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sexta-feira, 9 de abril de 2010

O PADRE PACO

Conheci o padre Paco pouco antes dele "largar a batina". Aliás, nem usava batinas...

Era natural da catalunha, numa região denominada Costa Brava, ao nordeste da espanha. Passou toda a infância miserável, com seus pais e mais nove irmãos, a limpar mariscos e todas as espécies de moluscos e peixes do mar. Posteriormente eram levados em grandes cestos e vendidos nos mercados ou feiras das cidades próximas. Ele dizia que o mau cheiro era tamanho que por toda sua vida carregou "aquele odor obsceno" nas narinas.

Já na adolescência, pegou amizade com o pároco da aldeia onde moravam o qual, interessado na vivacidade do rapagote, ajeitou-lhe uma vaga em um seminário de Barcelona. Foi a forma que encontrou para estudar, alimentar-se e fugir daquela vidalazarenta que levava.

Nunca mais retornou à aldeia natal pois, ordenado clérigo, partiu para Mallorca, posteriormente para as Ilhas Canárias e bem mais tarde, para o Brasil. Aqui, ele foi designado para várias paróquias, não parando muito tempo em cada uma, até que veio para a região e tomou-se de amizade com meu irmão mais velho.

Eu achava estranho aquilo, pois meu irmão é completamente ateu e como iniciou-se essa amizade eu não sei. Mas, em todas as festas e almoços, com a nossa parentela, o padre estava junto e ele era bem divertido. Sabia cozinhar também e adorava uma vodka bem gelada que, segundo ele, não deixava bafo.

Sua mania de contar piadas, sempre irreverentes, sua maneira de olhar bundas e peitos das mulheres, não me deixava iludido e até comentei com meu irmão: "Esse espanhol, de padre não tem nada e se vestisse batina de bronze, a gente escutaria muitas badaladas!"

Não demorou muito e ele deixou o sacerdócio para unir-se a uma de suas fiéis paroquianas, que cuidava dos eventos e reuniões da turma da "Renovação Carismática". Nunca mais vi o ex-clérigo. Há pouco tempo meu irmão contou-me que ele faleceu e a viúva nem vestiu luto... Foi vitimado por um incárdio no miofarto (síncope cardíaca decorrente de esforços repetitivos após a ceia), ao lado de uma desconhecida, em pleno Motel.

Bem, pelo menos, deixou alguma coisa de bom pois que me ensinou a fazer a paella de Costa Brava, e instruiu-me de que sua paella era diferente da Valenciana (que não leva carne de nada, apenas legumes e arroz); que paella é frigideira, em espanhol e que paellera são as mulheres que cozinham essa iguaria. Já fiz por diversas vezes e é um dos pratos mais solicitados pelos parentes e amigos:

PAELLA DA COSTA BRAVA (alterada ao meu gosto): 700 gramas de linguiça de porco; 700 gr de filés de frango (em pequenas tiras); 700 gr de filés de peixe (dourada, cação ou merluza); 1kg de camarões grandes (sem a casca); 500 gr de mexilhões limpos; 500 gr de polvo; 500 gr de lulas (em rodelas); 500 gr de mariscos (já limpos e aferventados); 500 gr de arroz; 1 pimentão verde e outro amarelo (ou vermeho) cortados em tiras ou em triângulos; 1 kg de tomates maduros sem a pele (em pedaços de 2 cm); 2 cebolas picadinhas; 6 dentes de alho em fatias; 2 latas de ervilha (ou 500 gr de ervilhas frescas); 1 colher(rasa) de tomilho seco ou sálvia; 2 tabletes de caldo de galinha; 1 xícara de vinho branco seco (para aferventar os mariscos); azeite de oliva; pimenta; sal; cheiro verde e 1 colher das de sopa de açafrão (imprescindível!; e melhor será se encontrar o legítimo açafrão espanhol, em estames); 300 gr de feijão verde já pré cozido, mas firmes (aquele lá do Nordeste, opcional, se você encontrar para comprar).

Modo de fazer: temperar o frango e o peixe separadamente (com alho, cebola, sal e molho inglês). Aferventar, separadamente, com água e pouco sal, o polvo, a lula e o mexilhão. O marisco (que é opcional), deverá ser aferventado, em panela tampada, com o vinho até que as conchinhas se abram (as que não se abrirem, jogue-as fora).

Numa frigideira apropriada (paella), frite, no azeite, a linguiça em pedaços pequenos (1,5 cm) e reserve-as. Acrescente mais azeite (se necessário) e frite os pedaços de frango, reserve. Em seguida, frite o peixe e reserve. Junte mais azeite (se necessário) e frite as fatias de alho e a cebola picadinha. Junte a lula, o polvo e os mexilhões, refogando um pouquinho. Acrescente o tomate, os pimentões coloridos, as carnes reservadas e 1 xícara de água morna contendo o caldo de galinha e o açafrão dissolvidos (se o açafrão for em estames, devem ser esmagados na água morna) e deixe refogar por uns 10 minutos. Junte o arroz, o feijão verde (opcional), o camarão, a ervilha e os temperos. Misture tudo e acrescente água fervente suficiente para cozinhar tudo (4 ou 5 xícaras). Experimente o sal e mexa, misturando tudo muito bem (só uma vez). Tampe a frigideira e deixe cozinhar em fogo brando por cerca de 20 minutos (tem que ficar meio úmido). Espalhe por cima o cheiro verde e enfeite com os mariscos abertos, camarões gigantes ou lagostins pré cozidos em água e sal. Apague o fogo e deixe a frigideira abafada (com a tampa e um pano úmido por cima) por uns 10 minutos, antes de servir.

4 comentários:

  1. Caro João..
    O seminário era e ainda é refúgio e/ou saida para muitos meninos pobres.
    Creio ser esta uma das razões pelas quais , muitos jovens abandonam o seminário, quando descobrem sua verdadeira vocação.
    Outros preferem a proteção da batina para darem vazão a seus intintos homossexuais, restando a uma minoria verdadeiramente convicta de sua vocação e de seus deveres, o exercicio da profissão.
    não deve ser nada facil resistir às tentações mundanas, quando os apelos da carne são maiores que os apelos da alma..
    Enfim, ainda bem que restou do Paco a paella para vc nos ensinar a fazer.
    Eita coisa boa!!!

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  2. Olha, eu até entendo que é difícil segurar os desejos da carne,tantos os héteros como homos. Mas a repressão sexual que o celibato impõe não justifica a pedofilia. Por que surgem tantos desses casos na Igreja?!
    João

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  3. Também não sei, mas não acho que tenha a ver com o celibato não, porque pessoas casadas também praticam pedofilia. Padres, pastores, médicos, advogados, professores, pedreiros, carpinteiros, e até mendigos praticaram esse ato desprezível. A pedofilia não escolhe idade, profissão, estado civil ou religião.

    A medicina entende que seja um distúrbio neurológico, uma doença mesmo. Mas mesmo que seja uma doença é inaceitável o mal que o pedófilo causa a uma criança, ou a quem quer que seja.

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  4. CAro confrade e amigo João!
    A história do padre Pato digo Paco me deixou sôfrego para saborear uma suculenta paella!!!... Em Santos tem um Restaurante, o "Vista ao Mar", que prepara uma paella deliciosa!!!...
    Caloroso abraço! Saudações Valencianas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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