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domingo, 27 de março de 2011

O PEDRO FARINHEIRO - II

(para melhor entendimento, leiam a 1ª parte, dia 18/03

 Após a tentativa frustrada de suicídio, Pedro tornou-se outro homem: passou a valorizar a vida, abraçar árvores, sorrir para as flores e até mesmo a gostar de si mesmo e a rir de seus peidos. 
Apesar de ter ficado sem um pedaço da orelha e de ter que usar o velho par de óculos de uma perna (ou braço?!) só, não se sentia mais um injustiçado por Deus.

A partir de então, quando ia à cidade entregar lenha, seguia conversando, alegremente, com a mula recentemente adquirida e batizada de Serafina:
“Vamos ligeiro, minha amiga! Quem sabe não será hoje que conhecerei a mulher de minha vida.”

 Passou a reparar nas pessoas, a ficar falante e a “tirar linha” com as mocinhas da cidade. Percebeu que algumas delas “davam corda” e isso  fazia o jovem sentir-se como um Rodolpho Valentino ou um John Barrymore, galãs da cinematografia d’antão. Usava sempre o chapéu meio que do lado, um tanto para dar pinta de herói e mais para esconder a orelha mutilada.

Seu Joanicão, dono da casa de moagem e torrefação de farinhas, tinha uma filha chamada Helena. Filha única, já pela casa dos vinte e tantos mas ainda solteira. Pedro começou a cortejá-la de longe. 
 Não era muito novinha, devia até ser mais velha do que ele, mas era uma “mocetona”, de corpo grande e forte, bonita de se ver!

 As noites do rapaz  passaram a ser povoadas de sonhos inquietantes sendo que, muitas vezes, acordava no meio da noite com o “coração na boca”,  peito palpitante e o corpo suado. Estava apaixonado...

Mais afoito ficou quando percebeu que sua paixão fulminante estava sendo correspondida, de leve a princípio e mais forte a medida em que os olhares iam perdendo o pundonor inicial. Fugidia que era, a moça foi-se deixando levar ao sabor daquele enlevo e toda a vez que ouvia o trotear compassado de Serafina, corria à janela, com as faces afogueadas e as pernas bambas.
 Enquanto seu pai ajudava a descarregar a carroça, a embarcar sacos de farinha ou de fubá em troca da lenha, os dois jovens cruzavam olhares cúmplices e maliciosos.

 Numa manhã, pela ausência do pai, Helena teve que atender ao enamorado. Pedro seguiu-a até ao moinho de fubá, meio anestesiado pela emoção, e enquanto ele segurava o saco de aniagem, ela, munida de uma concha grande, de alumínio batido, recolhia o fubá de um caixote baixo para o saco. 

Vendo o abaixar-se e o levantar-se contínuo da moça, Pedro ficou extremamente  excitado e num rompante de insensatez, grudou-se nos quadris da amada. Helena, tensa que estava, deu um berro assustado e numa reação automática, meteu a concha de ferro na cabeça do rapaz, cortando-lhe um pedaço da outra orelha, a que era perfeita...

Quando seu Joanicão chegou e viu a filha curando a orelha de Pedro, quis saber a razão e a explicação que ouviu foi que ao apertar a cinta “barrigueira” da mula, o rapaz levou um coice certeiro do animal. Pedro ainda acrescentou: “Pois é, seu Joanicão, essa mula é uma desgraça de brava e traiçoeira!”

 “A Mula não é brava não _ replicou Helena, com toda a calma maliciosa _ Você é que pegou ela no susto...”

Anos mais tarde, sempre que alguém lhe questionava o porquê de usar sempre um gorro "atolado" na cabeça, ele dizia para a esposa: "Conta ai, Helena!"
A gorda senhora, em entremeios a sonoras gargalhadas, não se cansava de repetir a mesmas estórias, decisivas na vida do marido..

O receituário para o fubá é extenso, principalmente na cozinha mineira e escolhi para hoje uma receita, que aprendi quando morei em Poços de Caldas/MG, de broinhas mineiras que não é qualquer um que tem "saco" para fazer e lanço o desafio:
 BROINHAS DE FUBÁ: (Usar como medida um copo grande) - 1 copo de leite; 1 copo de água; 1/2 copo de gordura vegetal; 1 copo de fubá; 1 copo de farinha de trigo; 1/2 copo de açúcar; 2 pitadas de sal; 1 colher (sopa) de erva-doce; 1 colher (sobremesa) de fermento em pó e 6 ovos inteiros. Levar ao fogo uma panela com o leite, a água e a gordura. Quando levantar fervura, acrescentar os demais ingredientes (menos os ovos). Mexer (colher de pau) vigorosamente, até desgrudar do fundo da panela. Tirar do fogo e deixar amornar. Juntar o fermento em pó e misturar bem. Por último, acrescentar os ovos, um a um, misturando com as mãos. Umedecer uma xícara (chá), de fundo arredondado, com água e polvilhá-la com fubá. Jogar porções de massa na xícara e agitá-la até formar pequenas bolas. Despejar cada bola em tabuleiros untados e enfarinhados. Assar em forno quente. Sirva com café preto da hora.


12 comentários:

  1. OI JOÃO, ACABEI DE POSTAR UMA RECEITA DE TOMATE SECO, MUITO BOA... VÁ LÁ CONFERIR.
    ABRAÇOS

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  2. Olá João,

    Obrigada pela visita e pelos comentários!!!!
    Apareça sempre que quizer, será sempre bem vindo!!

    Abraços

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  3. Olá João, estou retribuindo sua visita.
    A colher que adiciona ao óleo para dourar a carne assada é de chá e rasa, tá? Adorei o texto do seu perfil, dei boas risadas, já estou seguindo seu blog, para acompanhar as novidades.
    Até a próxima!

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  4. Oi, Cristina! Obrigado pelo retorno e espero que fiquemos amigos.
    Enquanto procurava uma receita de bolo com milho verde, encontrei teu blog e gostei demais.
    Estou aqui, a fazer o bolo com bagaço de milho e ao mesmo tempo, cozinhando um curau. Maior bagunça na cozinha (ainda bem que é roça! rsrs)
    Abs
    João Batista

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  5. e ai joãozão, beleza! o tomate rasteiro é o italiano, aquele mais compridinho. ao finalizar a receita experimente e sinta o que faltou para o seu paladar.
    eu gosto bem apimentado, da muita sede, pra gente tomar bastante rabo de galo, cerveja, wisky......
    um abraço e fiquem com DEUS.

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  6. João, visitando um blog amigo, encontrei o seu, e vim dar uma espiada.Adorei o que vi, já estou te seguindo.
    Adoro uma boa estória e crônicas, e quase rachei de rir, com esta do Pedro Farinheiro, uma malícia sutil e bem humorada, própria da elegância de um verdadeiro escritor.
    Parabéns,adorei a crônica e a receita.
    Tenho um blog de culinária, se quiser visitar, será bem-vindo.

    www.mundodosabor.blogspot.com

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  7. Rodrigão, vou fazer esse tomate na próxima semana e depois te conto (se eu achar esse tomate nesse meu interiorzão paulista, rsrs)
    Forte abraço
    João

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  8. Oi, Menina!
    Como não achei teu nome lá em teu blog, vou chamá-la de "Menina", posso?
    Muito agradecido por tuas palavras, percebeu em cheio minha intenção: malícia e humor em dosagens certas, sem exageros.
    Gostei de ver que vc também é do signo de gêmeos, como eu. Tenho a certeza que ambos temos as características do signo. Muita alegria e ciatividade mas, vc sendo natural desse Estado maravilhoso, deve ser melhor que eu...
    Vou voltar ao teu Blog para dar palpites...rsrs
    Abs
    João

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  9. Caro amigo João!
    Se o que aconteceu com o Pedro Farinheiro fosse nos dias em curso certamente ele faria terapia.
    Caloroso abraço! Saudações terapêuticas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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  10. e ai meu amigo, tem uma receita nova de rocambole de carne moida, vai la visitar e faça no seu, forno a lenha .
    E a respeito do tomate,se você não achar o rasteiro,tenta fazer com o que você achar e se não ficar bom, eu te mando 1 kg por sedex.
    Abraço e fiquem com DEUS.

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  11. Olá João, obrigada pela visita lá no meu mundinho.
    Já havia ouvido falar sobre vc antes mesmo de me visitar, meu esposo (Rodrigão) falou-me sobre vc, que gosta de cozinhar e que tem fogão à lenha, além de ter um sítio, sonho do meu esposo, ele adora roça, me disse até que vc ia fazer o tomate seco.
    Que bom q vc gostou do blog, vou colocar seu link lá pra não perder nem um "causo".
    Abraços

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  12. Oi, Fran!
    Bom saber que você é esposa do Rodrigão. Vocês devem formar um belo par na cozinha.rsrs
    Sempre gostei de roça e foi só me aposentar e fugir pro mato (não é bem assim, pois meu sítio fica a dez minutinhos do centro da cidade). Pior que minha esposa detesta!!!
    Abs ao casal
    João

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