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"Crenças e Desavenças" - Editora Baraúna
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quinta-feira, 20 de maio de 2010

A TIA - II

Descobri o nome das três morenas da paineira: Alzira, Elmira e Elvira. A do meio é a Tia.

No último aniversário do Ciro Ney, nós fizemos Tia Elmira tomar quase uma garrafa inteira de cachaça. Até colamos, no rótulo da bebida, um papel escrito: "da Tia". E ela bebeu... a noite toda! Disse-nos que estava chateada pois seu dia havia sido muito complicado, por força das limitações que a idade lhe impunha e pela incompreensão das pessoas.

Após meia garrafa de cachaça, ela contou-nos a razão de suas mágoas: Naquela manhã ela acordara bem contente, pois iria almoçar na casa do Landão, um antigo amigo. Estranhou o fato de estar sem a dentadura de cima e não se lembrava de tê-la tirado para dormir. Procurou na gaveta do criado mudo, na penteadeira, na pia do banheiro e nada!! Desesperada, ligou para o amigo, mentiu que estava com uma forte enxaqueca e cancelou o almoço: Jamais sairia sem dentadura...

Mais tarde, quando foi arrumar e alisar as cobertas da cama, sentiu algo saliente. Era a dentadura que escapara de sua boca, enfiando-se num buraco do velho edredom. Retornou para o Landão, confirmando sua presença, "já que a enxaqueca havia passado."

O amigo serviu feijoada e tomaram várias caipirinhas. A sobremesa foi uma espécie de torta de chocolate, chamada Tiramissú, deliciosa mas que, definitivamente, não combina com feijoada e cachaça!

De repente, a dor de barriga apertou... Percebendo que a "explosão" seria terrível, não quis usar o banheiro de Landão e foi despedindo-se às pressas. Morava no final da avenida mas, já no começo, sabia que não daria tempo de chegar.

Pelo meio do caminho, entrou numa loja das Casas Pernambucanas, mas a balconista ruiva, "com unhas de puta", foi categórica: _ O toilette é só para funcionários!

Percebendo que não adiantava insistir, branca como os lençóis que a balconista dobrava, Tia Elmira saiu da loja, cambaleante: _ Meu Deus, não vou aguentar!

Um pouco mais adiante, ela topou com uma jovem, com roupas de enfermeira que saía de sua casa, com as chaves na mão. Enquanto a moça encostava o portãozinho do corredor, a Tia agarrou seus braços, desesperada: _ Filha, pelo amor de Deus! Deixe-me usar teu banheiro?

_ Ah, larga do meu braço sua velha doida! Eu já estou atrasada e não vou abrir a casa para ninguém... A Tia, com as pernas cruzadas e as mãos na barriga, ainda insistiu: _ Por favor, estou quaze fazendo nas calças! A enfermeira respondeu-lhe com a bunda e assim que dobrou a esquina, Tia Elmira empurrou o portãozinho e correu para uma pequena varanda, no fundo do quintal.

Agachou-se e foi aquela pororóca! Sentiu até os pelos dos braços arrepiarem-se de tanto alívio. Como não achou papel, limpou-se com um lençol branco que encontrara no varal. Saindo dalí, retornou à Loja da Pernambucanas e procurou a mesma balconista ruiva que lhe recusara o toillete. _ Pegue para mim dois lençóis brancos, dos mais caros que tiver na loja.

Após a venda, a moça perguntou-lhe: _ A senhora vai usar o crediário?

A Tia, com ar de desdém, respondeu-lhe: _ Não, filha... eu compro com cartões de crédito. Quem usa crediário são as balconistas ou enfermeiras!

Pediu papel e caneta emprestados, escreveu um bilhete e voltou à casa da enfermeira. Olhou para a varanda e riu-se do estrago que aprontara. Estendeu os dois lençóis novos no varal e deixou, preso ao arame, o seguinte recado: _ Sou velha, mas honesta!!

Tudo bem, não deveria mas...vou deixar a receita da sobremesa italiana:

TIRAMISSÚ: 4 ovos; 4 colheres de açúcar; 300 gramas de requeijão firme (mascarpone); 1 lata de creme de leite (sem soro); 1 pacote de biscoito champagne; 1 colher (de chá) de baunilha; 1 colher (sopa) de licor de cacau ou brandy; 1 xícara grande de café e 100 gramas de chocolate meio amargo raspado ou chocolate em pó.

Bater as gemas com o açúcar, adicionar o requeijão, o creme de leite e bater mais. Misturar com as claras em neve, até ficar um creme uniforme. Juntar o licor (ou brandy) ao café, molhando os biscoitos nessa mistura. Forrar uma travessa com os biscoitos molhados e espalhar metade do creme por cima. Dispor outra camada de biscoitos e o resto do creme. Alisar bem e espalhar o chocolate (raspado ou em pó). Levar à geladeira.

10 comentários:

  1. Caro amigo João!
    Gostei de conhecer mais amiúde a tia!!!... Será que ela conhece a Dona Miquelina?!... Não sei não, mas pelo seu relato a tia tem todas as características de pertencer a Ordem das Filhas de Maria sem calcinhas!!!!
    Caloroso abrarço!!! Saudações aliviadas!!!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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  2. Professor, tenho quase a certeza que ela pertencia a essa Ordem. Vc fez-me lembrar de outra passagem da tia. Ao ganhar uma blusa (daquelas, sem alças e que esticam)de sua sobrinha, pensou que era saia e a vestiu. Como ficou muito curta e apertada, ela ligou para a sobrinha e disse que não iria usar a saia pois marcava muito a calcinha. rsrs
    Abraços
    João

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  3. Essa tia é do couro grosso. João Batista!
    sabe o que pensei, quando vc disse que não tinha nada para ela limpar o estrago no fundo do quintal? É que ela iria meter a mão no mato e puxar urtiga. Sairia correndo como louca e deixaria até a dentadura (kkkkkkkkkkkk).

    Legal seu blog, João, vou voltar sempre.

    ABÇS

    Juninho - SAMPA

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  4. João Batista, eu adoro o Edward e o blog que ele conduz. Agora que vc passou a escrever lá e sei que são amigos, cá estou, lhe seguindo. Gosto também do que vc escreve. Bons contos, sempre engraçados, como esse da tia.

    Bjos

    Andressa - Cásper Líbero - SP.

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  5. Pois é, Juninho, põe couro grosso nisso!!! Pior que ela existe...
    ABS
    João

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  6. Oi, Andressa! tudo bem, lindinha?
    Fico feliz com teu comentário
    Grande abraço
    João

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  7. Joãoamigo

    Encontrei-te no PANORAMA do nosso Pedrão Luso de Carvalho. Que é excelentíssimo. Portanto, vim aqui ao teu e dou-te os meus parabéns (€€€€ não tenho…), pois gostei.

    Sou jornalista ancião, vou fazer 69... anos, e dizem que escritor. Para o que me havia de dar. Mas, a vida é assim... Podes ver as minhas desgraças, lá no meu covil, sem 40 ladrões, ainda que por cá, em Portugal, seja o que não falta. hahahaha

    Tem um aspecto gráfico estupendo. Eu, que já leccionei em duas universidades, numa delas especificamente dei Jornalismo Gráfico, aprecio este tema, como deves compreender.

    É a altura da pedinchice (repito, não se trata de €€€€€) tipicamente tuga: quando fores à Minha Travessa, serás bem-vindo e não pagas nada – é grátis. Se te inscreveres com (per)seguidor, então vai ser uma festa. Mulţumesc frumos! Que é gracias em romeno…

    Abs

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  8. Boa Noite, Antunes!
    Agradecido por ter visitado meu blog e pelas amáveis palavras. Vou lá conhecer o teu e deixar minhas impressões.
    Forte Abraço
    João

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  9. Olá João!
    Depois da diarréia da tia, nem quis ler sua receita, principalmente porque você já deixou o recado: "Tudo bem, não deveria mas...vou deixar a receita da sobremesa italiana". E mandou ver nos ovos e no creme de leite.
    Cá entre nós, meu bom amigo, creio que não existe coisa pior do que ser pego desprevenido no meio da rua com uma terrível dor de barriga. Não me lembro de ter acontecido comigo, felizmente. Como dizem que sempre tem a primeira vez, bom ficar prevenido, principalmente agora, nesta faixa dos 60 anos. Um médico amigo meu brinca ao afirmar sempre: "o que mata "véio" é tombo, pneumonia e caganeira".

    Abração, amigo!

    Edward de Souza

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  10. Caro Edward,
    Normalmente, quando minha crônica versa sobre algum acontecimento não muito agradável, eu nao posto receitas. Quando muito, acrescento algumas amenidades ligadas à culinária como por exemplo: relação de pesos e medidas, ervas aromáticas, chás, etc... Mas, como eu não gosto muito de Tiramissu, resolvi colocar a receita já que fez parte do "causo".
    Fraternas saudações
    João

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