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"Crenças e Desavenças" - Editora Baraúna
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sexta-feira, 16 de julho de 2010

AS COMADRES

As comadres Gilda e Laura (minha tia) eram íntimas amigas e vizinhas de muitos anos. Eram tão amigas que quando foi inaugurada a segunda etapa do cemitério local, resolveram comprar túmulos vizinhos. Três: um para a Gilda, outro para a Tia Laura e o terceiro para o Tio Joaquim. Mandaram construir uma espécie de altarzinho (com local para fotografias) nas cabeceiras dos túmulos, encimados por um cruz.

Mas, como não há mal que sempre dure e nem bem que não se acabe", certo dia essa forte amizade acabou-se e de forma trágica. Surgiu, não me lembro como, na casa de meus tios, um novo morador chamado de Toniquinho. Parece-me que era um conhecido antigo que ficou sozinho na vida e sem ter onde morar, foi acolhido pelo meu tio e adotado pela família. Era muito educado, fino mesmo e nem tão velho assim...

Para compensar a boa acolhida, ele fazia de tudo na casa, inclusive ajudava minha tia a arrematar as roupas; cerzia os bolsos nas camisas, pregava os botões e caseava (fazia aqueles buracos de enfiar os botões). Tanta eficiência acabou por despertar ciúmes na comadre Gilda que começou, maldosamente a espalhar no bairro que sua comadre e Toniquinho eram amantes...

Tamanha "fofoca" girou rápido e logo chegou aos ouvidos de minha tia. Prá quê!! De repente, aquela santa mulher virou uma "serial Killer" e armada de uma enorme foice foi tirar satisfações com a vizinha. Gilda estava na janela, aliás, parecia-me que ela nunca tinha nada para fazer pois, se não estava na casa dos outros, ficava de braços cruzados na janela.

Minha tia, da calçada, riscava o corte da foice no cimento até soltar faíscas e chamava a outra para fora: "Vem cá, sua vaca, eu vou cortar tua língua! Saia aqui fora se for mulher." A Gilda de lá respondia: "Vaca és tu... Vaca de dois touros! Tia Laura azulou, pulou o muro disposta à carnificina. A mulher fechou a janela apressadamente mas minha tia estraçalhou a madeira com a foice.

Enquanto tentava pular a janela, meu tio e mais alguns vizinhos tentaram segurá-la mas ficaram com as saias nas mãos. Tia Laura entrou e lá de dentro só se ouviam gritos desesperados. Quando conseguiram conter minha tia, encontraram a Gilda esparramada no chão, deitando sangue pela rosto. Fora atingida com o cabo da foice, num golpe tão forte que abriu-lhe um "rombo" na testa.

Chamaram a perua do SAMDU (ambulância da época) e levaram a Gilda que voltou mais tarde com um vários pontos e um curativo enorme na testa. As duas nunca mais se falaram.

Morreu minha tia, morreu o Toniquinho e alguns anos mais tarde, foi-se também o meu tio Joaquim. A Gilda sobreviveu, ainda, por mais de trinta anos e morreu daquela maneira que eu relatei na crônica abaixo. Fui ao seu enterro e o que me chamou a atenção, além do episódio do velório, foi o fato de que seu túmulo fora transformado: O altarzinho saiu da cabeceira do túmulo e foi reconstruído nos pés, de costas para as fotos de seus antigos desafetos.

Como receita de hoje, em homenagem às sopas que minha tia fazia para "seus velhos" vou passar a:

SOPA DOURADA (DE ABÓBORA) : 2 kg de abóbora madura e picadas; 2 cubos de caldo de galinha; 1 peito de frango; 2 colheres (sopa) de margarina; 1 cebola picada; 1 lata de creme de leite (sem o soro); folhas de couve rasgadas. Cozinhe o peito de frango em 1 litro de água e 2 tabletes de caldo de galinha. Desfie, grosseiramente, o peito e reserve. Na água do caldo, cozinhe os pedaços de abóbora (10 minutos na panela de pressão). Bata a abóbora no liquidificador com um pouco do caldo e volte ao fogo. À parte, refogue o frango desfiado com 2 colheres (sopa) de margarina e a cebola batidinha. Junte o refogado de frango ao caldo de abóbora. Rasgue algumas folhas de couve e misture na sopa. Acrescente mais sal, se necessário e quando a couve estiver cozida, acrescente o creme de leite. Misture levemente e sirva com torradas ou queijo ralado. É divina!!!


6 comentários:

  1. Caro amigo João!
    Este conto deixou-me propenso a refletir como os mexericos podem ter consequências irreversíveis!
    Caloroso abraço! Saudações amistosas!
    Até breve...
    João Paulo de Olveira

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  2. Olá, professor! Estou contente com o fato de que você e talvez mais alguns amigos estarão presentes na Bienal para o lançamento de meu segundo livro. Não esqueça, será num sábado, dia 14 de agosto às 19 horas.
    Grande abraço
    João

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  3. Caro amigo João!
    Já anoitei!!!! Terei grande satisfação em conhecê-lo em carne e osso!!!...
    Caloroso abraço! Saudações Saramagoianas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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  4. Ah, crônica leve, uma delícia de ler!
    Além disso, sempre a 'conversar' com uma receita ;)


    Abraços carinhosos =)

    ... sempre lido!

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  5. Obrigado, Nadine!
    Se você mora em São Paulo, apareça no lançamento de meu novo livro, na 21ªBienal do livro, lá no Anhembi. Será no dia 14 de Agosto às 19 horas, no "stand" da Editora Baraúna.
    Terei prazer em conhecê-la
    Abs
    João

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  6. João, minha vó já dizia...
    "nossa lingua é a perdição da humanidade".

    Nossa! Que consequência desastrosa, final triste... por causa de uma fofoca.
    Devemos mesmo refletir sobre isso, como disse nosso amigo João Paulo de Oliveira.
    Vou passar seu link para meu irmão de adicionar.
    Abraços: Tia Ném.

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