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terça-feira, 9 de novembro de 2010

A BASSAM

  Certo dia cheguei na casa de minha sogra, em Paracatu e a encontrei atendendo um consulente. Era um japonês miudinho, muito cortês e sorridente, chamado Mario Okamura.
Enquanto ela traduzia os sortilégios e premonições das cartas, ele gravava tudo num pequeno aparelho portátil. 
O japonês, ou nissei, dizia ter uma fazenda no município e estava pensando em trazer seus pais e irmãos, que moravam em uma chácara em Jaboticabal/SP. Enquanto ele falava, não tirava os olhos da Carla, filha mais nova de minha sogra e solteira ainda. 
O baralho foi cortado, por três vezes até que  as cartas começaram a falar:“Você deve trazer apenas teus pais; se os irmãos vierem também, vão trazer-lhe infelicidades!”

 Enquanto a Carla servia um cafezinho, o japonês perguntou, ruborizado: “A Bassam quer trazer uma moça que gosta de mim, pra casar, será que vai dar certo?. 
Cibelle, percebendo a paquera cerrada entre a filha e o rapaz, perguntou quem era a Bassam.
“É minha mãe, ela acha que já passei do tempo de arranjar uma esposa e quer trazer a Mieko pra cá...” 

Mais  uma vez as cartas foram embaralhadas e abertas sobre a mesa: “Diga à dona Bassam que teu casamento está próximo e não será com japonesa e nem descendente. Vai ser com moça daqui mesmo.”

Quando o japonês foi-se embora eu ainda disse, intrigado: “Mas Cibelle, dessa vez você exagerou...Olha que o rapaz gravou tudo!” Minha sogra fez um muxoxo e afirmou: “Fica tranquilo que eu sei o que estou fazendo.”

 Daí a alguns dias, o Mario voltou meio preocupado dizendo que os bezerros da fazenda estavam doentes, com umbigos inflamados e diarréia e queria que ela fosse até a propriedade para benzer os animais. 
No dia seguinte lá foi ela mais a Carla na boléia da caminhonete do japonês, levando consigo seus unguentos milagrosos . 
Enquanto ela fazia as rezas secretas, o retireiro esfregava a solução de ervas nos animais. Carla e Mario saíram para conhecer a propriedade e quando voltaram já estavam de mão dadas e sorridentes.Mais uns dias de visitas e o namoro estava consolidado, com o maior apoio de minha sogra.

Quando Mario resolveu-se a buscar seus pais, minha cunhada foi junto, voltando de ônibus-leito, em companhia da futura sogra, a tal da Dona Bassam.
 Lá para o meio da noite, a senhora sentiu vontade de fazer xixi mas, quando, com muito custo, abriu a porta do minúsculo banheiro, deu um gritinho envergonhado e voltou, apressada, para a poltrona:
 “Tem outra japonesa lá dentro, né! E eu não aguento segurar, né!” 
 Percebendo o desassossego da mulher, minha cunhada acompanhou-a de volta ao WC. A porta estava apenas encostada e lá dentro não tinha ninguém; apenas um grande espelho que ia do teto ao chão. 
Mirando as duas imagens refletidas, Carla perguntou: ‘É aquela a japonesa que a senhora viu?”
Meio abobada a senhora balbuciou: “Nossa, eu confundi eu com eu mesma, né?!”

Aquilo serviu de piada por muitos anos e pouco tempo antes de se casar, minha cunhada descobriu que o Mario era apenas o administrador da fazenda de outros japoneses ricos. Mesmo assim o casamento se consumou e eles tiveram duas filhas lindas, mistura de sangue japonês com espanhol e italiano. 

Em fim: O japonês mentiu mas “as cartas não mentem jamais...”

Cibelle ensinou-me a fazer pão aromático de batatas muito saboroso.Vale a pena conferir.

 PÃES DE BATATAS E MANJERICÃO:  1 ½ kg de farinha de trigo; 50 gramas de fermento; 4 colheres de manteiga derretida; 1 colher (sopa) rasa de sal; 2 colheres (sopa) cheias de açúcar; 3 ovos inteiros; 1 kg de batatas (ou mandiocas), cozidas e amassadas ou espremidas; 2 colheres (sopa) de manjericão fresco, picado e leite morno (suficiente para dar o ponto de amassar o pão). Desmanchar o fermento em meia xícara de leite morno. Misturar com 1 colher de açúcar e 1 xícara de farinha. Deixar fermentar por uns 10 minutos. Acrescentar os demais ingredientes, aos poucos, sendo que o manjericão deve ser previamente misturado na manteiga derretida e morna. Amassar e sovar muito a massa, até ficar homogênea e leve. Deixar crescer por 1 hora. Enrolar os pães e deixar crescer até dobrar de tamanho. Pincelar com gemas ( 2 gemas desmanchadas em 1 colher de água). Assar em forno não muito quente.

Um comentário:

  1. Caro amigo João!
    Ché!!!!... Por que será que a valorosa Cibelle não previu que a fazenda não era de fato do futuro genro?!...
    Caloroso abraço! Saudações videntes!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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