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"Crenças e Desavenças" - Editora Baraúna
"Qual será o Sabor da crônica?" - Editora Baraúna
Cada título contém 40 crônicas e pequenos contos de pura alegria com o mesmo número de receitas "que dão certo". Pedidos através:
www.editorabarauna.com.br - www.livrariacultura.com.br - jbgregor@uol.com.br

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

UM CERTO REVEILLON

 "Nao há Mal que sempre dure e nem Bem que não se acabe" e o meu namoro com a Lurdinha,  para minha tristeza, uma noite se acabou e de uma forma cômico/trágica. Como já disse em outra ocasião, sempre gostei de bailes e dançar era e ainda é minha diversão preferida.

 Os chamados "Bailes do Reveillon" de hoje em dia, nem de longe fazem lembrar o charme e a importância que tinham esses eventos para nós, adolescentes dos anos 70. 

 A preparação começava semanas antes com a confecção dos colares brancos (de papel crepon) e das roupas que, obrigatoriamente, tinham que ser:  camisa solta, em cores claras com calças brancas para os homens e os os  vestidos longos, cheio de Strass prateados e brilhantes, para as mulheres.

 Naquele ano de 1970, o Baile aconteceria na sede social do Palmeiras. Minha prima, costureira, havia confeccionado para mim uma camisa azul claro e uma calça de cambraia de linho branca, bem apertada e com "boca de sino"(era moda na época).

Iríamos à pé até ao clube pois meu carro era meu guarda-chuva. Já, há dias, estava com problemas intestinais. Uma diarréia que remédio nenhum curava e mesmo assim fui, pois já tínhamos a mesa comprada e roupas prontas. Saí de minha casa, por volta das 22 horas, para apanhar a Lurdinha e na subida do "morro do São Lázaro", a vontade apertou... Começei a andar depressa mas não deu para segurar!

  Que desespero, meu Deus! Voltar para casa não podia, pois já estava longe. Chegar até a casa da namorada, nem pensar!

 Lembrei-me que minha prima, a costureira, morava bem perto e corri para lá mas ninguém atendeu à campainha. Pulei o muro e fui até o quintal. Enchi de água o tanque de lavar roupa, tirei a roupa e lavei-me com um sabão de cinzas que encontrei. 
A calça branca estava completamente perdida e fiquei alí, pelado, tremendo de frio, esperando ela chegar o que demorou umas três horas. Levou-me para casa e como já era tarde e nem roupa branca tinha mais, fui dormir.

 No outro dia soube que a Lurdinha, p... da vida comigo, foi ao baile, com alguns amigos. Dançou a noite toda e foi  lá que conheceu aquele que veio a ser seu futuro marido. Até hoje ela não sabe o motivo do meu "cano" mas se chegar a ler este "post" vai ficar sabendo, mais de trinta anos depois.

Bem, como é tradição servir lentilhas no Ano Novo, vou ensinar como se faz o meu arroz com lentilhas.

 ARROZ COM LENTILHAS:

Cozinhar as lentilhas (200 gramas), por 5 minutos, na pressão e reservar. Frite uma cebola, bem picadinha, até queimar (bem moreninha). Refogar o arroz nessa cebola, acrescentar a lentilha pré- cozida e temperar com sal. Juntar a água do cozimento da ervilha (se necessário acrescentar mais. Depois de desligado o fogo, espalhe cheiro verde bem picadinho.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

TRÊS MULHERES DE MINHA INFÂNCIA

(para quem ainda não a leu em meu livro)
  Naquele tempo, as crianças entravam para a escola somente após completarem 7 anos. Não existia maternal, prezinho e nem jardim da infância. Era direto para a primeira série e para a Cartilha Sodré, livro de alfabetização muito famoso, à época.
  A pata nada, pa-ta-pá, na-da, ná; O dado é da Dadá, da-do, dá; A macaca é má, ma-ca-ca, cá...
A autora dessa obra chamava-se Benedicta Stahl Sodré mas eu sempre pensei que fosse o Abreu Sodré, famoso deputado e governador de São Paulo, da antiga UDN/ARENA...
 Dona Elza Zogbi foi minha primeira professorinha, doce de criatura! Ela morava no centro da cidade, numa residência estilo mourisco que hoje percebo, não era tão grande assim. Mas para o menino da época, era um palacete. Pelo meu bom comportamento fui convidado para conhecer sua casa e compartilhar de seu chá da tarde. Mamãe vestiu-me com o terninho branco de linho da primeira comunhão, gravatinha borboleta e "brilhantina glostora" no cabelo (Meu Deus!).  
 Lá pelas 5 horas da tarde descia eu, sozinho, a rua "do feijão queimado" (por ali passavam todos os enterros e as donas de casa, a pretexto de assistirem à passagem fúnebre, deixavam queimar as panelas). 


 Havia chovido e pouco antes de chegar à Avenida, escorreguei na calçada de terra e cai sentado numa poça d`água. Fiquei com as mãos enlameadas e a bunda suja de barro. Sem saber o que fazer, começei a chorar (como era fácil chorar!). Não poderia me apresentar assim no chá de D. Elza e se voltasse pra casa, meus amigos que certamente estariam todos na rua àquela hora, iriam gozar de mim, vestido de anjo, sujo e chorando. Desci a Rua Olaia e fui direto para a casa de minha avó Vitta, nos consfins da Rua Riachuelo e quando lá cheguei, a chuva começou novamente.
 Menti para minha avó que minha mãe sabia que eu estava na casa dela e à noite viriam buscar-me.  A velhinha acreditou e fez para mim chá de erva cidreira com limão e fritou seus deliciosos "bolinhos de chuva com bananas"  A chuva apertou e tranformou-se em "toró" com o cair da noite. Fiquei com medo, pois a casa de meus avós era encostada a um córrego e quando dava enchente, a casa ficava inundada. Desandei a chorar, apavorado pela chuva e também pela mentira. Tanto que acabei por adormecer.
 Minha "nonna" ajeitou-me no velho bercinho que serviu a todos os seus 11 filhos (inclusive a meu pai) e ficou aguardado meus pais chegarem. E eles chegaram... Furiosos quando me viram, pois já haviam rodado as casas de todos os parentes, inclusive da professorinha, à minha procura. Meu pai Paschoal arrancou-me do berço e quis bater em mim, alí mesmo, mas o "nonno Beponne" não deixou: "Lascia il bambino, Pascuale! Poverino, stà a dormire!"                      
  Mas que nada, levou-me debaixo de chuva mesmo e enfiou-me na Chevrolet 54, ruminando "juras de vingança". Chegando em casa, enquanto meu pai guardava o veículo e fechava o portão, mamãe, apavorada, enfiou-me na cama, cobriu-me com vários travesseiros e jogou por cima um cobertor bem grosso (ainda bem que estava muito frio naquela noite), recomendando: "Cubra a cabeça e grita feito um cabrito toda vez que ele der as pancadas".
 O velho entrou espumando, com o relho de "rabo-de-tatu" na mão (era uma espécie de chicote de bater em animais) e iniciou a pancadaria. A raiva era tanta que nem percebeu o subterfúgio armado pela extremosa mãezinha. Salvo uma ou outra fisgada nas orelhas, saí-me ileso mas o susto foi tão grande que acordei de manhã com febre de 40º e como "prêmio", não pude ir à escola por uns três dias.
 Nunca mais vesti o maldito terninho de linho mas os bolinhos de chuva de minha avó, eu faço até hoje e copiem aí pois é muito fácil a receita:
BOLINHOS DE CHUVA COM BANANAS: 3 ovos inteiros; 3 colheres (sopa) de açúcar; 1 pitada de sal (1/2 colherinha de café); 1 copo de leite (mais ou menos); 1 colher (chá) de pó royal); 3 bananas bem maduras em rodelas e farinha de trigo até o ponto de pegar com a colher e pingar na gordura quente (ajudando a empurrar com os dedos). Fritar e escorrer. Se preferir, troque as bananas por pedacinhos finos de goiabada.
Salpicar bastante açúcar e canela. Espere chover e sirva com chá ou café.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

OS BOMBEIROS E O BOLO


 No Reveillon de 2001, estava nos Estados Unidos, na casa de minha filha. Havia dias que nevava e ventava muito, fazendo um "frio de congelar rabo de cachorro!" Fui incumbido de preparar o assado e a sobremesa para a ceia de "Ano Novo"e logo de manhã comecei os preparativos. Enquanto eu assava o bolo, saia a todo momento para fumar (sou inveterado) e admirar os enormes flocos de neve que caiam mansamente.
Antes de sair para o trabalho, minha filha deu-me duas recomendações: não falar com os vizinhos pois que eles não se "bicavam" e tomar cuidado com o sistema de alarme pois qualquer fumaça ou calor maior acionaria o corpo de bombeiros e se o alarme fosse falso, teríamos que pagar uma multa de 300 dólares.


(OLHEM O BOLO E AO FUNDO O MAÇO DE MALBORO LIGHT)

Lá pelo meio dia, o bolo já estava pronto, lindo, todo enfeitado com glacê e morangos. Coloquei-o numa bancadinha de granito, bem debaixo da vidraça da cozinha e fui cuidar do assado. Liguei o forno no máximo pois o pernil era dos grandes e saí para fumar novamente. Por lá é costumeiro ter duas portas  na cozinha, uma de madeira e outra "mosquiteiro". Como as tragadas seriam rápidas, saí sem o casaco, apenas com um cachecol. Aconteceu que a porta se fechou, com o trinco de trava virado e lá fiquei eu trancado prá fora, num frio de 30 graus negativos.
 "Maldito vício, e agora, que fazer?!" Forcei todas as portas e janelas mas estavam perdidamente cerradas para mim. Tentei  proteger-me num chalezinho do quintal onde meu genro guarda seus apetrechos esportivos mas, sem aquecimento, era mais frio que lá fora.
 Sai pela rua e entrei no Duty Free  da esquina. Comprei um Malboro Light,  tomei um café horroroso servido num copo enorme e fiz horas por alí até quando a dona começou a olhar feio. Saí, mesmo porque não tinha mais dinheiro para comprar nada.
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Bem; encurtando a estória, depois de umas três horas fiquei desesperado pois os pés estavam formigando, o nariz e orelhas não podiam ser tocados com perigo de se quebrarem. Olhei para o pequeno vitrô da cozinha e pensei: é melhor comprar outra janela que morrer congelado. No momento em que ia bater a barra de ferro na vidraça, ação que iria me salvar mas inevitavelmente, destruir meu bolo que estava bem embaixo, ouvi o alarme disparando: "Meu Deus, o assado deve estar queimando e enfumaçando a cozinha!"


 Assim como Marta, eu pensei, abaixando o ferro: "relaxe e goze..." Em questão de minutos os bombeiros (eram em seis) chegaram, naquele estardalhaço. Antes que esticassem as mangueiras, consegui explicar o ocorrido. Com suas ferramentas, abriram a porta, desligaram o alarme e acionaram o sistema de ventilação. Antes que eles me dessem uma lição de moral ou multa, ofereci um pedaço do bolo que realmente tinha uma aparência apetitosa. 


Não só aceitaram como devoraram quase o bolo inteiro.
Enquanto entrava na banheira de água quente pensei, aliviado: "Dessa eu me safei mas e agora, como fazer com a sobremesa?" Resolví fazer às pressas um pudim de claras e com as gemas, preparei um quindão que ficaram prontos quando os convivas já estavam chegando.


De qualquer forma foi um sucesso e vou passar as receitas:
 PUDIM DE CLARAS COM DAMASCOS: 12 claras; 24 colheres de açucar; 1 colher (chá) de pó royal; 2 colheres (sopa) rasas de maizena; damascos ou raspinhas de limão.  Bater as claras em neve (numa vasilha grande), colocar o açúcar aos poucos, o fermento, a maizena e os damascos (afervente-os, antes, em água com açucar e bata no liquidificador até formar uma massa) ou as raspinhas de limão. Bater bastante, por uns 10 minutos. Unte uma forma grande (de buraco no meio)com margarina e açúcar. Assar em "banho-maria" e desenformar ainda quente, espalhando por cima um creme de baunilha. Creme de baunilha:1/2 litro de leite; 1 gema desmanchada no leite frio; 4 colheres de açúcar, 4 ou 5 gotas de baunilha e 2 colheres de maizena desmanchada em um copo de leite frio e acrescentada à mistura um pouco antes da fervura. Mexer bem.
 QUINDÃO: 12 gemas mais dois ovos inteiros; 3 colheres cheias de manteiga ou margarina sem sal; 2 xícaras de açúcar; 1 pacote de coco ralado (ou Flococo). Misturar todos os ingredientes, sem bater e levar ao forno em forma untada com bastante manteiga e polvilhada com açúcar. Assar em "banho-maria"

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O BORBOLETA

 Sempre vou aos Estados Unidos, já que minha filha, genro e neta moram em NY.  Pena que o vôo de volta ao Brasil sempre é um verdadeiro suplício. São 3 horas de espera no aeroporto JFK, 9 horas de vôo, 1 hora para pegar as malas e 4 horas para chegar em casa, ufa!
 Pior é ficar sem fumar todo esse tempo e só comer sushi/sashimi and tea (Japan Airlines).    
                                                      
Bom, mas da última vez,  fiz um jantar na bela casa dos amigos Rovilso/Ritinha em Mont Vernon/NY para nossa despedida e o "prato de resistência" foi filé mignon ao molho madeira, além de um peixe de água salgada (pescado por ele na baia de NYC) que fiz grelhado.
Enquanto eu cozinhava, a conversa corria solta e ele contou-me uma caso muito engraçado sobre um conhecido dele, no interior de Minas, "doidinho de tudo", com um apelido bem apropriado.
 O Borboleta ganhou esse apelido ainda pequeno, quando caiu da goiabeira tentando imitar uma borboleta. Dai para frente ele ficou leso de raciocínio e, na adolescência, pirou de vez, a ponto de os familiares terem que interná-lo numa clínica de doentes mentais. 
Conta-se que ao chegar à clínica, o Borboleta que ia no banco do passageiro, desceu calmamente do carro e disse aos enfermeiros: "O doente está no banco de trás, ponham a camisa de força pois ele é perigoso!"
 O coitado do tio que o acompanhava viu-se às turras com dois enfermeiros marrudos, enquanto o verdadeiro doente escapolia-se. Após alguns meses de tratamento e remédios, Borboleta apresentou sensíveis melhoras e os parentes trouxeram-no de volta à casa. 
Para a comemoração prepararam um grande almoço na casa de uma tia, com toda a familia reunida e após a refeição, enquanto os demais cochilavam ou limpavam a cozinha, o Borboleta ficou na sala assistindo à TV.
  Bem acima do aparelho havia duas espadas cruzadas,  presas à parede e sem que alguém percebesse ele apoderou-se das armas e partiu para cima dos parentes, tentando furar todo mundo. 
Foi aquela gritaria, com gente pulando janela, subindo em armários ou correndo para a rua. Na casa ficaram somente o rapaz com a tia que escondeu-se atrás da geladeira. Quando o Borboleta avançou, ameaçadoramente, ela ajoelhou-se implorando: "Filho, não me mate não!"
 Calmamente ele abriu a geladeira, dizendo: "Não mato ninguém não, tia Alice!  Eu só peguei a espada prá cortar um pedacin do quejinn..." 
Coitado, passou mais um bom tempo na clínica de recuperação.


Mas, voltando ao assunto do jantar que fiz na casa de meu amigo mineiro, segue a receita que sempre faz sucesso do:
 FILé MIGNON AO MOLHO MADEIRA: Corte o filé em fatias bem grossas (mais ou menos dois dedos). Numa frigideira grande, derreta duas colheres (bem cheias de manteiga). Assim que começar a frigir, coloque as fatias de carne (três de cada vez). Espalhe um pouco de sal e pimenta do reino por cima, deixando fritar um pouco. Vire os bifes e nesse lado, espalhe novamente o sal e a pimenta. Os bifes nao podem fritar muito, devendo ser transferidos para uma vasilha tampada a medida que estiverem no ponto. Junte à frigideira um cálice de vinho Madeira (ou outro vinho tinto seco, de boa marca), 1 copo de água e champignons em fatias. Misture bem com uma colher de pau para o molho desgrudar da frigideira. Ao final, acrescente 1 colher de farinha de trigo diluída em 1 xícara (cha) de água (acrescente aos poucos, sempre mexendo com a colher de pau, até engrossar o molho). Despeje o molho sobre os filés e sirva de imediato, bem quente. Acompanha arroz branco e batata palha.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O VALDIR

  Nos Estados Unidos pela segunda vez, tive o privilégio de viajar , com o Valdir e seu irmão em um caminhão-carreta, percorrendo toda a costa leste daquele País, de Boston à Miami. 
Parávamos em todas as grandes cidades para a troca de carga, descanso ou apenas para um pequeno turismo.

Dois irmãos, amigos de minha filha que por lá moram há muitos anos, tinham uma pequena frota de caminhões e faziam fretes dos mais variados por todo o continente. Saímos de Boston sob intensa nevasca e chegamos à Flórida com um sol escaldante. A carreta é como um mini apt°, contendo fogão, frigobar, beliche, TV, computador e tudo o mais... menos banheiro. 


Para se fazer "xixí" era necessário um pequeno malabarismo, num saquinho plástico tipo "zip lock" (com a medida draconiana de 300 ml), em pé e com o veículo em movimento. 
 O saquinho, hermeticamente fechado, era atirado pela janela e antes mesmo de cair na neve, o líquido já congelava, tal era o rigor do frio.


Contou-me o Valdir que, certa vez, ao jogar o conteúdo pela janela, não percebeu que o vidro estava fechado. Resultado:  o saquinho estourou, esparramando-se o conteúdo por toda a sua roupa. Como estava sozinho ao volante tentou, com muito custo, trocar a roupa molhada e quando estava somente de ceroulas (americanos só usam "samba canção"), um guarda rodoviário parou o caminhão.


Foi constrangedor explicar para o policial o porquê da situação, ainda mais que os desenhos-tema de sua cueca eram variações sobre o coelho Pernalonga.


Durante todo o percurso (que durou 15 dias) comemos a mesma coisa: chickens (carne de frango) sob as mais variadas formas. A única refeição decente que tivemos foi numa reserva dos índios seminoles, na Flórida, à base de Aligator (crocodilo) e camarões. Do jacaré não trago lembranças mas dos camarões!!!! Portanto, anotem aí uma receita parecida que aprendi por aquí que me faz lembrar da de lá, a qual batizei de:
CAMARÕES SEMINOLES
 Duas dúzias de camarões grandes (VG) com casca; 4 colheres (sopa) de azeite de oliva; 4 colheres (sopa) de manteiga; 10 dentes de alho cortados em pedaços; 1 colher (sopa) de caldo limão; 10 gramas de ervas (sálvia, tomilho, manjericão. etc); 1 colher (sopa) rasa de páprica picante; 1 colher (chá) de gengibre ralada; 1 colher (chá) de ajinomoto e sal a gosto.
Modo de Fazer: Abra os camarões, fazendo um corte ao longo do dorso (se camarão tiver costas, dorso é costas), deixando-os com a casca. Pressione a parte chata para expor um pouco a carne dos camarões Tempere-os com a páprica, ajinomoto, sal, limão, ervas e gengibre.  
Numa grelha pré-aquecida, grelhe os camarões com a casca para cima por mais ou menos 5 minutos. Em uma frigideira pequena prepare o molho derretendo a manteiga com o azeite, em fogo baixo. Junte o alho, um pouco de sal e deixe cozinhar por uns 5 a 7 minutos ou até que o alho fique dourado. Despeje esse molho bem quente sobre os camarões e sirva acompanhado de arroz com Castanhas ( Colocar o arroz numa forma de buraco no meio, desenformar e arrumar no centro do prato, guarnecido com os camarões em volta.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A DAIDE

  ''Vamos Falar de saudade, que eu hoje estou prá chorar...” 
Assim cantava Nora Ney, grande sucesso do final dos anos 50 e inicio dos 60.

E é dessa época que me veem as melhores lembranças de minha querida irmã,  Maria Adelaide, cuja vida, há exatamente, dois anos, foi tragicamente ceifada sob as rodas de um veículo qualquer.

Lembro-me dela cuidando de nós, seus irmãozinhos mais novos, de uma forma extremamente carinhosa e alegre. Sempre cantando e sorrindo, dando-nos o banho diário, penteando nossos cabelos, vestindo-nos e levando-nos à Igreja ou para passeios.

Recordo, nitidamente, o dia em que me levou ao “Foto 5 minutos” para “tirarmos” o retrato que ilustra esta crônica. Para frustrar sua intenção, eu peguei uma tesoura e cortei um pedaço de minha franja (reparem o detalhe na foto), mas não houve desculpas e fui contrariado. Saí de cara feia, ainda mais por que ela não quis comprar-me um sorvete, alegando que  poderia sujar a camisa nova: _Só depois da foto!

Lá em casa, era chamada de “Maria Força e Luz” e ganhou esse apelido após ter subido em um banquinho para tentar consertar uma luminária da cozinha. Levou o maior choque, estatelando-se no chão, sob a vaia de todos os irmãos.

Após a adolescência, seus problemas começaram: Acometida de uma enfermidade auditiva, sofreu muito com as dores e seqüelas das cirurgias pelas quais passou. Casou-se com o único namorado que teve, separou-se ainda nova e voltou para casa com os três filhos pequenos, já com os transtornos que a atormentaram por muitos anos e que tanto fizeram sofrer, também a nós, que a amávamos tanto.

Não obstante seus males, os quais, muitas vezes, deixavam-na alienada da própria existência, era um ser humano maravilhoso e bondoso a ponto de doar tudo o que tinha para os mais necessitados. Fazia visitas diárias aos asilos, velórios, enfermos e  amigos. Pela cidade toda, levava a alegria de seu grande coração.

Sua religiosidade não tinha nada das convenções impostas e professava a espiritualidade de uma maneira própria e eclética, freqüentando, com a mesma fé, tanto as igrejas católicas como as evangélicas ou espiritualistas. Onde tinha hinos e orações, a Daide estava presente!

Foi, nesta vida, uma presença marcante para nós e para seus amigos, e creio que sua missão maior foi cumprida: três filhos e netos, exemplares e honrados, que nos deixou para engrandecer ainda mais seu nome e suas lembranças.
Em fim; ela não nos abandonou...apenas foi na frente!
 
Perdoem-me os leitores mas, pelo menos desta vez, não tenho crônicas divertidas para publicar pois só me ocorrem os versos que a Nora Ney cantava...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A BASSAM

  Certo dia cheguei na casa de minha sogra, em Paracatu e a encontrei atendendo um consulente. Era um japonês miudinho, muito cortês e sorridente, chamado Mario Okamura.
Enquanto ela traduzia os sortilégios e premonições das cartas, ele gravava tudo num pequeno aparelho portátil. 
O japonês, ou nissei, dizia ter uma fazenda no município e estava pensando em trazer seus pais e irmãos, que moravam em uma chácara em Jaboticabal/SP. Enquanto ele falava, não tirava os olhos da Carla, filha mais nova de minha sogra e solteira ainda. 
O baralho foi cortado, por três vezes até que  as cartas começaram a falar:“Você deve trazer apenas teus pais; se os irmãos vierem também, vão trazer-lhe infelicidades!”

 Enquanto a Carla servia um cafezinho, o japonês perguntou, ruborizado: “A Bassam quer trazer uma moça que gosta de mim, pra casar, será que vai dar certo?. 
Cibelle, percebendo a paquera cerrada entre a filha e o rapaz, perguntou quem era a Bassam.
“É minha mãe, ela acha que já passei do tempo de arranjar uma esposa e quer trazer a Mieko pra cá...” 

Mais  uma vez as cartas foram embaralhadas e abertas sobre a mesa: “Diga à dona Bassam que teu casamento está próximo e não será com japonesa e nem descendente. Vai ser com moça daqui mesmo.”

Quando o japonês foi-se embora eu ainda disse, intrigado: “Mas Cibelle, dessa vez você exagerou...Olha que o rapaz gravou tudo!” Minha sogra fez um muxoxo e afirmou: “Fica tranquilo que eu sei o que estou fazendo.”

 Daí a alguns dias, o Mario voltou meio preocupado dizendo que os bezerros da fazenda estavam doentes, com umbigos inflamados e diarréia e queria que ela fosse até a propriedade para benzer os animais. 
No dia seguinte lá foi ela mais a Carla na boléia da caminhonete do japonês, levando consigo seus unguentos milagrosos . 
Enquanto ela fazia as rezas secretas, o retireiro esfregava a solução de ervas nos animais. Carla e Mario saíram para conhecer a propriedade e quando voltaram já estavam de mão dadas e sorridentes.Mais uns dias de visitas e o namoro estava consolidado, com o maior apoio de minha sogra.

Quando Mario resolveu-se a buscar seus pais, minha cunhada foi junto, voltando de ônibus-leito, em companhia da futura sogra, a tal da Dona Bassam.
 Lá para o meio da noite, a senhora sentiu vontade de fazer xixi mas, quando, com muito custo, abriu a porta do minúsculo banheiro, deu um gritinho envergonhado e voltou, apressada, para a poltrona:
 “Tem outra japonesa lá dentro, né! E eu não aguento segurar, né!” 
 Percebendo o desassossego da mulher, minha cunhada acompanhou-a de volta ao WC. A porta estava apenas encostada e lá dentro não tinha ninguém; apenas um grande espelho que ia do teto ao chão. 
Mirando as duas imagens refletidas, Carla perguntou: ‘É aquela a japonesa que a senhora viu?”
Meio abobada a senhora balbuciou: “Nossa, eu confundi eu com eu mesma, né?!”

Aquilo serviu de piada por muitos anos e pouco tempo antes de se casar, minha cunhada descobriu que o Mario era apenas o administrador da fazenda de outros japoneses ricos. Mesmo assim o casamento se consumou e eles tiveram duas filhas lindas, mistura de sangue japonês com espanhol e italiano. 

Em fim: O japonês mentiu mas “as cartas não mentem jamais...”

Cibelle ensinou-me a fazer pão aromático de batatas muito saboroso.Vale a pena conferir.

 PÃES DE BATATAS E MANJERICÃO:  1 ½ kg de farinha de trigo; 50 gramas de fermento; 4 colheres de manteiga derretida; 1 colher (sopa) rasa de sal; 2 colheres (sopa) cheias de açúcar; 3 ovos inteiros; 1 kg de batatas (ou mandiocas), cozidas e amassadas ou espremidas; 2 colheres (sopa) de manjericão fresco, picado e leite morno (suficiente para dar o ponto de amassar o pão). Desmanchar o fermento em meia xícara de leite morno. Misturar com 1 colher de açúcar e 1 xícara de farinha. Deixar fermentar por uns 10 minutos. Acrescentar os demais ingredientes, aos poucos, sendo que o manjericão deve ser previamente misturado na manteiga derretida e morna. Amassar e sovar muito a massa, até ficar homogênea e leve. Deixar crescer por 1 hora. Enrolar os pães e deixar crescer até dobrar de tamanho. Pincelar com gemas ( 2 gemas desmanchadas em 1 colher de água). Assar em forno não muito quente.