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"Crenças e Desavenças" - Editora Baraúna
"Qual será o Sabor da crônica?" - Editora Baraúna
Cada título contém 40 crônicas e pequenos contos de pura alegria com o mesmo número de receitas "que dão certo". Pedidos através:
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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A TIA - 1ª PARTE


Prá falar a verdade, no momento, esqueci-me do nome dela. Mas é Tia da Marlene, mulher do Ciro Ney, meus amigos. Aliás, nós todos a chamamos por Tia e ela é uma figura ímpar, umverdadeiro barato!
 Muito embora já tenha passado a casa dos setenta, é uma mulher vaidosa e bem bonitona. Não aparenta a idade que tem... Disse-nos que na juventude, ela e as irmãs foram famosas bela beleza. Eram conhecidas como as "morenas da paineira", pois moravam numa chácara, pertinho da cidade e na porteira de entrada, havia uma árvore dessa, bem grande.


Pelo gosto do pai, elas deveriam casar-se com doutores ou fazendeiros e preparou-as para isso. Todas sabiam tocar piano, receberam aulas de etiqueta e falavam o francês fluentemente. Mas, designos do destino... nada disso aconteceu! A mais velha casou-se com um violeiro, a Tia, com um caminhoneiro e a mais nova, tornou-se professora e solteirona.


 A mulher do violeiro ficava acordada, noites e mais noites, à espera do marido, o qual, invariavelmente, chegava bêbado e com a viola fora do saco. E,ai dela, se reclamasse! Levava violada na cabeça... Bebeu tanto, até morrer com cirrose hepática.


O marido da Tia era um romântico e ela, apaixonada, não se cansava de elogiar o maridão. Sujeito trabalhador, passava semanas e semanas na estrada, a fim de trazer conforto para ela e aos filhos! 


 Toda a vez que retornava de Belém do Pará, trazia-lhes pupunha, cupuaçu, açaí e outras frutas típicas daquelas terra.
O que ela não sabia é que quando ele para lá voltava, também levava jabuticabas, uvas, pinhão e goiabada cascão para a família que mantinha em Belém: mulher e dois filhos...


Acabaram contando para ela e a Tia ficou desarvorada, sem saber o que fazer. A irmã solteirona dizia-lhe para abandonar o marido. A viúva, aconselhava: "Fica com ele, pois eu sei o que é solidão... É melhor dividir um bife do que comer agrião!"


Mulher ferida não raciocina e... o homem foi-se embora. A coitada ficou com uma pensão tãomerreca, que mal dava para pagar o aluguel. Aos poucos, vendeu tudo o que tinha

De valor, mesmo, só lhe restaram o fusca vermelho e um anel de brilhantes. Já no fim do poço, a irmã deu-lhe a idéia: 
 "Vamos até Aguaí, lá tem um macumbeiro dos bons e com a a ajuda dele, teu marido volta para casa. Foi ele quem fez meu finado parar de beber..."


A Tia estranhou aquele papo: "Mas, se teu marido morreu com cirrose?!" A irmã ponderou: É, morreu... mas, uns dias antes, ele tinha largado da bebida!


 O "pai de santo" afirmou-lhe que o marido voltaria para casa, dentro de três semanas, em troca do anel de brilhante que ela trazia no dedo. Ela concordou e aguardou. Passaram-se duas, três, quatro semanas e... nada!


De volta à Aguaí, dessa vez, o homem conduziu-as a um ranchinho no quintal, cheio de imagens com chifres e capas vermelhas: _ É, minha filha, os exús de Belém são bem fortes! A outra mulher fez um trabalho dos grossos, para segurar teu marido. Vai ser preciso muito dinheiro para quebrar as correntes. Quanto você pode pagar?


Acabou deixando o fusca, levando a promessa de que, antes de dois meses, o marido estaria entrando em sua casa: _ E pela porta da sala!


Numa tarde, lá pela hora da "Ave-Maria", a Tia viu estacionar à porta, uma perua de resgate. Dois homens entraram pela porta da sala, transportanto o corpo de seu marido. O caminhão, carregado de laranjas, havia tombado numa curva, próxima à Atibaia e o único endereço que encontraram nos documentos do acidentado, foi aquele, o da casa da Tia.


Dessa vez, a macumba deu certo e, naquele momento, veio-lhe à mente, as palavras do "pai de santo": _ Muito cuidado com o que pedes aos espíritos, pois eles poderão atender-lhe...
Acho que aí no texto, eu falei sobre pinhão e então, lembrei-me dessa receita muito boa:


 ARROZ MORENO COM PINHÕES: 2 copos de arroz4 colheres (sopa) de óleo, 4 dentes de alho picados, 1 cebola pequena picadinha, sal, água e pinhões (já cozidos e cortados em lâminas bem finas). Lave o arroz e espere secar bem. Frite no óleo a cebola e o alho, até ficarem queimados. Junte os pinhões e frite mais um pouco. Acrescente o sal (pouco) e o arroz. Misture até ficar moreninho. Junte a água fervente, abaixe o fogo e espere secar.
Não tenha medo de queimar, pois o segredo está aí. Use pouco sal, pois o sabor fica a cargo do alho e da cebola queimados.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A CÍCERA 2ª PARTE

 Gente, como esse povo do sertão gosta de "bater uma prosa"! Conversas sem compromisso, entremeadas de risadas e besteiras. Nada melhor para desopilar o fígado de qualquer cristão estressado.
Infelizmente as pessoas da cidade não sabem mais o que é isso, pois a televisão e a Internet acabaram com tudo o que era  saudável em matéria de relacionamentos.


Um bom papo à luz de uma lamparina à querosene, ou candeeiro à base de carbureto, são coisas de lembranças apenas. _ Não sabem o que vem a ser isso? Azar de vocês...

Naquela noite, em que a mulher dormiu fora, Seu Jerônimo ficou contando causos até altas horas, enquanto comíamos porções de carne seca com paçoca e manteiga da terra.


   Quando a Cícera voltou, no domingo, toda feliz , pois que recebera o "negócio" inteiro do cavalo, ainda fez um almoço para nós. Meio tardio, pois até matar o frango e cozinhar o feijão já era umas quatro da tarde. Mas, valeu a pena: frango refogado com cambuquira de jerimum, farofa, arroz e feijão, depois de duas ou três doses de pinga... divino!


Pelo menos foi esse o adjetivo que meu amigo Ovídio usou para elogiar os dotes culinários da Tia Ciça. De minha parte, comi só a farofa com arroz e feijão, não tocando no frango. Lembrei-mo do primeiro dia, quando chegamos: eu estava faminto e praticamente devorei o frango com pirão que a boa mulher já havia preparado, a nossa espera. 


 Comi tanto que me deu dor de barriga e meio envergonhado, perguntei ao Sr. Jerônimo onde ficava o banheiro.


Foi a mulher quem me respondeu: _Fica logo alí fora, Dr. João... _ ela me julgava importante. _Mostra o cajueiro pra ele, Jerônio! Péga o papér que tá na dispensa...


À caminho do cajueiro, levando algumas folhas de papel de embrulhar pão, eu ouvia, espantado, as instruções de Seu Jerônimo: _O doutor fica de cóqui (cócoras), no gáio mais grosso e gruda as mãos no gáio de cima.


. Enquanto eu seguia para a privada ecológica, percebi que várias galinhas vinham atrás de mim.



 Rapaz... foi um Deus nos acuda! 
Quando me ajeitei nos galhos, resolvi olhar para baixo: a galinhada estava de bicos escancarados, "esperando a morte chegar" e pulando... na tentativa de me acertar. Corri a esconder minhas vergonhas com as mãos e pensei: _ Se um frango desses me leva as bolas no bico, amanhã vai ter futebol na caatinga!!!


 Voltei para a casa, com as folhas de papel intactas e somente tornei ao cajueiro quando já era noite alta. Daí pude observar, sossegado, como é belo o luar do sertão...


E agora...que receita colocar?!
Ia passar uma receita de compota de caju que aprendi em Cuiabá mas, é difícil de explicar. Portanto segue esta receita que é muito boa.


  ARROZ COM CASTANHAS DE CAJU:
3 xícaras (chá) de arroz; 1 xícara (chá) de castanhas de cajú moidas grosseiramente; 4 colheres (sopa) de margarina e 4 colheres de uvas passas pretas, sem caroço.
Cozinhe o arroz normalmente, com água fervente, alho e sal mas, deixe-o bem soltinho. À parte, frite, na manteiga a castanha de caju até ficar crocante (mais ou menos 7 minutos). Acrescente as passas e frite mais um pouquinho (até elas ficarem cheinhas). Misture tudo ao arroz, delicadamente e espalhe cheiro verde por cima.