Mandei-lhe um e-mail, desejando um Feliz Ano Novo para ela e toda a família. Olhem a resposta que recebi: "Ano Novo, vida velha... Detesto família, só a Sagrada mesmo e pendurada na parede! Chega! Tô de saco cheio...."
Mas, tanta revolta tem motivos, pobrezinha...Que vida mais apertada a dela!
Eram em cinco irmãs, filhas de judeus que se fingiam de católicos para serem aceitos na pequena cidade onde viviam. O pai era tão sovina que a mãe, Dona Esther, tinha que dar aulas de piano a fim de juntar algum dinheirinho, totalmente gasto na compra de "pequenas bobagens" para as meninas.
O velho era tão ignorante que deixou suas filhas com muitos traumas de infância. Um deles, vitimou minha amiga... síndrome de calcinhas no varal:
Numa tarde ensolarada, o pai chegou particularmente infernado e ao ver o varal de roupas lotado de calcinhas de sua mulher e filhas, desandou a rasgar todas e a gritar descontroladamente: _Isso aqui tá parecendo casa de putas! Olha a vizinhança toda vendo essas vergonhas!
A Soraya conta que sua mãe teve que dar muitas aulas de piano para poder renovar aslingeries das filhas e a partir daí, as peças eram penduradas atrás do motor da geladeira, até secarem.
Mesmo depois de casada, ela ainda relutava em utilizar varais externos e quando o fazia, cobria as calcinhas com alguma cueca do marido. O homem não se conformava com aquilo e dizia: _Pára com isso, Sôra... Até a rainha da Inglaterra usa calcinhas!
E esse marido dela, então...que criatura mais estranha! Era santista roxo e tinha o apelido de baleia, em alusão ao mascote do Santos Futebol Clube. Vestia-se de uma forma completamente ridícula e até nas churrascarias e restaurantes ele ia com chuteiras e a indefectível camiseta do clube santista... maior mico !
Enchia a banheira de água e ficava horas, brincando com as baleinhas de plástico e bonequinhos da Disney, em todos os tamanhos. A cama do casal era dividida em duas: na metade dela, tudo normal e na parte dele, lençol, fronha e coberta com distintivos e cores do time. Ai de quem usasse as toalhas de banho dele...
Durante anos ela suportou isso, sempre pensando no bem estar da única filha que tiveram.
Uma noite, porém , quando ela se viu com dois carrinhos desmontáveis nos seios, um coelhinho no púbis, um mini jato no umbigo e dois helicópteros nas mãos do marido, prontos para aterrissarem em sua barriga, ela deu o famoso berro da liberdade: "Chegaaaaaaaaa....Vá pros quintos dos infernos!"
Arrancou o coelhinho do gramado e o atirou, com toda a força dos vinte anos de raiva contida, contra o vidro protetor do quadro, afixado bem à frente de sua cama. Era uma foto do Pelé, bem novinho... quando, ainda, ostentava o uniforme do Santos Futebol Clube.
Quanto à receita... eu também tenho dó mas, depois de pronto, fica uma delícia irresistível!
COELHO COM LEGUMES:
Cortar o coelho pelas juntas e em pedaços regulares. Esfregar sal e azeite de oliva na carne; acrescentar 1 colher (chá) de alecrim. Bater no liquidificador os seguintes ingredientes: 3 cebolas; 6 dentes de alho; 1 molho de cheiro verde; algumas folhas de manjericão; 2 folhas de louro; meia noz moscada ralada; meia garrafa de vinho branco seco; 1 copo cheio de vinagre branco; meio copo de água e molho de pimenta a gosto (cumari). Despejar esse tempero batido na carne e deixar marinar, no mínimo, por oito horas.
Fritar os pedaços em óleo bem quente, até dourarem. Pingar água quente e um tanto do tempero, aos poucos, até a carne ficar macia. Em outra panela, refogar em 3 ou 4 colheres de manteiga, batatas e cenouras (pré cozidas em água e sal). Acrescente brócolis ou palmito e por último, ervilhas frescas aferventadas e 2 tomates picados grosseiramente.
Servir o coelho à parte ou misturado aos legumes, com salsinha e arroz branc

Um bom papo à luz de uma lamparina à querosene, ou candeeiro à base de carbureto, são coisas de lembranças apenas. _ Não sabem o que vem a ser isso? Azar de vocês...
Quando a Cícera voltou, no domingo, toda feliz , pois que recebera o "negócio" inteiro do cavalo, ainda fez um almoço para nós. Meio tardio, pois até matar o frango e cozinhar o feijão já era umas quatro da tarde. Mas, valeu a pena: frango refogado com cambuquira de jerimum, farofa, arroz e feijão, depois de duas ou três doses de pinga... divino!
À caminho do cajueiro, levando algumas folhas de papel de embrulhar pão, eu ouvia, espantado, as instruções de Seu Jerônimo: _O doutor fica de cóqui 
Elza Camacho foi a primeira dama mais atuante que jamais vi. Eu a conheci durante a campanha de seu marido, para prefeito da cidade X, onde trabalhei por alguns anos. Tinha um cabelo vermelho que a destacava em meio à multidão. Todo desfiado e que mais parecia uma bola de fogo.
Por ocasião da festa do padroeiro da cidade, ela foi encarregada da montagem do altar e do andor de São João Batista. A fim de economizar dinheiro, ela contratou um carroceiro para trasladar a imagem de São João, de uma capela do bairro, para a Igreja matriz, de onde sairia a procissão com os andores de todos os santos. Amarraram a imagem na carroça e lá foi o carroceiro, não sem antes ter recebido todas as recomendações de cuidados, por parte da primeira dama.












