
Enquanto ela traduzia os sortilégios e premonições das cartas, ele gravava tudo num pequeno aparelho portátil.
O japonês, ou nissei, dizia ter uma fazenda no município e estava pensando em trazer seus pais e irmãos, que moravam em uma chácara em Jaboticabal/SP. Enquanto ele falava, não tirava os olhos da Carla, filha mais nova de minha sogra e solteira ainda.
O baralho foi cortado, por três vezes até que as cartas começaram a falar:“Você deve trazer apenas teus pais; se os irmãos vierem também, vão trazer-lhe infelicidades!”

Cibelle, percebendo a paquera cerrada entre a filha e o rapaz, perguntou quem era a Bassam.
“É minha mãe, ela acha que já passei do tempo de arranjar uma esposa e quer trazer a Mieko pra cá...”
Mais uma vez as cartas foram embaralhadas e abertas sobre a mesa: “Diga à dona Bassam que teu casamento está próximo e não será com japonesa e nem descendente. Vai ser com moça daqui mesmo.”
Quando o japonês foi-se embora eu ainda disse, intrigado: “Mas Cibelle, dessa vez você exagerou...Olha que o rapaz gravou tudo!” Minha sogra fez um muxoxo e afirmou: “Fica tranquilo que eu sei o que estou fazendo.”

No dia seguinte lá foi ela mais a Carla na boléia da caminhonete do japonês, levando consigo seus unguentos milagrosos .
Enquanto ela fazia as rezas secretas, o retireiro esfregava a solução de ervas nos animais. Carla e Mario saíram para conhecer a propriedade e quando voltaram já estavam de mão dadas e sorridentes.Mais uns dias de visitas e o namoro estava consolidado, com o maior apoio de minha sogra.
Quando Mario resolveu-se a buscar seus pais, minha cunhada foi junto, voltando de ônibus-leito, em companhia da futura sogra, a tal da Dona Bassam.
Lá para o meio da noite, a senhora sentiu vontade de fazer xixi mas, quando, com muito custo, abriu a porta do minúsculo banheiro, deu um gritinho envergonhado e voltou, apressada, para a poltrona:
“Tem outra japonesa lá dentro, né! E eu não aguento segurar, né!”

Mirando as duas imagens refletidas, Carla perguntou: ‘É aquela a japonesa que a senhora viu?”
Meio abobada a senhora balbuciou: “Nossa, eu confundi eu com eu mesma, né?!”
Aquilo serviu de piada por muitos anos e pouco tempo antes de se casar, minha cunhada descobriu que o Mario era apenas o administrador da fazenda de outros japoneses ricos. Mesmo assim o casamento se consumou e eles tiveram duas filhas lindas, mistura de sangue japonês com espanhol e italiano.
Em fim: O japonês mentiu mas “as cartas não mentem jamais...”
Cibelle ensinou-me a fazer pão aromático de batatas muito saboroso.Vale a pena conferir.

Caro amigo João!
ResponderExcluirChé!!!!... Por que será que a valorosa Cibelle não previu que a fazenda não era de fato do futuro genro?!...
Caloroso abraço! Saudações videntes!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP