
Zoraide, desde mocinha foi, a contragosto, internada em um convento, destinada a ser freira e assim que vestiu o hábito, foi mandada para Portugal, a serviço de Cristo.

Lá ficou, por muitos anos, em terras de Alentejo, até que numa tarde de verão, sentada à janela do velho convento e bordando uma nova toalha para o altar de Santa Adelaide, pegou-se a admirar o jovem jardineiro que cuidava dos canteiros de rosas.
Sentindo um "fuxico" na barriga, suspirou: “Não suporto mais essa merda de vida!” Jogou para longe o bastidor de bordar e desandou a chorar, histericamente.
Na mesma tarde, comunicou à superiora sua decisão: “Vou voltar ao Brasil e me casar!” Por mais que a Madre tentasse persuadi-la foi tudo em vão; devolveu o hábito e a aliança de “esposa de Jesus”, voltando para casa “pelas asas da TAP”.

Mas, antes que a marca desaparecesse de vez, ela já estava de namoro com um primo meio distante e também solteirão, chamado Orlando: o “Landão Pé de Mesa”.

A festa de casamento prometia ser muito boa mas quando minha mãe recebeu o convite das mãos de Dona Rosa “Bolacha”, escutou a recomendação da velha: “Dona Alzira, a festa é só para os adultos, ninguém pode levar crianças!”

Mas, nós ficamos “aguados”e minha prima Terezinha chegou até a ter febre com vontade de ir. Daí, então, nossas mães combinaram um plano de desagravo: “Nós não vamos, mas eles irão!”
Na hora da festa, os 20 primos, vestidos com “roupas de missa”, foram invadindo o imenso quintal de “seu” Guerino, todo embandeirado e iluminado.

Bom, resumindo, o bolo não deu nem “pro cheiro”.
Para terminar a estória, posso dizer que o casamento da Zoraide não durou nem dez dias, ao final dos quais, o “Landão Pé de Mesa” devolveu a moça, virgem como sempre foi.
A união não se consumou pois quando a coitada, inocente, percebeu a razão do apelido do marido, desandou a gritar de medo e nem o deixou encostar-se nela...

A ex-freirinha aprendeu, lá no convento, a fazer diversos tipos de confeitos e passou a ser a doceira de nosso bairro. Com ela aprendi as “balas de noiva” (alfenins) e uns pasteizinhos de Natal que até hoje fazem sucesso. Vou transcrever a receita dos pastéis, já que as balas alfenins são mais difíceis..

Cozinhar tudo junto (menos as uvas passas), mexendo sempre, até soltar-se do fundo da panela.
Massa – 3 ovos; 1 kg de farinha de trigo; ½ kg de açúcar; ½ litro de leite; 1 colher (sopa) de pó Royal. Misturar tudo e sovar até o ponto de abrir com o rolo.
Fazer os pastéis pequenos, rechear, acrescentando 2 uvas passas em cada recheio. Fritar em óleo bem quente.