Dos 11 filhos de “seu” Guerino, 7 eram mulheres e todas tinham os nomes começando com a letra “Z”. A primeira chamava-se Zulmira e por ser a mais velha, ajudou a criar os irmãos mais novos, cuidando dos pais até morrerem. Ficou, por conta disso, solteirona. As demais, se bem me lembro, eram: Zuleika, Zenaide, Zilda, Zoraide, Zélia e Zelinda (a mais nova, mãe do Amaral). Zoraide, desde mocinha foi, a contragosto, internada em um convento, destinada a ser freira e assim que vestiu o hábito, foi mandada para Portugal, a serviço de Cristo.

Lá ficou, por muitos anos, em terras de Alentejo, até que numa tarde de verão, sentada à janela do velho convento e bordando uma nova toalha para o altar de Santa Adelaide, pegou-se a admirar o jovem jardineiro que cuidava dos canteiros de rosas.
Sentindo um "fuxico" na barriga, suspirou: “Não suporto mais essa merda de vida!” Jogou para longe o bastidor de bordar e desandou a chorar, histericamente.
Na mesma tarde, comunicou à superiora sua decisão: “Vou voltar ao Brasil e me casar!” Por mais que a Madre tentasse persuadi-la foi tudo em vão; devolveu o hábito e a aliança de “esposa de Jesus”, voltando para casa “pelas asas da TAP”.
Lembro-me de sua chegada, numa roupa meio fora de moda, um lenço na cabeça para esconder os cabelos ainda tosados e _ o que mais marcou em minha lembrança _ a marca branca na testa, sinal do hábito que usara durante mais de 20 anos. Aquela marca precisou de algum tempo e bastante sol para desaparecer...Mas, antes que a marca desaparecesse de vez, ela já estava de namoro com um primo meio distante e também solteirão, chamado Orlando: o “Landão Pé de Mesa”.
A família deu graças a Deus pois a situação da moça incomodava a todos, carolas que eram! O rapaz comprou uma casa perto do hospital, mobiliou-a inteiramente e “seu” Guerino providenciou o enxoval às pressas. A festa de casamento prometia ser muito boa mas quando minha mãe recebeu o convite das mãos de Dona Rosa “Bolacha”, escutou a recomendação da velha: “Dona Alzira, a festa é só para os adultos, ninguém pode levar crianças!”
Mas, nós ficamos “aguados”e minha prima Terezinha chegou até a ter febre com vontade de ir. Daí, então, nossas mães combinaram um plano de desagravo: “Nós não vamos, mas eles irão!”
Na hora da festa, os 20 primos, vestidos com “roupas de missa”, foram invadindo o imenso quintal de “seu” Guerino, todo embandeirado e iluminado.
O Amaral, neto dos velhos e meu amigo, correu para nos dar o recado: “Minha avó falou para vocês irem embora porque a festa é só prá adultos...” A Lila que era a mais velha dos primos, tomou a dianteira e rosnou; “Quero ver ela tirar a gente daqui... Vamos aprontar o maior escândalo!” Bom, resumindo, o bolo não deu nem “pro cheiro”.
Para terminar a estória, posso dizer que o casamento da Zoraide não durou nem dez dias, ao final dos quais, o “Landão Pé de Mesa” devolveu a moça, virgem como sempre foi.
A união não se consumou pois quando a coitada, inocente, percebeu a razão do apelido do marido, desandou a gritar de medo e nem o deixou encostar-se nela...
Com o tempo, transformou-se em “ministra da eucaristia”, levando aos doentes o conforto da oração e o consolo da comunhão.A ex-freirinha aprendeu, lá no convento, a fazer diversos tipos de confeitos e passou a ser a doceira de nosso bairro. Com ela aprendi as “balas de noiva” (alfenins) e uns pasteizinhos de Natal que até hoje fazem sucesso. Vou transcrever a receita dos pastéis, já que as balas alfenins são mais difíceis..
PASTEIZINHOS DOCES DE NATAL : Recheio – ½ litro de leite; 1 kg de batatas inglesas cozidas e passadas no espremedor; ½ kg de açúcar; 1 noz moscada ralada, casca de 1 limão ralada e uvas passas.Cozinhar tudo junto (menos as uvas passas), mexendo sempre, até soltar-se do fundo da panela.
Massa – 3 ovos; 1 kg de farinha de trigo; ½ kg de açúcar; ½ litro de leite; 1 colher (sopa) de pó Royal. Misturar tudo e sovar até o ponto de abrir com o rolo.
Fazer os pastéis pequenos, rechear, acrescentando 2 uvas passas em cada recheio. Fritar em óleo bem quente.















Sinto saudade de quando meu pai ou algum dos irmãos mais velhos me acordava, tipo quatro ou cinco horas da manhã para acompanhá-los até ao sítio. Iam buscar os latões cheios de leite e trazê-los de volta à cidade para serem entregues na LECO, companhia de laticínio da região. Eles carregavam-me consigo, um tanto para fazer companhia e mais para abrir as porteiras que eram inúmeras
O local onde as vacas leiteiras ficavam chamava-se estábulo ou
O
Chegando em casa, descarregava toda a
No domingo seguinte, enquanto o
O coitado, sem saber o que fazer, subiu no telhado e foi esconder-se dentro da caixa d'água. Puxou a pesada tampa de amianto e ficou ali, quietinho, com água pela boca. De vez em quando, meu irmão dava um tiro para o ar, em meio à gritaria dos comparsas. Por mais de uma hora o safado ficou tiritando de frio, com medo de descer.

