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quarta-feira, 26 de maio de 2010

O "CHICO BELO"- II

Depois do susto na caixa d'água, o Chico Belo aquietou-se por um bom tempo. Inclusive, meu irmão mandou-o para Morrinhos, no interior de Goiás, com o propósito de tomar conta de uma boiada e que ficasse por lá até que as reses fossem vendidas. Nos finais de semana, quando ocorriam os leilões, meus irmãos iam para lá, hospedando-se em hotéis ou pensões, enquanto o Chico Belo dormia em um barracão, juntamente com vários outros boiadeiros.

Nos leilões e rodeios, sempre havia, entre os vaqueiros, um cozinheiro responsável pela gororoba do dia a dia. Não precisava ser um grande chef de cuisine para satisfazer aquele bando de homens, quase sempre bêbados. Bastava saber fazer um arroz com suã, feijão, charque ou carne moída e, de vez em quando, assar uma carninha. Dessa vez, lá em Morrinhos, o cozinheiro era o Aléssio, gay assumido e já meio coroa.

O povo dizia que o Chico era bem dotado, inclusive tinha o apelido de "Chico Tripé". Assim que o Alessio soube da fama, começou a derrubar as asinhas sobre ele, preparando-lhe pratos e sopinhas especiais.

Numa tarde, em que o Chico Belo chegou meio bêbado, o Alessio resolveu assediá-lo e quando nosso amigo preparava-se para deitar, o cozinheiro caiu em cima dele. Chico Belo já tinha descalçado uma das botas e num reflexo defensivo, meteu o grosso salto de madeira na testa do outro. Largou o cozinheiro por ali, sangrando, e foi pedir guarita aos meus irmãos, na segurança do hotel.

Naquela mesma noite, foram todos a um arrasta-pé num galpão improvisado, ali por perto dos currais e barracão. Estenderam umas lonas, seguradas por bambus, penduraram um lampião de carbureto no teto e "dá-lhe pinga, sanfona e pandeiro".

Chico Belo levou um farolete para guiá-lo na escuridão do caminho e chegando ao bailão, colocou o instrumento no bolso das calças, caindo na farra. Tirou para dançar, uma das caboclas, daquelas goianas bem parrudas e a mulher foi logo esfregando-se nele, toda assanhada.

Na verdade, a mulher "acoxava" ele só para provocar o amante que também estava por ali, dançando com outras. E o Chico Belo, pensando que estava agradando,foi logo avisando, num tom safado: _ Calma, morena, que o volume que você está sentindo, é só o farolete que eu guardei no bolso!

Não demorou muito até que o namorado da goiana invocou com a sem-vergonhice da mulher e partiu para cima do casal. Com um soco certeiro, derrubou o Chico na poeira do salão. O pobre, vendo-se acossado em meio a tantos desconhecidos, não teve duvidas: arrancou do bolso o farolete e num arremesso certeiro, atingiu o único lampião que alumiava o bailão.

Naquela escuridão toda, o barraco veio a baixo e o fuzuê ardeu feio! Mais uma vez Chico belo conseguiu safar-se da morte por vingança passional. Acabou seus dias, numa roça de milho, por conta do veneno de uma jaracuçu do rabo grosso.

Como exemplo das comidas fortes e saborosas, costumeiras nesses ranchos e fogões de boiadeiros, passo essa receita de:

SUÃ COM ARROZ: 3 quilos de suã (vértebras com parte do filé suíno); 4 ou 5 xícaras de arroz; alho; sal; cebola; cheiros verdes; pimenta a gosto; manjericão; louro; limão; azeite e 1 colher (sopa) de colorau. Compre suãs bem carnudos mas não muito grandes e tempere-os com sal e limão. Bata os demais temperos no liquidificador com 1 xícara (chá) de água e junte-o ao suã, deixando marinar por algumas horas.

Frite os pedaços em óleo quente, numa panela grande, até ficarem bem dourados. Acrescente o colorau, um tanto do tempero batido e vá juntando água fervente, aos poucos, até ficarem macios. Misture o arroz lavado e água fervente suficiente (uns dois dedos acima da mistura), acerte o sal e tampe a panela. Deixe em fogo baixo até o arroz ficar cozido, porém, ainda úmido. Espalhe salsinha por cima e sirva de imediato, acompanhado de salada de folhas.

Um comentário:

  1. Caro amigo João!
    Agora está explicado o motivo do Chico Bento fazer sucesso com as mulheres, todavia tem aquele velho ditado: "Tamanho não é documento"!!
    Caloroso abraço! Saudações avantajadas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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