Prá falar a verdade, no momento, esqueci-me do nome dela. Mas é Tia da Marlene, mulher do Ciro Ney, meus amigos. Aliás, nós todos a chamamos por Tia e ela é uma figura ímpar, umverdadeiro barato!
Muito embora já tenha passado a casa dos setenta, é uma mulher vaidosa e bem bonitona. Não aparenta a idade que tem... Disse-nos que na juventude, ela e as irmãs foram famosas bela beleza. Eram conhecidas como as "morenas da paineira", pois moravam numa chácara, pertinho da cidade e na porteira de entrada, havia uma árvore dessa, bem grande.
Pelo gosto do pai, elas deveriam casar-se com doutores ou fazendeiros e preparou-as para isso. Todas sabiam tocar piano, receberam aulas de etiqueta e falavam o francês fluentemente. Mas, designos do destino... nada disso aconteceu! A mais velha casou-se com um violeiro, a Tia, com um caminhoneiro e a mais nova, tornou-se professora e solteirona.
A mulher do violeiro ficava acordada, noites e mais noites, à espera do marido, o qual, invariavelmente, chegava bêbado e com a viola fora do saco. E, ai dela, se reclamasse! Levava violada na cabeça... Bebeu tanto, até morrer com cirrose hepática.
O marido da Tia era um romântico e ela, apaixonada, não se cansava de elogiar o maridão. Sujeito trabalhador, passava semanas e semanas na estrada, a fim de trazer conforto para ela e aos filhos! Toda a vez que retornava de Belém do Pará, trazia-lhes pupunha, cupuaçu, açaí e outras frutas típicas daquelas terras.
O que ela não sabia é que quando ele para lá voltava, também levava jabuticabas, uvas, pinhão e goiabada cascão para a família que mantinha em Belém: mulher e dois filhos...
Acabaram contando para ela e a Tia ficou desarvorada, sem saber o que fazer. A irmã solteirona dizia-lhe para abandonar o marido. A viúva, aconselhava: "Fica com ele, pois eu sei o que é solidão... É melhor dividir um bife do que comer agrião!"
Mulher ferida não raciocina e... o homem foi-se embora. A coitada ficou com uma pensão tãomerreca, que mal dava para pagar o aluguel. Aos poucos, vendeu tudo o que tinha. De valor, mesmo, só lhe restaram o fusca vermelho e um anel de brilhantes. Já no fim do poço, a irmã deu-lhe a idéia: "Vamos até Aguaí, lá tem um macumbeiro dos bons e com a a ajuda dele, teu marido volta para casa. Foi ele quem fez meu finado parar de beber..."
A Tia estranhou aquele papo: "Mas, se teu marido morreu com cirrose?!" A irmã ponderou: É, morreu... mas, uns dias antes, ele tinha largado da bebida!
O "pai de santo" afirmou-lhe que o marido voltaria para casa, dentro de três semanas, em troca do anel de brilhante que ela trazia no dedo. Ela concordou e aguardou. Passaram-se duas, três, quatro semanas e... nada!
De volta à Aguaí, dessa vez, o homem conduziu-as a um ranchinho no quintal, cheio de imagens com chifres e capas vermelhas: _ É, minha filha, os exús de Belém são bem fortes! A outra mulher fez um trabalho dos grossos, para segurar teu marido. Vai ser preciso muito dinheiro para quebrar as correntes. Quanto você pode pagar?
Acabou deixando o fusca, levando a promessa de que, antes de dois meses, o marido estaria entrando em sua casa: _ E pela porta da sala!
Numa tarde, lá pela hora da "Ave-Maria", a Tia viu estacionar à porta, uma perua de resgate. Dois homens entraram pela porta da sala, transportanto o corpo de seu marido. O caminhão, carregado de laranjas, havia tombado numa curva, próxima à Atibaia e o único endereço que encontraram nos documentos do acidentado, foi aquele, o da casa da Tia.
Dessa vez, a macumba deu certo e, naquele momento, veio-lhe à mente, as palavras do "pai de santo": _ Muito cuidado com o que pedes aos espíritos, pois eles poderão atender-lhe...
Acho que aí no texto, eu falei sobre pinhão e então, lembrei-me dessa receita muito boa:
ARROZ MORENO COM PINHÕES: 2 copos de arroz, 4 colheres (sopa) de óleo, 4 dentes de alho picados, 1 cebola pequena picadinha, sal, água e pinhões (já cozidos e cortados em lâminas bem finas). Lave o arroz e espere secar bem. Frite no óleo a cebola e o alho, até ficarem queimados. Junte os pinhões e frite mais um pouco. Acrescente o sal (pouco) e o arroz. Misture até ficar moreninho. Junte a água fervente, abaixe o fogo e espere secar.
Não tenha medo de queimar, pois o segredo está aí. Use pouco sal, pois o sabor fica a cargo do alho e da cebola queimados.
Que azar dessas irmãs!!
ResponderExcluirDas 3, a solteira acabou se dando melhor, pelo menos não foi traida.
Se fosse o contrário,ou se fosse nos dias atuais, tenho a impressão q a história seria outra.
"É melhor dividir um bife do que comer agrião", essa foi ótima..rsss...
Vc esqueceu do titulo ?!
Caro amigo João!
ResponderExcluirJá que você não colocou o título atrevo-me a sugerir um!!!... Que tal este? "A sina de cada um".
Será que foi a irmã solteirona que arcou com as despesas do enterro do corpo do marido?
Caloroso abraço!!!!... Saudações especulas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP
Putz, meus amigos! Pensei tanto num nome para o personagem e acabei sem batizar a Tia. Portanto, fica "A TIA" como título, mesmo...
ResponderExcluirObrigado
João