LEIAM MEUS LIVROS

"Crenças e Desavenças" - Editora Baraúna
"Qual será o Sabor da crônica?" - Editora Baraúna
Cada título contém 40 crônicas e pequenos contos de pura alegria com o mesmo número de receitas "que dão certo". Pedidos através:
www.editorabarauna.com.br - www.livrariacultura.com.br - jbgregor@uol.com.br

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O JOÃO COELHO


Ele foi bicheiro, famoso lá em Poços de Caldas/MG e sua vida era cheia de altos e baixos. Às vezes estava rico, às vezes na miséria; às vezes estava livre, às vezes foragido. Mas, chá de cadeia eu acho que ele nunca tomou, pois tinha amizades em todos os meios. Os investigadores viviam no pé dele, tentando pegá-lo em flagrante mas, o bicheiro era esperto.

Certa tarde, estava ele no velório de um promotor de justiça, rodeado de agentes da policia, delegados, etc., quando um cliente do jogo, postado as suas costas e querendo saber o resultado do dia, começou a chamá-lo, baixinho: "Psiu, Psiu...Ô João! O que foi que deu?" Nosso amigo, perto do caixão, deu uma olhada rápida para trás e não respondeu nada. O cara insistiu, afoito: "Ô Coelho, já sabe o que deu?"

João Coelho, olhando para os lados, meio sem jeito, respondeu: "Acho que foi infarto!!"

A Nadir, mulher dele era uma perua de carteirinha, cheia de jóias, longos cabelos pretos como as asas da graúna. A boca, era uma perdição: vermelha, em tom grená/pastoso, delineada com lápis marrom.

Quando eles estavam em baixa, ela aparecia lá no Banco com uma maleta cheias de jóias caríssimas, para penhorar. Assim que as coisas melhoravam, a Nadir voltava e resgatava tudo. Até que uma vez, a carestia foi mais longa pois o marido estava foragido fazia meses e então, os juros não foram pagos. Aquelas peças maravilhosas foram todas para o Leilão, sem choro e nem vela.

Para fugir da polícia, o João Coelho costumava ficar na fazenda de um amigo, no interior de Minas Gerais e nos feriados prolongados a gente costumava ir para lá também. Era ummurundum danado. Um monte de gente e a casa era pequena; apenas a varanda era enorme. Então, os dois quartos eram para as mulheres e os homens dormiam na sala ou na varanda: um monte de bebuns amontoados, roncando e peidando...

Numa noite, estavam presentes apenas três mulheres: a Nadir, outra senhora que eu não me lembro do nome e a Neuzinha, uma amiga dela, cheia de curvas e divorciada. O João bicheiro estava particularmente inconveniente e enquanto a esposa ficava na cozinha, fazendo dois galos com polenta, ele dava em cima da Neuzinha, a ponto de as pessoas perceberem.

Antes que as coisas piorassem para o lado dela, foi até à cozinha para alertar a amiga: _ Olha, Nadir... O João está me deixando irritada e falando besteiras para mim, na frente dos outros. Acho melhor você tomar uma atitude antes que eu meta a mão na cara dele!

Nadir manteve a calma e dando trato às bolas, convenceu a outra a participar de uma artimanha prá pegar o f.d.p. no pulo. Depois do jantar, enquanto todos jogavam truco, as duas tomaram banho e vestiram suas roupas de dormir. A Nadir, com uma camisola espalhafatosa, cor de vinho e um peignoir esvoaçante; a Neuzinha com um pijaminha de plush listrado que ia até ao meio das canelas.

Bem mais tarde, a Nadir, fingindo estar bêbada, retirou-se para o quarto que dividia com a outra senhora. A Neuzinha deu mais um tempo e disse que também ia dormir. Antes, porém, cochichou ao ouvido do João Coelho um convite para ir ao quarto dela, quando todos estivessem dormindo.

As duas trocaram de quartos e de roupas. Com o pijaminha meio apertado, o perfume da amiga em seu cangote e as luzes apagadas, Nadir esperou a chegada do marido traidor. Não demorou muito e lá estava o bicheiro, no maior fogo e cheio de amor prá dar...

Tempos depois, já divorciada, contou-nos que de início, até que ela estava divertindo-se com a farsa mas, quando o marido, procurou seus seios e declarou: _Estou com o saco cheio deassoprar as bexigas murchas da minha mulher! _ ela não aguentou: Meteu-lhe uma joelhada na cara que o nariz partiu-se em dois...

A receita vai ser de galo e olhe que é uma das coisas mais saborosas que já fiz:

GALOPÉ: 1 galo (ou duas galinhas caipiras) cortado em pedaços médios; 3 kilos de pés de porco, sem unhas e cortados em dois. Afervente os pés de porco em água salgada e 2 folhas de louro. Escorra toda a água e reserve. Bater no liquidificador o seguinte tempero: 4 cebolas, 2 cabeças de alho, 4 folhas de louro, um maço de cheiro verde (salsa, cebolinha e manjericão), caldo de 4 limões grandes, meio copo de água, meio copo de azeite e meia noz moscada ralada. Tempere os pés com a metade do tempero batido, acrescente 1 colher de páprica picante, 6 tomates picados, um pouco de água e leve-os a cozinhar, em panela de pressão, por mais ou menos 20 minutos. Reserve em separado. Na mesma panela, refogue o galo, temperado com sal, a outra metade do tempero batido, 1 dose de cachaça e 2 colheres de colorau. Acrescente água fervente e cozinhe-o na pressão. Numa panela grande, junte os dois cozidos e pique mais 2 cebolas em rodelas. Deixe em fogo baixo por alguns minutos para agregar bem os molhos. Na hora de servir, espalhe salsinha picada.

4 comentários:

  1. Caro confrade e amigo João!
    Você está me acostumando muito "mal" com suas imperdíveis crônicas!!!... Você nem imagina como divago com elas!!!!!... Será que o João Coelho usou preservativo pensando que fornicava com a Neuzinha?!... Será que a Nadir foi viver com a Neuzinha?!... Quantos viéses meus pensamentos impuros (ou seriam puros?!...) me possibilitam!!!!...
    Forte abraço!!!... Saudações a Babeteianas!...
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

    ResponderExcluir
  2. Engraçado, eu pensei que o jogo do bicho era coisa do Rio de Janeiro(nasci nesta cidade) e não há uma só esquina,que não tenhas de 4 a 6 homens sentadinhos em pequenos tamborestes(banquinhos) e um poste repleto de papel com os resultados, eu nunca entendi nada daquilo,mas ja fui jogar pro meu avô, eu sei que as vêzes ele ganhou e recebeu.Ao menos ,neste jogo eu sei que existem pessoas que ganham,ja na loteria eu nunca vi nem um conhecido,ou de alguém que tenha recebido...Mas eu queria te falar de um bicheiro que eu gostava muito, ele se chamava Pitinga,ele ficava ali na Abolição,morava numa vila onde o terreno passava um rio que jamais teve enxente ele ficava até as bordas mas dali não passava .Não é milagre não, era o respeito pela natureza,as ruas e calçadas eram de terras também,não havia calçada acimentada,ruas asfaltada era um lamaceiro ou um pó dos infernos, então quando a chuva vinha toda a água era chupada pela mãe terra e tudo ficava bem.Mas o Pitinga era loiro de olhos verdes e muito magro,muito bom para as crianças distribuia no dia de São Cosme Damião milhares de saquinhos com muitos doces,mas mesmo quando não era dia do santo, nós crianças sempre ganhávamos balas e pirulitos mariola(uma goiabada enrolada no papel celofone, e um negócio que era uma casquinha de sorvete com goiabada salpicada de confetes coloridinhos,ai que delícia!E por isso mesmo ele era amada um detalhe ,não havia drogas) e por ser muito querido quando vinha a viatura de polícia lá embaixo, a gritaria das crianças eram tantas que ele pegava o banquinho e sumia ou subia porque ele podia pular nossos quintais e ali era protegido pelo morador,Pitinga pulou um dia o nosso muro,e ali permaneceu,por várias horas.Tomando um cafézinho contando história,mas um dia não teve jeito, pegaram ele dentro da própria casa e Pitinga morreu para nossa trsisteza e saudade.

    ResponderExcluir
  3. Amigo João, vc acha que bêbado usa camisinha?

    Thais, se vc tivesse me contado essa do bicheiro que distribuia doces, teria incluido na historia.
    Sei não, acho que esse teu bicheiro era pedófilo e nao sabia.
    Grande abraço aos dois
    Joao

    ResponderExcluir
  4. Não era pedófilo,foi uma grande figura,muito querido,Eu sei pode acreditar.

    ResponderExcluir