
Meu pai tinha um amigo, grandão e branco como um porco landrace. Não sei qual a nacionalidade dele mas era conhecido por Adolpho polaco e morava em um sítio onde não havia luz elétrica e nem banheiros, cuidando de seus rebanhos de cabras e carneiros.
Certa vez, aconteceu um acidente tragicômico com o homem que culminou com sua ida ao hospital e virou piada na cidade: Devido à sujeira e falta de higiene em que vivia, ele ficou infestado de piolhos e no intuito de matar os parasitas, esfregou querozene em todos os pelos do corpo, tanto nas partes púdicas como nas impúdicas.

Meses depois, na Páscoa, meu pai convidou o amigo para almoçar lá em casa. Quando chegamos da missa, desde a rua já sentimos o aroma delicioso da leitoa à pururuca que só minha mãe sabia fazer. A mesa estava posta e o Adolpho polaco, já meio zonzo pelos canecos de vinho que meu pai servia, falava alto e gesticulava a todo vapor.
Nossa casa era assobradada e no canto da cozinha tinha um pequeno cano de metal por onde escoava a água em dias de faxina. Fomos, eu e meus irmão, pelo quintal e utilizando-nos do cano como um gramofone, gritamos a plenos pulmões: "Adolpho polaco, botou fogo no saco... Adolpho polaco, botou fogo no saco..."
O homem virou uma fera e não sabendo de onde provinha a zombaria, saiu pela rua, esbravejando e procurando os autores da desfeita.
Minha mãe, esperta, descobriu logo e sem que a visita desconfiasse, trancou-nos, de castigo, na despensa dos fundos. Resultado: enquanto o chamuscado refestelou-se com a leitoa, nós ficamos em jejum até à noite quando nos foi permitido provar de uma sopinha de fubá bem chinfrim.
Desde então, lembro-me dessas passagens de minha infância toda as vezes em que faço um carneiro ou uma leitoa assada.

Para o cozido - 3 Kg de carneiro, cabrito ou coelho novos (8 meses, mais ou menos) em postas; 2 latas de ervilhas (prefiro pacotes de ervilhas semi congeladas); 1 kg de batatas (cortadas em 4), 1/2 kg de cenouras em rodelas; 1 kg de tomates (sem sementes) cortados em 4; 12 mini cebolas inteiras; 2 pimentões em cubos e azeitonas pretas. Se quizer, pode acrescentar favas cozidas e escorridas.
Para o tempero - Tempere os pedaços de carne com sal, azeite e algumas folhinhas de alecrim. Deixe a carne de molho (de um dia para o outro) na seguinte marinada, batida no liquidificador : 3 cebolas grandes; 1 cabeça de alho; 1 galhinho de manjericão; folhas de hortelã, de sálvia; 3 folhas de louro; 1 molho de salsa e cebolinha; 1 copo de vinho branco seco; 1 copo de água; 1 copo de vinagre branco; 1/2 vidro de molho inglês ou shoyo e pimenta a gosto. No outro dia, frite as postas de carne numa panela grande, até ficarem bem douradinhas. Escorra o excesso de gordura (importante!) e cozinhe, acrescentando água fervente, aos poucos e até ficarem bem macias. Junte os tomates, as mini cebolas, os pimentões e as azeitonas. À parte, cozinhe em água sal as batatas e as cenouras. Junte esses legumes, mais as ervilhas, à panela e misture tudo, de leve para não desmanchar os legumes. Sirva com arroz branco.

Caro confrade e amigo João!
ResponderExcluirSeu pai nasceu na época da Grande Guerra, que depois ficou conhecida como 1ª Guerra Mundial. Meu adorado e saudoso pai nasceu três anos após o Sr. Paschoal... Você não disse o estado civil do Adolpho!
Caloroso abraço! Saudações dedetizadoras!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP
Pai,
ResponderExcluirEu adoro tudo que você escreve mas te juro eu passo longe de suas receitas voc~e quer que eu vire uma leitoa?Querido Tenha uma Feliz Páscoa também e la no meu blog eu vou te contar como era a Páscoa lá em casa.Hoje saiu um novo tsunami no telefone,ai lembrei-me de suas sábia palavras e começei a orar...Te amo meu querido!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCristina Fonseca disse...
ResponderExcluirCaro amigo..
A Páscoa da sua infância foi parecida com a minha. Oriunda de familia portuguesa, nunca faltava um leitãozinho com batatas e um coelho na nossa mesa pascoalina..
Que vc tenha uma Páscoa abençoada com sua familia é meu desejo..
abçoss
Pois é...uma fartura danada! O cabrito não podia faltar também.
ResponderExcluirQue Deus te abençoe, Cristina.