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"Crenças e Desavenças" - Editora Baraúna
"Qual será o Sabor da crônica?" - Editora Baraúna
Cada título contém 40 crônicas e pequenos contos de pura alegria com o mesmo número de receitas "que dão certo". Pedidos através:
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domingo, 25 de setembro de 2011

TRÊS MULHERES DE MINHA INFÂNCIA (repito essa crônica, para quem ainda não a leu!(



  Naquele tempo, as crianças entravam para a escola somente após completarem 7 anos. Não existia maternal, prezinho e nem jardim da infância. Era direto para a primeira série e para a Cartilha Sodré, livro de alfabetização muito famoso, à época.


  A pata nada, pa-ta-pá, na-da, ná; O dado é da Dadá, da-do, dá; A macaca é má, ma-ca-ca, cá...
A autora dessa obra chamava-se Benedicta Stahl Sodré mas eu sempre pensei que fosse o Abreu Sodré, famoso deputado e governador de São Paulo, da antiga UDN/ARENA..
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 Dona Elza Zogbi foi minha primeira professorinha, doce de criatura! Ela morava no centro da cidade, numa residência estilo mourisco que hoje percebo, não era tão grande assim. Mas para o menino da época, era um palacete. Pelo meu bom comportamento fui convidado para conhecer sua casa e compartilhar de seu chá da tarde. 
Mamãe vestiu-me com o terninho branco de linho da primeira comunhão, gravatinha borboleta e "brilhantina glostora" no cabelo (Meu Deus!). 

 Lá pelas 5 horas da tarde descia eu, sozinho, a rua "do feijão queimado" (por ali passavam todos os enterros e as donas de casa, a pretexto de assistirem à passagem fúnebre, deixavam queimar as panelas).



 Havia chovido e pouco antes de chegar à Avenida, escorreguei na calçada de terra e cai sentado numa poça d`água. Fiquei com as mãos enlameadas e a bunda suja de barro. Sem saber o que fazer, começei a chorar (como era fácil chorar!). 


Não poderia me apresentar assim no chá de D. Elza e se voltasse pra casa, meus amigos que certamente estariam todos na rua àquela hora, iriam gozar de mim, vestido de anjo, sujo e chorando. Desci a Rua Olaia e fui direto para a casa de minha avó Vitta, nos consfins da Rua Riachuelo e quando lá cheguei, a chuva começou novamente.


 Menti para minha avó que minha mãe sabia que eu estava na casa dela e à noite viriam buscar-me.  A velhinha acreditou e fez para mim chá de erva cidreira com limão e fritou seus deliciosos "bolinhos de chuva com bananas"  


A chuva apertou e tranformou-se em "toró" com o cair da noite. Fiquei com medo, pois a casa de meus avós era encostada a um córrego e quando dava enchente, a casa ficava inundada. Desandei a chorar, apavorado pela chuva e também pela mentira. Tanto que acabei por adormecer.


 Minha "nonna" ajeitou-me no velho bercinho que serviu a todos os seus 11 filhos (inclusive a meu pai) e ficou aguardado meus pais chegarem. E eles chegaram... Furiosos quando me viram, pois já haviam rodado as casas de todos os parentes, inclusive da professorinha, à minha procura. 
Meu pai Paschoal arrancou-me do berço e quis bater em mim, alí mesmo, mas o "nonno Beponne" não deixou: "Lascia il bambino, Pascuale! Poverino, stà a dormire!"        
              
  Mas que nada, levou-me debaixo de chuva mesmo e enfiou-me na Chevrolet 54, ruminando "juras de vingança". Chegando em casa, enquanto meu pai guardava o veículo e fechava o portão, mamãe, apavorada, enfiou-me na cama, cobriu-me com vários travesseiros e jogou por cima um cobertor bem grosso (ainda bem que estava muito frio naquela noite), recomendando: 
"Cubra a cabeça e grita feito um cabrito toda vez que ele der as pancadas".


 O velho entrou espumando, com o relho de "rabo-de-tatu" na mão (era uma espécie de chicote de bater em animais) e iniciou a pancadaria. A raiva era tanta que nem percebeu o subterfúgio armado pela extremosa mãezinha
Salvo uma ou outra fisgada nas orelhas, saí-me ileso mas o susto foi tão grande que acordei de manhã com febre de 40º e como "prêmio", não pude ir à escola por uns três dias.


 Nunca mais vesti o maldito terninho de linho mas os bolinhos de chuva de minha avó, eu faço até hoje e copiem aí pois é muito fácil a receita:


BOLINHOS DE CHUVA COM BANANAS: 3 ovos inteiros; 3 colheres (sopa) de açúcar; 1 pitada de sal (1/2 colherinha de café); 1 copo de leite (mais ou menos); 1 colher (chá) de pó royal); 3 bananas bem maduras em rodelas e farinha de trigo até o ponto de pegar com a colher e pingar na gordura quente (ajudando a empurrar com os dedos). Fritar e escorrer. Se preferir, troque as bananas por pedacinhos finos de goiabada.
Salpicar bastante açúcar e canela. Espere chover e sirva com chá ou café.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A TIA - 2ª PARTE


  Descobri o nome das três morenas da paineira:  Alzira, Elmira e Elvira. A do meio é a Tia.
No último aniversário do Ciro Ney, nós fizemos Tia Elmira tomar quase uma garrafa inteira de cachaça. Até colamos, no rótulo da bebida, um papel escrito: "da Tia". E ela bebeu... a noite toda! 
Disse-nos que estava chateada pois seu dia havia sido muito complicado, por força das limitações que a idade lhe impunha e pela  incompreensão das pessoas.


Após meia garrafa de cachaça, ela contou-nos a razão de suas mágoas: Naquela manhã ela acordara bem contente, pois iria almoçar na casa do Landão, um antigo amigo. Estranhou o fato de estar sem a dentadura de cima e não se lembrava de tê-la tirado para dormir. 


 Procurou na gaveta do criado mudo, na penteadeira, na pia do banheiro e nada!! Desesperada, ligou para o amigo, mentiu que estava com uma forte enxaqueca e cancelou o almoço: Jamais sairia sem dentadura...
Mais tarde, quando foi arrumar e alisar as cobertas da cama, sentiu algo saliente. 


Era a dentadura que escapara de sua boca, enfiando-se num buraco do velho edredom. Retornou  para o Landão, confirmando sua presença, "já que a enxaqueca havia passado."


 O amigo serviu feijoada e tomaram várias caipirinhas. A sobremesa foi uma espécie de torta de chocolate, chamada Tiramissú, deliciosa mas que, definitivamente, não combina com feijoada e cachaça!
De repente, a dor de barriga apertou... 


Percebendo que a "explosão" seria terrível, não quis usar o banheiro de Landão e foi despedindo-se às pressas. Morava no final da avenida mas, já no começo, sabia que não daria tempo de chegar.
 Pelo meio do caminho, entrou numa loja das Casas Pernambucanas, mas a balconista ruiva, "com unhas de puta", foi categórica:
 _ O toilette é só para funcionários!


Percebendo que não adiantava insistir, branca como os lençóis que a balconista dobrava, Tia Elmira saiu da loja, cambaleante:  _ Meu Deus, não vou aguentar!


  Um pouco mais adiante, ela topou com uma jovem, com roupas de enfermeira que saía de sua casa, com as chaves na mão. Enquanto a moça encostava o portãozinho do corredor, a Tia agarrou seus braços, desesperada: _ Filha, pelo amor de Deus! Deixe-me usar teu banheiro?


_ Ah, larga do meu braço sua velha doida! Eu já estou atrasada e não vou abrir a casa para ninguém... 


A Tia, com as pernas cruzadas e as mãos na barriga, ainda insistiu: _ Por favor, estou quaze fazendo nas calças! A enfermeira respondeu-lhe com a bunda e assim que dobrou a esquina, Tia Elmira empurrou o portãozinho e correu para uma pequena varanda, no fundo do quintal.


Agachou-se e foi aquela pororóca! Sentiu até os pelos dos braços arrepiarem-se de tanto alívio. Como não achou papel, limpou-se com um lençol branco que encontrara no varal. Saindo dalí, retornou à Loja da Pernambucanas e procurou a mesma balconista ruiva que lhe recusara o toillete. 


Pegue para mim dois lençóis brancos, dos mais caros que tiver na loja.


Após a venda, a moça perguntou-lhe: _ A senhora vai usar o crediário?
A Tia, com ar de desdém, respondeu-lhe: _ Não, filha... eu compro com cartões de crédito. Quem usa crediário são as balconistas ou enfermeiras!


Pediu papel e caneta emprestados, escreveu um bilhete e voltou à casa da enfermeira. Olhou para a varanda e riu-se do estrago que aprontara. 
 Estendeu os dois lençóis novos no varal e deixou, preso ao arame, o seguinte recado: 
_ Sou velha, mas honesta!!


Tudo bem, não deveria mas...vou deixar a receita da sobremesa italiana:


  TIRAMISSU: 4 ovos; 4 colheres de açúcar; 300 gramas de requeijão firme (mascarpone); 1 lata de creme de leite (sem soro); 1 pacote de biscoito champagne; 1 colher (de chá) de baunilha; 1 colher (sopa) de licor de cacau ou brandy; 1 xícara grande de café e 100 gramas de chocolate meio amargo raspado ou chocolate em pó.
Bater as gemas com o açúcar, adicionar o requeijão, o creme de leite e bater mais. Misturar com as claras em neve, até ficar um creme uniforme. Juntar o licor (ou brandy) ao café, molhando os biscoitos nessa mistura. Forrar uma travessa com os biscoitos molhados e espalhar metade do creme por cima. Dispor outra camada de biscoitos e o resto do creme. Alisar bem e espalhar o chocolate (raspado ou em pó). Levar à geladeira.