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"Crenças e Desavenças" - Editora Baraúna
"Qual será o Sabor da crônica?" - Editora Baraúna
Cada título contém 40 crônicas e pequenos contos de pura alegria com o mesmo número de receitas "que dão certo". Pedidos através:
www.editorabarauna.com.br - www.livrariacultura.com.br - jbgregor@uol.com.br

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A CIBELLE


  Minha sogra, Cibelle, foi uma das mulheres mais bonitas que eu já conheci. Ainda hoje, quando vejo as fotos de meu casamento, a mulher mais bela e vistosa no altar era ela (minha esposa nao conta, pois aparece de costas na foto). Descendente de espanhóis (Ponte Viedras) ela tinha uma pele claríssima e os cabelos pretos, ondulados.

 Era inquieta e teve varias residências, sempre trabalhando muito, fazendo de tudo um pouco (doceira, florista, dona de restaurante, de bar, de lanchonete e por fim uma famosíssima cartomante).
Nos bairros e cidades onde morou"deixou saudade" pois era uma mulher muito alegre e desbocada. Nunca vi minha sogra mal vestida, sem suas correntes e pulseiras douradas ou sem seu indefectível baton vermelho sangue.

Tudo foi muito intenso e rápido na vida dela: casou-se e foi mãe aos 15 anos, avó aos 34, divorciada aos 47, viúva aos 56, bisavó aos 60 e para o nosso pesar, aos 73 ...
  ... virou purpurina!

 Certa vez, quando minha mulher tinha uns 7 a 8 anos, foi com a mãe, visitar algum parente em São Paulo. Minha sogra vestia uma saia vermelha, com bolinhas pretas, muito justa. Parecia uma joaninha! _ aqueles besourinhos pintadinhos. Quando subia no bonde, com muita dificuldade, o condutor não esperou ela colocar os dois pés no degrau e "tocou o bonde".

 Além de rasgar a saia, ela esfolou-se toda. De pronto o sangue espanhol ferveu e o pobre do homem levou a maior surra de sua vida. Era, realmente, uma mulher de várias prendas mas seus melhores dotes estavam na cozinha e com ela aprendi muitas coisas.

Fazia uma carne assada divina, com tempero forte cuja receita passo agora:
 LOMBO ASSADO AGRIDOCE: Esfregue sal em todo o lombo. Bata no liquidificador 2 folhas de louro , alho, molho inglês (ou shoyo), cebola e salsinha  com  umas 3 colheres de limão e 1 colher de massa de tomate (para dar cor). Jogue sobre a carne, acrescentando azeite de oliva e molho de pimenta   (cumari ou dedo de moça). Leve para assar, envolto em papel alumínio, em fogo alto até ficar macio (1 hora e meia, mais ou menos, retirando o papelo alumínio uns 15 minutos antes). Transfira o lombo para uma travessa ou bandeja e leve a assadeira com o molho para a chama do fogão, acrescentando dois copos de água e a calda de uma lata de ameixas pretas (somente a calda). Com uma colher de pau vá mexendo e desgrudando o molho da assadeira até ficar mais espesso. Despeje o caldo  sobre o lombo, enfeitando com as ameixas. Sirva com arroz branco, farofa  e uma salada de folhas.                       

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A MIRANDINA

A Mirandina contou-me que certa vez, quando era gerente em uma Agência no interior da Bahia, tinha como concorrente um gerente muito gozador chamado Gildázio que mandou imprimir e distribuir pela cidade toda, panfletos anunciando que a Agência local do Banco X (onde ela era gerente) estava selecionando pessoas para participarem de um programa de TV muito famoso à época, o "Topa Tudo Por Dinheiro".

  Minha baianinha 3M,  como a apelidei (Mirandina de Moura Miranda), viu-se na maior dificuldade para se desembaraçar de todo aquele pessoal doido, querendo fazer malabarismos e coisas completamente loucas dentro da Agência. Vieram palhaços, engolidores de faca, quebradores de tijolos, macaco batedor de carteiras, papagaio que cantava hinos religiosos e até um jegue que fazia não sei lá o quê...  
 Ela descobriu o autor do vexame e deu o troco de uma forma mais contundente: 
O único jornal da cidade era bisemanário e na 4ª feira saiu, na primeira página, o comunicado de falecimento do Sr. Gildázio de "Tal", muito querido Gerente do Banco Y, cujo corpo seria velado no saguão daquela Instituição, a partir das 10 da manhã.  

A Mirandina foi a primeira a aparecer e lá por volta das 9 horas já tinha uma multidão de curiosos, clientes chorosos, coroas de flores mandadas pelo Rotary, pelo Lions, pelos Amigos do Footboal, etc...  Quando o Gildázio apareceu (já que bom gerente baiano chega somente na hora de abrir o Banco), a multidão saiu a gritar espantada e foi aquela confusão. 

Só Mirandina sorria...

No único jantar que ela ofereceu em seu diminuto apartamento na Asa Norte de Brasília, o prato foi uma Moqueca Baiana, deliciosa, que mais tarde eu fui aperfeiçoando e acrescentando alguns detalhes. Para quem não sabe, existe a Moqueca Baiana e a Capixaba (esta leva urucum). Misturei as duas receitas mas continuo a batizá-la de
 Moqueca 3 M
Bater no liquidificador 1/2 maço de coentro, 1 maço de cheiro verde, 2 cebolas, 3 tomates, 2 dentes de alho,  caldo de pimenta malagueta ou cumari (prefiro a cumari) e sal. Temperar 2 kg de postas de peixe (pode ser caçonete, pargo, namorado, robalo ou badejo) com sal, alho e limão.  Levar os ingredientes batidos para cozinhar até formar um molho encorpado.  Em uma frigideira grande ou panela de barro, espalhar azeite de oliva e deixar frigir. Colocar as postas de peixe, jogando o molho por cima . Acrescentar 1/2 vidrinho de azeite de dendê, rodelas de tomates, rodelas de pimentão e rodelas de cebola. Misturar 2 colheres de urucum (colorau) desmanchado em meia xicara de água quente. Por último, acrescentar 1 vidro pequeno de leite de coco e salsinha picada. Deixar sobre fogo forte e apenas chacoalhar a panela, sem mexer, para não grudar no fundo. Servir com arroz branco e pirão.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

EASY RIDER - PARTE FINAL (A CAVERNA DO DIABO)


Na volta, quase sem dinheiro, só comíamos melancias que eram vendidas à beira da estrada.
A certa altura do campeonato, tivemos que furtar as melancias: enquanto o Valter levava o vendedor para ver os frutos que estavam do lado de lá da estrada, eu e o Tininho, enfiávamos algumas por detrás do banco do fusca. Deus foi testemunha e confesso que errei! 


Até hoje cumpro a pena de ir ao   cemitério, todos os anos, no dia de finados,  a fim de comprar melancias...





 Passando por Cananéia, resolvemos conhecer a famosa “Caverna do Diabo”. Chovia muito e a estrada, no meio da mata fechada, era íngreme e precária mas conseguimos chegar até lá. Valeu a pena pois é um conjunto impressionante de grutas e cavernas milenares, com suas estalactites que ao longo dos séculos foram se formando e adquirindo formas das mais diversas e assombrosas, fazendo jus ao nome que leva.

 À tarde, quando nos preparávamos para o retorno, veio a notícia que havia caído uma barreira naquela bendita estrada, BR 116 e enquanto não parasse a chuva teríamos que ficar por ali. Armamos a barraca mas, quem disse que dormimos! O precário abrigo quase foi arrastado pela enxurrada e nos escondemos na varanda de uma lanchonete. Assim passamos a noite, tiritando de frio.

 Pela manhã, morrendo de fome e frio, negociamos com o dono da lanchonete: ele ficaria com todas as bugigangas que nos restavam, lampião de gás, botijão, lanterna náutica e até mesmo a barraca, em troca de refeições e um canto para a gente dormir nos dois dias que ali ficamos... horrível!

 No sábado cedo, chegamos à São Paulo e apesar de o Valter queixar-se muito de dores na mão inchada, raspamos os fundos das carteiras e ainda fomos assistir ao filme “O Terremoto” que estreara naquela semana, estrelado por minha dupla favorita de atores: Ava Gardner e Charlton Heston (aliás, ele faleceu há pouco tempo, aos oitenta anos).

 Finalmente, chegamos em nossa cidade no início da noite de um sábado de carnaval, 45 dias após termos dado início àquela aventura de loucos; extenuados, magros e bronzeados mas, com fôlego o bastante para vestirmos as fantasias de nosso bloco carnavalesco, que já estavam prontas e confeccionadas à nossa revelia.

Quando a namorada do Valter, já preparada para o baile, apareceu com a fantasia para o coitado vestir, ele desandou a gemer, febrilmente:
“Não, não... essa fantasia não, por favor!”.Naquele ano, nosso bloco saiu fantasiado  de... ciganos!!!

Esqueci-me de contar que na volta, em Sao Paulo, só o Valter teve direito de almoçar, pois estava fraco e enquanto ele saboreava uma enorme posta de salmão com legumes, nós comíamos...pipócas! Por desaforo, vai uma receita de salmão... 

 SALMÃO NA GRELHA:  Uma posta de salmão de 500 gramas; sal a gosto; 6 colheres (sopa) de azeite de oliva; 4 dentes de alho espremidos; 3 colheres de manteiga e 3 colheres de alcaparrase 2 colheres (sopa) de salsinha desidratada. Esfregue o sal na posta de salmão e grelhe por mais ou menos 10 minutos, virando-a, com cuidado, no meio do tempo Frite os demais ingredientes por 4 minutos e despeje sobre o salmão, servindo imediatamente, com arroz à grega e batata palha.