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"Crenças e Desavenças" - Editora Baraúna
"Qual será o Sabor da crônica?" - Editora Baraúna
Cada título contém 40 crônicas e pequenos contos de pura alegria com o mesmo número de receitas "que dão certo". Pedidos através:
www.editorabarauna.com.br - www.livrariacultura.com.br - jbgregor@uol.com.br

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

UM CERTO REVEILLON

 "Nao há Mal que sempre dure e nem Bem que não se acabe" e o meu namoro com a Lurdinha,  para minha tristeza, uma noite se acabou e de uma forma cômico/trágica. Como já disse em outra ocasião, sempre gostei de bailes e dançar era e ainda é minha diversão preferida.

 Os chamados "Bailes do Reveillon" de hoje em dia, nem de longe fazem lembrar o charme e a importância que tinham esses eventos para nós, adolescentes dos anos 70. 

 A preparação começava semanas antes com a confecção dos colares brancos (de papel crepon) e das roupas que, obrigatoriamente, tinham que ser:  camisa solta, em cores claras com calças brancas para os homens e os os  vestidos longos, cheio de Strass prateados e brilhantes, para as mulheres.

 Naquele ano de 1970, o Baile aconteceria na sede social do Palmeiras. Minha prima, costureira, havia confeccionado para mim uma camisa azul claro e uma calça de cambraia de linho branca, bem apertada e com "boca de sino"(era moda na época).

Iríamos à pé até ao clube pois meu carro era meu guarda-chuva. Já, há dias, estava com problemas intestinais. Uma diarréia que remédio nenhum curava e mesmo assim fui, pois já tínhamos a mesa comprada e roupas prontas. Saí de minha casa, por volta das 22 horas, para apanhar a Lurdinha e na subida do "morro do São Lázaro", a vontade apertou... Começei a andar depressa mas não deu para segurar!

  Que desespero, meu Deus! Voltar para casa não podia, pois já estava longe. Chegar até a casa da namorada, nem pensar!

 Lembrei-me que minha prima, a costureira, morava bem perto e corri para lá mas ninguém atendeu à campainha. Pulei o muro e fui até o quintal. Enchi de água o tanque de lavar roupa, tirei a roupa e lavei-me com um sabão de cinzas que encontrei. 
A calça branca estava completamente perdida e fiquei alí, pelado, tremendo de frio, esperando ela chegar o que demorou umas três horas. Levou-me para casa e como já era tarde e nem roupa branca tinha mais, fui dormir.

 No outro dia soube que a Lurdinha, p... da vida comigo, foi ao baile, com alguns amigos. Dançou a noite toda e foi  lá que conheceu aquele que veio a ser seu futuro marido. Até hoje ela não sabe o motivo do meu "cano" mas se chegar a ler este "post" vai ficar sabendo, mais de trinta anos depois.

Bem, como é tradição servir lentilhas no Ano Novo, vou ensinar como se faz o meu arroz com lentilhas.

 ARROZ COM LENTILHAS:

Cozinhar as lentilhas (200 gramas), por 5 minutos, na pressão e reservar. Frite uma cebola, bem picadinha, até queimar (bem moreninha). Refogar o arroz nessa cebola, acrescentar a lentilha pré- cozida e temperar com sal. Juntar a água do cozimento da ervilha (se necessário acrescentar mais. Depois de desligado o fogo, espalhe cheiro verde bem picadinho.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

TRÊS MULHERES DE MINHA INFÂNCIA

(para quem ainda não a leu em meu livro)
  Naquele tempo, as crianças entravam para a escola somente após completarem 7 anos. Não existia maternal, prezinho e nem jardim da infância. Era direto para a primeira série e para a Cartilha Sodré, livro de alfabetização muito famoso, à época.
  A pata nada, pa-ta-pá, na-da, ná; O dado é da Dadá, da-do, dá; A macaca é má, ma-ca-ca, cá...
A autora dessa obra chamava-se Benedicta Stahl Sodré mas eu sempre pensei que fosse o Abreu Sodré, famoso deputado e governador de São Paulo, da antiga UDN/ARENA...
 Dona Elza Zogbi foi minha primeira professorinha, doce de criatura! Ela morava no centro da cidade, numa residência estilo mourisco que hoje percebo, não era tão grande assim. Mas para o menino da época, era um palacete. Pelo meu bom comportamento fui convidado para conhecer sua casa e compartilhar de seu chá da tarde. Mamãe vestiu-me com o terninho branco de linho da primeira comunhão, gravatinha borboleta e "brilhantina glostora" no cabelo (Meu Deus!).  
 Lá pelas 5 horas da tarde descia eu, sozinho, a rua "do feijão queimado" (por ali passavam todos os enterros e as donas de casa, a pretexto de assistirem à passagem fúnebre, deixavam queimar as panelas). 


 Havia chovido e pouco antes de chegar à Avenida, escorreguei na calçada de terra e cai sentado numa poça d`água. Fiquei com as mãos enlameadas e a bunda suja de barro. Sem saber o que fazer, começei a chorar (como era fácil chorar!). Não poderia me apresentar assim no chá de D. Elza e se voltasse pra casa, meus amigos que certamente estariam todos na rua àquela hora, iriam gozar de mim, vestido de anjo, sujo e chorando. Desci a Rua Olaia e fui direto para a casa de minha avó Vitta, nos consfins da Rua Riachuelo e quando lá cheguei, a chuva começou novamente.
 Menti para minha avó que minha mãe sabia que eu estava na casa dela e à noite viriam buscar-me.  A velhinha acreditou e fez para mim chá de erva cidreira com limão e fritou seus deliciosos "bolinhos de chuva com bananas"  A chuva apertou e tranformou-se em "toró" com o cair da noite. Fiquei com medo, pois a casa de meus avós era encostada a um córrego e quando dava enchente, a casa ficava inundada. Desandei a chorar, apavorado pela chuva e também pela mentira. Tanto que acabei por adormecer.
 Minha "nonna" ajeitou-me no velho bercinho que serviu a todos os seus 11 filhos (inclusive a meu pai) e ficou aguardado meus pais chegarem. E eles chegaram... Furiosos quando me viram, pois já haviam rodado as casas de todos os parentes, inclusive da professorinha, à minha procura. Meu pai Paschoal arrancou-me do berço e quis bater em mim, alí mesmo, mas o "nonno Beponne" não deixou: "Lascia il bambino, Pascuale! Poverino, stà a dormire!"                      
  Mas que nada, levou-me debaixo de chuva mesmo e enfiou-me na Chevrolet 54, ruminando "juras de vingança". Chegando em casa, enquanto meu pai guardava o veículo e fechava o portão, mamãe, apavorada, enfiou-me na cama, cobriu-me com vários travesseiros e jogou por cima um cobertor bem grosso (ainda bem que estava muito frio naquela noite), recomendando: "Cubra a cabeça e grita feito um cabrito toda vez que ele der as pancadas".
 O velho entrou espumando, com o relho de "rabo-de-tatu" na mão (era uma espécie de chicote de bater em animais) e iniciou a pancadaria. A raiva era tanta que nem percebeu o subterfúgio armado pela extremosa mãezinha. Salvo uma ou outra fisgada nas orelhas, saí-me ileso mas o susto foi tão grande que acordei de manhã com febre de 40º e como "prêmio", não pude ir à escola por uns três dias.
 Nunca mais vesti o maldito terninho de linho mas os bolinhos de chuva de minha avó, eu faço até hoje e copiem aí pois é muito fácil a receita:
BOLINHOS DE CHUVA COM BANANAS: 3 ovos inteiros; 3 colheres (sopa) de açúcar; 1 pitada de sal (1/2 colherinha de café); 1 copo de leite (mais ou menos); 1 colher (chá) de pó royal); 3 bananas bem maduras em rodelas e farinha de trigo até o ponto de pegar com a colher e pingar na gordura quente (ajudando a empurrar com os dedos). Fritar e escorrer. Se preferir, troque as bananas por pedacinhos finos de goiabada.
Salpicar bastante açúcar e canela. Espere chover e sirva com chá ou café.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

OS BOMBEIROS E O BOLO


 No Reveillon de 2001, estava nos Estados Unidos, na casa de minha filha. Havia dias que nevava e ventava muito, fazendo um "frio de congelar rabo de cachorro!" Fui incumbido de preparar o assado e a sobremesa para a ceia de "Ano Novo"e logo de manhã comecei os preparativos. Enquanto eu assava o bolo, saia a todo momento para fumar (sou inveterado) e admirar os enormes flocos de neve que caiam mansamente.
Antes de sair para o trabalho, minha filha deu-me duas recomendações: não falar com os vizinhos pois que eles não se "bicavam" e tomar cuidado com o sistema de alarme pois qualquer fumaça ou calor maior acionaria o corpo de bombeiros e se o alarme fosse falso, teríamos que pagar uma multa de 300 dólares.


(OLHEM O BOLO E AO FUNDO O MAÇO DE MALBORO LIGHT)

Lá pelo meio dia, o bolo já estava pronto, lindo, todo enfeitado com glacê e morangos. Coloquei-o numa bancadinha de granito, bem debaixo da vidraça da cozinha e fui cuidar do assado. Liguei o forno no máximo pois o pernil era dos grandes e saí para fumar novamente. Por lá é costumeiro ter duas portas  na cozinha, uma de madeira e outra "mosquiteiro". Como as tragadas seriam rápidas, saí sem o casaco, apenas com um cachecol. Aconteceu que a porta se fechou, com o trinco de trava virado e lá fiquei eu trancado prá fora, num frio de 30 graus negativos.
 "Maldito vício, e agora, que fazer?!" Forcei todas as portas e janelas mas estavam perdidamente cerradas para mim. Tentei  proteger-me num chalezinho do quintal onde meu genro guarda seus apetrechos esportivos mas, sem aquecimento, era mais frio que lá fora.
 Sai pela rua e entrei no Duty Free  da esquina. Comprei um Malboro Light,  tomei um café horroroso servido num copo enorme e fiz horas por alí até quando a dona começou a olhar feio. Saí, mesmo porque não tinha mais dinheiro para comprar nada.
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Bem; encurtando a estória, depois de umas três horas fiquei desesperado pois os pés estavam formigando, o nariz e orelhas não podiam ser tocados com perigo de se quebrarem. Olhei para o pequeno vitrô da cozinha e pensei: é melhor comprar outra janela que morrer congelado. No momento em que ia bater a barra de ferro na vidraça, ação que iria me salvar mas inevitavelmente, destruir meu bolo que estava bem embaixo, ouvi o alarme disparando: "Meu Deus, o assado deve estar queimando e enfumaçando a cozinha!"


 Assim como Marta, eu pensei, abaixando o ferro: "relaxe e goze..." Em questão de minutos os bombeiros (eram em seis) chegaram, naquele estardalhaço. Antes que esticassem as mangueiras, consegui explicar o ocorrido. Com suas ferramentas, abriram a porta, desligaram o alarme e acionaram o sistema de ventilação. Antes que eles me dessem uma lição de moral ou multa, ofereci um pedaço do bolo que realmente tinha uma aparência apetitosa. 


Não só aceitaram como devoraram quase o bolo inteiro.
Enquanto entrava na banheira de água quente pensei, aliviado: "Dessa eu me safei mas e agora, como fazer com a sobremesa?" Resolví fazer às pressas um pudim de claras e com as gemas, preparei um quindão que ficaram prontos quando os convivas já estavam chegando.


De qualquer forma foi um sucesso e vou passar as receitas:
 PUDIM DE CLARAS COM DAMASCOS: 12 claras; 24 colheres de açucar; 1 colher (chá) de pó royal; 2 colheres (sopa) rasas de maizena; damascos ou raspinhas de limão.  Bater as claras em neve (numa vasilha grande), colocar o açúcar aos poucos, o fermento, a maizena e os damascos (afervente-os, antes, em água com açucar e bata no liquidificador até formar uma massa) ou as raspinhas de limão. Bater bastante, por uns 10 minutos. Unte uma forma grande (de buraco no meio)com margarina e açúcar. Assar em "banho-maria" e desenformar ainda quente, espalhando por cima um creme de baunilha. Creme de baunilha:1/2 litro de leite; 1 gema desmanchada no leite frio; 4 colheres de açúcar, 4 ou 5 gotas de baunilha e 2 colheres de maizena desmanchada em um copo de leite frio e acrescentada à mistura um pouco antes da fervura. Mexer bem.
 QUINDÃO: 12 gemas mais dois ovos inteiros; 3 colheres cheias de manteiga ou margarina sem sal; 2 xícaras de açúcar; 1 pacote de coco ralado (ou Flococo). Misturar todos os ingredientes, sem bater e levar ao forno em forma untada com bastante manteiga e polvilhada com açúcar. Assar em "banho-maria"

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O BORBOLETA

 Sempre vou aos Estados Unidos, já que minha filha, genro e neta moram em NY.  Pena que o vôo de volta ao Brasil sempre é um verdadeiro suplício. São 3 horas de espera no aeroporto JFK, 9 horas de vôo, 1 hora para pegar as malas e 4 horas para chegar em casa, ufa!
 Pior é ficar sem fumar todo esse tempo e só comer sushi/sashimi and tea (Japan Airlines).    
                                                      
Bom, mas da última vez,  fiz um jantar na bela casa dos amigos Rovilso/Ritinha em Mont Vernon/NY para nossa despedida e o "prato de resistência" foi filé mignon ao molho madeira, além de um peixe de água salgada (pescado por ele na baia de NYC) que fiz grelhado.
Enquanto eu cozinhava, a conversa corria solta e ele contou-me uma caso muito engraçado sobre um conhecido dele, no interior de Minas, "doidinho de tudo", com um apelido bem apropriado.
 O Borboleta ganhou esse apelido ainda pequeno, quando caiu da goiabeira tentando imitar uma borboleta. Dai para frente ele ficou leso de raciocínio e, na adolescência, pirou de vez, a ponto de os familiares terem que interná-lo numa clínica de doentes mentais. 
Conta-se que ao chegar à clínica, o Borboleta que ia no banco do passageiro, desceu calmamente do carro e disse aos enfermeiros: "O doente está no banco de trás, ponham a camisa de força pois ele é perigoso!"
 O coitado do tio que o acompanhava viu-se às turras com dois enfermeiros marrudos, enquanto o verdadeiro doente escapolia-se. Após alguns meses de tratamento e remédios, Borboleta apresentou sensíveis melhoras e os parentes trouxeram-no de volta à casa. 
Para a comemoração prepararam um grande almoço na casa de uma tia, com toda a familia reunida e após a refeição, enquanto os demais cochilavam ou limpavam a cozinha, o Borboleta ficou na sala assistindo à TV.
  Bem acima do aparelho havia duas espadas cruzadas,  presas à parede e sem que alguém percebesse ele apoderou-se das armas e partiu para cima dos parentes, tentando furar todo mundo. 
Foi aquela gritaria, com gente pulando janela, subindo em armários ou correndo para a rua. Na casa ficaram somente o rapaz com a tia que escondeu-se atrás da geladeira. Quando o Borboleta avançou, ameaçadoramente, ela ajoelhou-se implorando: "Filho, não me mate não!"
 Calmamente ele abriu a geladeira, dizendo: "Não mato ninguém não, tia Alice!  Eu só peguei a espada prá cortar um pedacin do quejinn..." 
Coitado, passou mais um bom tempo na clínica de recuperação.


Mas, voltando ao assunto do jantar que fiz na casa de meu amigo mineiro, segue a receita que sempre faz sucesso do:
 FILé MIGNON AO MOLHO MADEIRA: Corte o filé em fatias bem grossas (mais ou menos dois dedos). Numa frigideira grande, derreta duas colheres (bem cheias de manteiga). Assim que começar a frigir, coloque as fatias de carne (três de cada vez). Espalhe um pouco de sal e pimenta do reino por cima, deixando fritar um pouco. Vire os bifes e nesse lado, espalhe novamente o sal e a pimenta. Os bifes nao podem fritar muito, devendo ser transferidos para uma vasilha tampada a medida que estiverem no ponto. Junte à frigideira um cálice de vinho Madeira (ou outro vinho tinto seco, de boa marca), 1 copo de água e champignons em fatias. Misture bem com uma colher de pau para o molho desgrudar da frigideira. Ao final, acrescente 1 colher de farinha de trigo diluída em 1 xícara (cha) de água (acrescente aos poucos, sempre mexendo com a colher de pau, até engrossar o molho). Despeje o molho sobre os filés e sirva de imediato, bem quente. Acompanha arroz branco e batata palha.