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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A 1ª DAMA E O MENDIGO

Em outra ocasião tive a oportunidade de falar sobre Elza Camacho, a mulher do prefeito de um município vizinho, muito aloprada mas perfeitamente atuante nos eventos e festas promovidos na cidade.

Por ocasião do Natal, ela agitava a cidade inteira, arrecadando dinheiro e doações junto aos empresários e fazendeiros do município. O produto da arrecadação era, integralmente, utilizado na decoração das ruas e prédios públicos da cidade, bem como na compra de brinquedos para presentear as crianças carentes dos bairros de periferias.

Semanas antes do Natal, ela tomava a perua da prefeitura e seguia, somente com o motorista para São Paulo a fim de comprar os brinquedos diretamente nas fábricas e alguns dos materiais que seriam utilizados nas decorações. Saiam de madrugada e só voltavam bem tarde da noite com a “Komby” abarrotada.

Numa dessas ocasiões, após ter comprado todos os brinquedos, o motorista deixou-a na Rua 25 de Março para comprar veludos e poás para a roupa do Papai Noel, enquanto ele seguia até o posto de gasolina mais próximo para abastecer o veículo. Por infelicidade, numa das esquinas da Baixada do Glicério, a perua foi violentamente abalroada e arrastada por um troleybus . O pobre motorista, inconsciente, foi levado para o Hospital das Clinicas e ali ficou por horas, até recobrar os sentidos.

Terminadas as compras, já bem no final da tarde, Dona Elza seguiu em direção ao “mercadão”, local onde o motorista combinara de esperá-la. Passada as 5 horas, passada as 6, chegada as 7 e nada de a perua aparecer. Lojas fechadas, nenhum transeunte para socorrê-la; a coitada ficou apavorada, refugiando-se na marquise de um dos vetustos prédios da região sinistra.

Ali pelas 8 da noite aproximou-se dela um mendigo, com várias sacolas na mão, que foi logo lhe dizendo: “Olha, Dona, esse lugar é meu...Se a senhora quiser se acomodar, ajeita o outro canto pois neste aqui é onde eu estendo meu cobertor!”

Dona Elza, assustada e meio nauseada com o forte cheiro acre/rançoso que exalava do mendigo, encolheu-se do outro lado, junto com suas sacolas. Quase chorando, não sabia se rezava ou se amaldiçoava o motorista. O mendigo arrancou da sacola um marmitex, todo amassado e perguntou , com voz enrolada: “Quer dividir a comida? O rango é pouco mas parece que a senhora não comeu nada ainda hoje... tá com o zóio fundo!”

Realmente, ela estava morta de fome pois não comera nada , por conta do corre-corre das compras. Quando, mais tarde, o homem sacou de dois pãezinhos e algumas bananas, ela não agüentou e aceitou o sanduíche de pão com banana. A noite ia avançada e fria, quando ela começou a chorar baixinho.

Lá pelas dez horas da noite, horário previsto de chegada, os parentes de Dona Elza começaram a preocupar-se com a demora. Ao celular que ficara na Perua, ninguém atendia e daí começaram a ligar para a polícia, necrotérios e hospitais até que descobriram o paradeiro do motorista, já consciente mas completamente “zureta”, não se lembrando de nada.

Resumindo a ópera, a primeira dama somente foi resgatada por volta das 5 da matina, dormindo, sentada no cobertor do mendigo e enrolada nos veludos do Papai Noel. Foi uma noite do cão mas, reconhecida pela bondade do companheiro, levou-o consigo para sua cidade, convencendo o marido/prefeito a contratá-lo em “serviços gerais” no pátio da prefeitura.

Naquele Natal, o Papai Noel foi um mendigo resgatado das ruas de São Paulo.

E já que falei em Papqi Noel e Natal, vou passar uma receita de rabanadas de minha tia Olívia:

RABANADAS: Uma bengala de pão amanhecida de 3 dias e cortada em fatias; 1 litro de vinho tinto seco; 1/2 kg de açúcar; 2 colheres (de chá) de canela em pó. Misturar tudo e passar as fatias de pão neste melado (dos dois lados). Fritar numa panela ou frigideira tefall (dos dois lados). Colocar, em camadas, numa travessa e espalhar por cima açúcar e canela. Com o vinho que sobrou, apurar uma calda rala, esperar amornar e despejar sobre as rabanadas. Levar à geladeira.

3 comentários:

  1. Prezado confrade João!
    Apreciei sobremaneira seu conto! Parabéns! Que bom saber que você é um dos seguidores do meu humilde espaço cibernético!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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  2. Adoro tudo que você escreve.
    Sabe seus contos todos daria uma peça teatral daquelas que ficam em cartazes durante anos de tão bom que é Eu adoro essa primeira dama,se ela existiu mesmo quem a conheceu conheceu uma pessoa fantástica.Essa é ótima e a receita melhor ainda.Fico tão feliz de vc participar do meu bloguinho sabe porque eu criei este público eu tenho outros depois eu escrevo a sós só eu e vc.Tchau querido

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  3. Ela existiu, sim! Ou melhor, ainda existe mas nao mais como primeira dama. Ela é de meu signo e por isso que é tão criativa
    Grande abraço pra vc
    Joao

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