades em todos os meios. Os investigadores viviam no pé dele, tentando pegá-lo em flagrante mas, o bicheiro era esperto.

Certa tarde, estava ele no velório de um promotor de justiça, rodeado de agentes da policia, delegados, etc., quando um cliente do jogo, postado as suas costas e querendo saber o resultado do dia, começou a chamá-lo, baixinho: "Psiu, Psiu...Ô João! O que foi que deu?" Nosso amigo, perto do caixão, deu uma olhada rápida para trás e não respondeu nada. O cara insistiu, afoito: "Ô Coelho, já sabe o que deu?"

João Coelho, olhando para os lados, meio sem jeito, respondeu: "Acho que foi infarto!!"

A Nadir, mulher dele era uma perua de carteirinha, cheia de jóias, longos cabelos pretos como as asas da graúna. A boca, era uma perdição: vermelha, em tom grená/pastoso, delineada com lápis marrom.

Quando eles estavam em baixa, ela aparecia lá no Banco com uma maleta cheias de jóias caríssimas, para penhorar. Assim que as coisas melhoravam, a Nadir voltava e resgatava tudo. Até que uma vez, a carestia foi mais longa pois o marido estava foragido fazia meses e então, os juros não foram pagos. Aquelas peças maravilhosas foram todas para o Leilão, sem choro e nem vela.

Para fugir da polícia, o João Coelho costumava ficar na fazenda de um amigo, no interior de Minas Gerais e nos feriados prolongados a gente costumava ir para lá também. Era ummurundum danado. Um monte de gente e a casa era pequena; apenas a varanda era enorme. Então, os dois quartos eram para as mulheres e os homens dormiam na sala ou na varanda: um monte de bebuns amontoados, roncando e peidando...

Numa noite, estavam presentes apenas três mulheres: a Nadir, outra senhora que eu não me lembro do nome e a Neuzinha, uma amiga dela, cheia de curvas e divorciada. O João bicheiro estava particularmente inconveniente e enquanto a esposa ficava na cozinha, fazendo dois galos com polenta, ele dava em cima da Neuzinha, a ponto de as pessoas perceberem.

Antes que as coisas piorassem para o lado dela, foi até à cozinha para alertar a amiga: _ Olha, Nadir... O João está me deixando irritada e falando besteiras para mim, na frente dos outros. Acho melhor você tomar uma atitude antes que eu meta a mão na cara dele!

Nadir manteve a calma e dando trato às bolas, convenceu a outra a participar de uma artimanha prá pegar o f.d.p. no pulo. Depois do jantar, enquanto todos jogavam truco, as duas tomaram banho e vestiram suas roupas de dormir. A Nadir, com uma camisola espalhafatosa, cor de vinho e um peignoir esvoaçante; a Neuzinha com um pijaminha de plush listrado que ia até ao meio das canelas.

Bem mais tarde, a Nadir, fingindo estar bêbada, retirou-se para o quarto que dividia com a outra senhora. A Neuzinha deu mais um tempo e disse que também ia dormir. Antes, porém, cochichou ao ouvido do João Coelho um convite para ir ao quarto dela, quando todos estivessem dormindo.

As duas trocaram de quartos e de roupas. Com o pijaminha meio apertado, o perfume da amiga em seu cangote e as luzes apagadas, Nadir esperou a chegada do marido traidor. Não demorou muito e lá estava o bicheiro, no maior fogo e cheio de amor prá dar...

Tempos depois, já divorciada, contou-nos que de início, até que ela estava divertindo-se com a farsa mas, quando o marido, procurou seus seios e declarou: _Estou com o saco cheio deassoprar as bexigas murchas da minha mulher! _ ela não aguentou: Meteu-lhe uma joelhada na cara que o nariz partiu-se em dois...

A receita vai ser de galo e olhe que é uma das coisas mais saborosas que já fiz:

GALOPÉ: 1 galo (ou duas galinhas caipiras) cortado em pedaços médios; 3 kilos de pés de porco, sem unhas e cortados em dois. Afervente os pés de porco em água salgada e 2 folhas de louro. Escorra toda a água e reserve. Bater no liquidificador o seguinte tempero: 4 cebolas, 2 cabeças de alho, 4 folhas de louro, um maço de cheiro verde (salsa, cebolinha e manjericão), caldo de 4 limões grandes, meio copo de água, meio copo de azeite e meia noz moscada ralada. Tempere os pés com a metade do tempero batido, acrescente 1 colher de páprica picante, 6 tomates picados, um pouco de água e leve-os a cozinhar, em panela de pressão, por mais ou menos 20 minutos. Reserve em separado. Na mesma panela, refogue o galo, temperado com sal, a outra metade do tempero batido, 1 dose de cachaça e 2 colheres de colorau. Acrescente água fervente e cozinhe-o na pressão. Numa panela grande, junte os dois cozidos e pique mais 2 cebolas em rodelas. Deixe em fogo baixo por alguns minutos para agregar bem os molhos. Na hora de servir, espalhe salsinha picada.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A SORAYA II

Depois que Soraya mandou o marido à merda, sua irmã, Myrna, ligou para ela dizendo: "Sôra, como você teve a coragem de largar de um homem tão bom?! Mais de vinte anos de um casamento confortável e de repente, joga tudo pelos ares, sem mais nem menos! A mamãe está aqui, chorando inconformada e não concebemos nossa vida sem o Baleia..."

Minha amiga respondeu, de xôfre: _Olha, Myrna, se está assim tão sentida, fica com ele pra você!

E foi exatamente isso que a irmã fez: menos de um mês depois, saiu de Catanduva e veio, de mala e cuia, para morar com o cunhado, em São paulo. O Baleia proibiu a nova mulher de conversar com a irmã e Soraya entregou o caso pra Deus: "Logo ela descobre como o homem é bom..."

Ver imagem em tamanho grande Não durou muito tempo até que a Myrna pediu socorro... Ligou para a irmã e as duas combinaram de se encontrar no Largo do Paiçandu, onde Soraya mantinha uma banca de artesanatos. A coitada estava desesperada; queria sair da encrenca em que se metera mas, tinha medo do Baleia.

_ O que é que eu faço, Sôra?! Ele tirou umas fotos minhas, totalmente nua e ameaça de espalhar o material todo lá em Catanduva. Disse-me que não vai poupar nem a mamãe e que todos os vizinhos e parentes vão receber uma carta com as fotos...

Soraya pensou, que pensou mas, resolveu ajudar a irmã: _ Você não merece porém, vou te dar uma mão... Com relação à pouca vergonha que você deixou ele retratar, não posso fazer nada: deixa as coisas rolarem, pois você não vai voltar para o interior, mesmo!

As duas foram morar juntas, num minúsculo apartamento no Edifício COPAN, bem no centro da cidade. Myrna começou a ajudar a irmã a confeccionar bijuterias e terços de contas para venderem na pequena banca, montada bem defronte à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.

Especializou-se nos terços e rosários e o negócio prosperou tanto que quando soube que o lazarento do ex-cunhado/amante cumpriu sua ameaça, nem se importou muito.

A única contrariedade foi com relação a sua mãezinha: quando a velha abriu o envelope e viu umas três fotos de sua amada caçulinha completamente nua, com uma bandeirinha do Santos Futebol Clube na boca e uma bola da seleção no meio das pernas, sofreu um derrame. Tiveram que trazer a pobrezinha para São Paulo.

Como não podiam deixar a mãe sozinha no apartamento, Myrna teve uma idéia: Comprou um hábito branco de freira, um tabuleiro de madeira e uma cadeira de rodas.

Durante muitos anos, todo mundo que passava pela marquise térrea do Edifício Copan, deparava-se com uma "freira", vendendo terços, rosários e Bíblias. A seu lado, uma senhora "paraplégica" com um enorme tabuleiro no colo, oferecendo "Toucinhos do Céu", um delicado confeito originário dos fornos e lumes de antigos conventos em Portugal.

TOUCINHOS DO CÉU: 10 gemas (utilize as claras para suspiros); 2 xícaras de amêndoas moídas; 100 gramas de manteiga (temperatura ambiente); 1 xícara de água; 2 xícaras de açúcar; 1 colher (sopa) de farinha de trigo; 1 colher de licor de amêndoas (ou essência) açúcar de confeiteiro e canela em pó, para polvilhar.

Modo de Fazer: Unte um pirex ou uma forma baixa, retangular. Cubra o fundo com papel manteiga, untando o papel, também. Em fogo médio, faça uma calda com o açúcar e a água e deixe ferver, sem mexer, até ficar brilhante e transparente (mais ou menos 7 minutos). Retire do fogo e adicione as amêndoas moídas e a manteiga, mexendo bem para incorporar, sem açucarar. Peneire as gemas , misture-as bem, com o licor e a farinha. Junte essa mistura à calda e volte ao fogo médio, mexendo sempre, até ferver e começar a soltar do fundo da panela. Passe uma colher no fundo da panela e veja se forma um caminho por onde a colher passou. Transfira a mistura para a forma e asse em banho-maria a 180ºC, por cerca de 40 minutos. Polvilhe com açúcar de confeiteiro e canela em pó. Corte em pedaços retangulares.