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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

DONA NATÉRCIA

 Dona Natércia aposentou-se do GEIPOT (um órgão público, em Brasília, que servia não sei prá quê) e foi morar em um sítio em Santo Antonio do Descoberto, à 3 horas de viagem de Brasília. Literalmente, arrastou seu marido junto e lá foram viver. 
Seu marido, Lourenço, era um sargento reformado do exército, em plena forma física mas completamente submisso à esposa, goiana forte e decidida.

 No sítio tudo era muito tosco mas eles gostavam de viver assim: pé no chão, fogão à lenha, roça de milho, água de mina, sem telefone, queijo caseiro, gerador de eletricidade, etc.


 Íamos sempre prá lá nos feriados e finais de semana e a primeira coisa que eu fazia era ir ao galinheiro pegar um frango e catar pequí para que ela fizesse seu famoso "frango caipira com pequí".  Perguntei à ela por que seus frangos eram todos pretos (davam um trabalho para limpar!): 
"Juão (era assim seu sotaque), pinto branco o gavião enxerga de longe e não sobra um prá contar estória..."


Certo dia, ao chegarmos ao sítio, encontramos uma nova moradora e D. Natércia foi logo apresentando: "Juão, essa aí é a Núbia. A mãe deu ela pra mim pois está numa idade perigosa e os primos já estavam dando em cima dela." 
Peguei na mão da moça, uma bugrinha de uns 15 a 16 anos muito bonita, de uma cor acobreada e longos cílios pretos. Ao apertar suas mãos senti que elas queimavam e apesar de manter o olhos abaixados, percebi que lançavam faíscas.
 Mais tarde comentei com a dona da casa: "D. Natércia, a senhora não tem medo que a menina arrume algum rolo?" 
Ela deu de ombros e falou: "Que nada, eu estou dando salitre pra ela tomar e acalmar o fogo; de mais a mais, por aquí não tem homem pra assanhar ela." 
Eu redargui, malicioso: "E o Lourenço, não é homem!? 
Ela fez um muxoxo de escárnio: "Aquele ali, coitado, já é gavião sem bico... se não dá conta nem de mim, como vai aguentar ela mais eu!." 


Bem, naquela noite fomos dormir  por volta de nove horas, pois lá não existia jornal nacional e nem novelas. Por medida de segurança, a moça dormia num cômodo externo, próximo ao banheiro e durante a madrugada, sentindo vontade de fazer "xixi", fui lá fora. 
Percebi luz no quartinho da Núbia e ouvi sussurros.
  Não resisti à vontade de espiar pelas frestas da velha porta e para minha surpresa, visualizei dois corpos, em pé, agarrados. 
Pensei, admirado: "Meu Deus, algum dos primos veio pelo faro!" 
Olhando com mais atenção, vi que o cara ainda estava de cuecas, daquelas tipo "samba canção", compridas, folgadas e de listras azuis e brancas. Como não tenho vocação para voyer, voltei para a cama.


No dia seguinte, enquanto D.Natercia lavava a roupa, eu e o Lourenço ficamos na varanda, conversando e observando a mulher trabalhar.
 De repente, no varal cheio de roupas recém lavadas, percebi a cueca de listras azuis e brancas e, num rompante perguntei: 
"Lourenço, aquela cueca é tua?" 
Ele respondeu: "É minha, sim, porquê?" 
Fiquei meio constrangido mas consegui acrescentar: "Você não tem vergonha de usar uma coisa feia daquela!?" O safado ainda fez um comentário malicioso: 
"Eu gosto de cuecas bem folgadas pois pinto sôrto cresce mais depressa..."


Das outras vezes que lá voltei, nunca mais vi a Núbia e nem me atrevi a perguntar de seu paradeiro...


Aprendi a fazer muita coisa com D. Natércia, como queijo cozido com ervas, pão de queijo, broa de fubá, capivara, pratos com pequi, etc e vou passar uma receita bem prática e gostosa:


  ROSCA DE NÓZ MOSCADA: Bater, no liquidificador 1 lata de leite condensado; 4 tabletes de fermento fleschman (mais ou menos 60 gr); 1 copo de água morna; 5 ovos inteiros; 1/2 copo de óleo; 1 colher (sobremesa) de sal e 1/2 nóz moscada ralada. Misturar, numa bacia grande com a farinha de trigo (1 kg mais ou menos), aos poucos, até desgrudar das mãos. Sovar bastante para ficar leve e macia. 
Deixar crescer até dobrar o tamanho (1 hora, mais ou menos). Cortar a massa em 4 porções e dividir cada porção em três, enrolandos-as em forma de cobra e fazendo as tranças (vide foto). 
Deixar crescer novamente até dobrar de tamanho. Pincelar cada rosca com uma mistura de 2 gemas, 2 colheres de água ou café e 1 colher de açúcar. Polvilhar as roscas com açúcar cristal e levá-las para assar em forno moderado.