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"Crenças e Desavenças" - Editora Baraúna
"Qual será o Sabor da crônica?" - Editora Baraúna
Cada título contém 40 crônicas e pequenos contos de pura alegria com o mesmo número de receitas "que dão certo". Pedidos através:
www.editorabarauna.com.br - www.livrariacultura.com.br - jbgregor@uol.com.br

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

EASY RIDER - PARTE VI ( CAMBORIU )

 No dia seguinte, ressaca brava e a notícia: “Vamos embora desta terra!  E a partir de agora, nada de hotel pois o dinheiro está curto....” Sobre o capô do carro estava a barraca de três compartimentos que o Valter levou para alguma eventualidade e chegando em Camboriu, fomos logo procurando um camping.

 Nosso vizinho de barraca era um argentino chamado Hector  que, coisa rara entre os argentinos, era muito simpático e convidou-nos a compartilhar de seu churrasco: bife chorizo na grelha e salsichas. Comemos tanto que ele, arrependido, nunca mais nos convidou para compartilhar de seus grelhados.

Foram dias de muita diversão em Santa Catarina, rincões que abrigam a mais bela espécime de brasileiros. As meninas eram lindas e o balneário de Camboriu, àquela época, não era tão freqüentado, mais selvagem e despojado. A inflação na Argentina estava muito alta e então, as praias de Santa Catarina ficavam lotadas de porteños. Como as meninas gostavam mais de sair com eles, comecei a falar em castelhano e obtive relativo sucesso até que escorreguei na maionese quando falei para uma delas:  Niñaanda qué ya viene la chuva!. Ela,escolada, me disse: “Você é argentino de araque, guri: Em espanhol, o certo é lluvia e não chuva!“.

O dinheiro acabava e paramos de almoçar e jantar. Comprávamos um frango recheado (muito barato por lá) e comíamos a metade no almoço e a outra metade à noite, mas passeamos muito, Brusque, Florianópolis, Blumenau, etc...
 Em Balneário, tentamos entrar numa colônia de nudistas mas fomos barrados devido ao alto teor alcoólico no sangue. Inconformados, subimos em uns rochedos que rodeavam a colônia para dar uma de voyers  mas não conseguimos ver nada.

 O mar ali era violento e as grandes ondas vinham quebrar nos rochedos, causando  estrondos assustadores. O Valter, então, deu a idéia: “Vamos tirar umas fotos pelados e daí a gente diz lá em São João que estivemos na colônia de nudismo.” Ele bateu uma foto minha e do Tininho e quando fomos fotografá-lo, estourou uma grande onda por trás dele que o carregou, rochedo abaixo. Com muito custo conseguimos resgatá-lo, todo esfolado e sangrando.

Levou vários pontos nas mãos e cabeça e não podendo mais dirigir, com a mão que bateu na cigana, toda enfaixada, deixou o fusca  sob meu comando. 

E para relembrar os grelhados do argentino, segue uma receita bem simples e saborosa:
Peito de frango grelhado FRANGO GRELHADO DO ARGENTINO:  Corte um frango ao meio, na horizontal (despreze toda a parte das costas); tempere-o com o molho argentino "Chimichurri"hidratado ( receita do dia 24/08/2010),  acrescentando mais 4 colheres de azeite; 4 colheres de água e 3 colheres de vinagre. Deixe no tempero por várias horas, ou de um dia para o outro. Deixe grelhar por 10 minutos de um lado e 10 minutos do outro. Sirva com batatas sautè ou legumes levemente refogados na manteiga (batata, palmito, ervilhas e salsa).

terça-feira, 21 de setembro de 2010

EASY RIDER - PARTE V (NUMA BOATE EM PORTO ALEGRE)


 Naquele mesmo sábado, fomos a uma boate, de Porto Alegre, chamada Emmanuelle”(nome de um filme de grande repercussão à época),, onde conheci uma guria, loira linda que naquela noite completava 19 aninhos. Disse-me que eu seria o seu grande presente e ao final iríamos apagar velas juntos mas que enquanto isso, tinha que trabalhar. 
E como trabalhou...


 Enquanto eu tomava um Whisky atrás do outro, vi que ela saiu acompanhada umas quatro ou cinco vezes. Ao final da noite eu estava “prá lá de Bagdá”, quando ela veio com graça dizendo que poderíamos “apagar a velinha e desembrulhar o presente”. Bêbado e aborrecido, fui ríspido: “Minha filha, nem tente puxar a fita pois o presente tá quebrado e a vela já se apagou...” 

 O Valter teve melhor sorte, aparentemente... Logo de cara grudou-se com uma loira, alta, de fechar o comércio, de codinome “Beija”. Ela vestia uma saia de lamê prateada, justíssima e umas meias lurex, listradas e brilhantes.  Era um show de mulher!
Dançaram a noite toda e ele, que não bebia, arriscou-se a esvaziar umas três garrafas de vinho com a loira.

Ficou tão encantado que quis levá-la para nosso quarto de hotel e, logicamente, eu e o Tininho teríamos que dormir no carro. 
 Apesar de nossos protestos, ele enfiou a “moça” no fuscão e pediu para eu ir guiando enquanto ficava no banco de trás, dando amassos.  Fiquei imaginando a madrugada horrível que iria passar, de ressaca e espremido no carro. 
Olhei para o Tininho e vi que já estava roncando. “Esse aí só sabe dormir e peidar!”, pensei, com despeito.

Do banco de trás vinham os gritinhos e sussurros: “Deixa, deixa...”;  “Ainda não, espera chegar lá!” E de repente não mais que de repente, ouvi o Valter gritar furioso: “F.D.P. por que não me avisou?!” Num tranco, que fez o Tininho acordar, parei o carro e perguntei assustado: “Mas o quê está acontecendo aí atrás!” O Valter estava possesso:  
 “Enchi minha mão, o lazarento é homem, boiola, bicha, traveco!!!”.

Respeitamos a vergonha dele e nada comentamos até a chegada ao hotel, porém, antes de pegar no sono, não pude resistir e comentei: “Tu te lembras da cigana? Tua mão vai secar...”

Ainda lembrando-me de "Santa Felicidade", o bairro italiano de Curitiba, vou passar uma receita especial, que vocês não podem deixar de fazer: 
 RONDELLI COM RECHEIO DE NOZESComprar a massa pronta (Rondelli ou Canelloni) cozinhar em água, sal e azeite. Colocar para enxugar em um pano de prato (ficar bem enxuta). RECHEIO: 1 ricota fresca, 1 copo de requeijão, 1 pitada de pimenta branca e 3 pitadas de nós moscada (pitada é o quanto você consegue pegar com os dedos polegar e indicador, rsrssr). Passar a ricota na peneira, misturando os demais ingredientes. Por último, acrescente 70 gramas de nozes, esmagadas em pedacinhos. Rechear e cortar os rondelles (como rocambole); se for canelonni, é só rechear e enrolar. MOLHO BRANCO: Derreter, em fogo baixo, 3 colheres (sopa) de margarina, acrescentar, aos poucos, 4 ou 5 colheres de farinha de trigo, mexendo bastante para não empelotar. Juntar, aos poucos, 1 litro de leite, sem parar de mexer; 1 colher (sobremesa) rasa de sal e 1 pitada de nóz moscada ralada. Deixar engrossar, jogar sobre a massa, salpicar queijo ralado. Levar ao forno para gratinar.
É especial!!!!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

EASY RIDER - PARTE IV (AS CIGANAS DE GRAMADO)

 Então... os dois ficaram sem conversar por uns três dias e eu no meio tentando apaziguar. Num sábado, porém, fomos até Gramado e fiquei encantado com aquela cidade. Até então eu não conhecia a  Europa e nem a América do Norte e imaginei que assim seriam as cidades naqueles continentes frios, com suas casinhas de madeira, jardins coloridos e tetos inclinados para o escorrimento da neve.

 Estávamos eu e o Tininho a tirar fotos, enquanto o Valter abastecia o carro, e nem percebemos a aproximação de três ciganas que se dirigiram a nós com aquela fala aguda e extravagante, cheia de chiados. Eu que nunca gostei dessas estórias de ler a sorte, videntes e cartomantes, fui afastando-me aborrecido mas o Tininho ficou enroscado com a mais velha delas. A cigana pediu-lhe a nota mais alta que ele tivesse na carteira, pois com ela faria um sortilégio que, no futuro, faria dele um milionário.

 Sem coragem de safar-se, ele entregou para a mulher uma nota de quinhentos cruzeiros (valia bastante) e enquanto tagarelava apressadamente com as outras duas, deixando-o meio zonzo, ela sacou um crucifixo da faixa amarela que trazia à cintura e começou uma espécie de benzimento sobre o dinheiro. Ao mesmo tempo em que benzia, ia dobrando a nota em quadrados cada vez menores, até que a mesma desapareceu de suas mãos. Guardando novamente o crucifixo, elas foram se afastando apressadamente.

Nesse meio de tempo, o Valter chegou e narrei-lhe o fato. Ficou uma arara de bravo, montamos no fusca e saímos ao encalço das gitanas. Ficamos no carro enquanto ele partiu para cima delas. Agarrou a buena dicha e por força de uns safanões e tapas na cara, ele conseguiu recuperar a grana.
Ficamos horrorizados com a violência do colega e com as maldições que as ciganas nos lançavam. Só compreendi quando pronunciaram mala suerte!...malo hado! ...manos marchitas!

 O Valter perguntou-me o que elas diziam e respondi: “que tuas mãos vão ficar secas...”
Durante todo o trajeto de volta à Porto Alegre, o Tininho quase não abriu a boca, de tão assustado. Chegando ao Hotel, o Valter deu-lhe um abraço, pediu desculpas e tudo se assossegou.

 Arroz Cigano:   2 copos de arroz lavado e bem escorrido; 4 colheres (sopa) de óleo; 4 dentes de alho bem picadinhos; 1 cebola pequena bem picadinha; 1 colher (de sobremesa) rasa de sal; água fervente para o cozimento. Frite o alho e a cebola no óleo até ficarem queimadinhos (marrom mesmo). Junte o arroz e frite bastante, mexendo sempre. Acrescente o sal e frite mais um pouco. Ponha a água fervente (até uns dois dedos acima dos grão de arroz). Abaixe o fogo, tampe a panela e deixe cozinhar


É ótimo, não leva muito sal e com um sabor irresistível

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

EASY RIDER - PARTE III (CAXIAS)

  Partindo de Curitiba, fomos diretos, sem escalas, para Porto Alegre. Chegamos à noite e o único hotel do centro onde encontramos vagas ficava (ou fica) bem defronte a um quartel do exército, numa rua feia e escura. Mas era estratégico e barato, considerando-se que somente nos serviria para dormir.

Como não tinha estacionamento, o Valter deixava o fuscão em frente ao portão do quartel , próximo às guaritas e mesmo assim, não dormia direito com medo de que sua condução fosse roubada.
Aliás, ele tinha um luxo tão grande com o veículo que tínhamos que entrar descalços para não sujar os tapetes e a cada passeio ele punha-nos a limpar e a lustrar o fusca. Imaginem o desespero dele quando, numa visita à Caxias do Sul o Tininho aprontou a maior cáca dentro do carro... e foi assim:
  
 Apesar de ser um grande polo de tradição italiana e conservar muitos dos ícones daquela antiga colônia de vênetos, Caxias é uma cidade bem cosmopolita, com inúmeros edifícios e arranha-céus. Não se vê um pássaro na paisagem da cidade, nem mesmo o prosaico pardal, existente em quase todos os continentes. Diz a lenda que isso se deu devido a uma velha prática dos italianos chamada de “passarinhada” que consistia na caçada e degustação de toda a espécie de pássaros de pequeno porte.

 Passamos um dia todo na cidade; visitamos adegas e mais adegas,  almoçando em um restaurante com comidas típicas, ou seja, comida pesada. Enquanto eu e o Valter ficamos no galeto al primo cantoradici com bacon e polenta frita, o Tininho exagerou nas morcelas e codeguins (espécies de lingüiça feitas com a pele, carne ou sangue de porco). Essas iguarias, aliadas aos canecos de vinho tinto transformaram o estômago de nosso amigo num autêntico vulcão em erupção.                                                                                                                                                                                                        
  Na volta, descendo a serra gaúcha, do banco traseiro do carro, irromperam as lavas... Não podíamos parar, pois eram só curvas e mais curvas. Quando encontramos um local de parada, à beira de uma  bica d`água, o Valter arrastou o Tininho para fora aos tapas e o jogou dentro do pequeno tanque da bica.. Os assentos e tapetes  foram retirados, lavados e esfregados mas, o parfun fedegaise impregnou-se de tal forma que por alguns dias só fazíamos passeios curtos, evitando o interior do carro.
Os dois ficaram “de mal” por algum tempo e somente voltaram a conversar na visita à Gramado por força dos sortilégios de um trio de ciganas, estória essa que deixarei para contar-lhes depois.

E agora, adivinhem que receita eu vou passar???

  CODEGUIM AO FEIJÃO : 500 gramas de carne de porco (lombo ou pernil); 700 gramas de couro de porco; 1 colher (sopa) de sal; 1 colher (café) de caldo de pimenta cumari; 1 colher (café) de pimenta calabresa seca; 1 colher (café) rasa de nóz moscada ralada; 2 colheres (sopa) de vinho branco seco; 1 cabeça de alho bem socada (ou batida no liquidificador com o vinho). Comprar as tripas já limpas, frescas ou desidratadas (deixá-las na água por algumas horas para reidratarem). Cozinhar o couro até ficar macio. Moer a carne e o couro (ainda quente) na máquina, com o disco de furos maiores (sai em pequenos cubinhos de meio centímetro) Temperar com os demais ingredientes e encher as tripas com essa massa. Amarrar com barbante, em gomos de mais ou menos 10 cm cada um (dá uns 8). Furar cada codeguim com uma agulha bem fina e colocá-los para cozinhar junto com o feijão. Separá-los somente depois de cozidos.  Servir, individualmente com molhe vinagrate.  It's Wonderfull !!!!