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"Crenças e Desavenças" - Editora Baraúna
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sexta-feira, 15 de abril de 2011

CHEIRO "ÓBSCENO NO AIRE"

 Semana que vem o País todo ficará impregnado pelo afrodisíaco aroma do bacalhau. Apesar dos preços proibitivos, em quase todo lar brasileiro o peixe estará presente à mesa.
Houve um tempo, porém, em que o bacalhau era muito, muito barato. Havia até um dito popular que dizia: "Para quem é, bacalhau basta!", uma forma de depreciar alguém.


 Nos "empórios" ou "Vendas", espécies de supermercados d'outrora,  vendia-se de tudo um pouco: farinha, arroz, fumo, querozene, mortadela, pinga, peneiras, jacás, panelas, botinas, sardinhas, bacalhau, etc...etc...) e as mantas de bacalhau ficavam penduradas,aos montes, sobre o balcão ou do lado de fora das portas dos empórios.


 Minha mãe costumava contar às suas comadres a centenária piadinha do ceguinho que ao passar defronte a um empório, sentindo o cheirinho do bacalhau, educadamente, levantava seu chapéu e cumprimentava: " Boa Tarde, minhas senhoras!"


Prá quem nao entendeu, vale explicar que nossas adoráveis avozinhas, imigrantes italianas, portuguesas ou espanholas não eram muito chegadas ao banho. Era uma vez por semana e olha lá! 


 Pois, pois... minha avó portuguesa, Adelaide, tinha um irmão - o Manoel Mendes de Oliveira - que trazia de Portugal caixas e mais caixas de bacalhau, sardinhas e tonéis de vinho. 


 No início, ele vinha uma vez por ano e depois, mais amiúde. A mulher dele, Maria Cardoso, ficava lá em Coimbra com os dois filhos adolescentes, enquanto ele aqui se esbaldava, vendendo suas mercadorias e se divertindo com as raparigas do bordel "Castelões", situado na rua Riachuelo.


 Numa dessas, ele apaixonou-se por uma mulata cujo apelido era "Rita do Cubatão" e montou casa para ela. Passou a estar mais tempo no Brasil e quando a amante ficou grávida, foi morar com ela numa casa de colonos na Fazenda Capituba ("Peituva", como ele dizia). Após o nascimento do "trigueirinho", ele voltou mais duas vezes para Portugal e depois não deu mais notícias para a família d'além mar.


 Passados dois ou três anos, Maria Cardoso com os dois filhos à tiracolo, aportou ao Brasil e munida do endereço de minha avó, veio dar com as caras em nossa cidade. Cientificada do paradeiro do marido, não teve dúvidas: com a ajuda dos filhos, deu uma surra na Rita e escorraçou-a da fazenda, juntamente com seu rebento. 


A familia, assim reunida, instalou-se numa casa no "Largo das Cabritas", perto da Igreja do Rosário e ali montou um empório de "secos e molhados". Enquanto ela e o marido ficavam no balcão, os filhos encarregavam-se de trazer mercadorias, de São Paulo e de Lisboa.


 Juntou uma boa grana, durante alguns anos de dura labuta, nunca se esquecendo da traição do português. Certo dia, limpando as burras do dinheiro aquinhoado com o comércio, partiu com os dois filhos para São Paulo, sem dizer adeus e nem sequer o endereço.


Nunca mais voltou e o coitado do Manoel acabou seus dias morando com uma tia minha, já que nem a mulata o quis mais, amigada que estava com um fazendeiro da cidade.


Desses parentes de minha mãe, nunca tivemos notícias, restando-nos apenas uma foto da robusta Maria Cardoso, ao lado de um de seus filhos.


Para quem não tem condições de comprar o bacalhau ou seja sovina demais, vai aí uma receita de um peixe de forno que fica até mais saborosa:


 Filés de Merluza (ou de Pescada) ao Forno:  1 Kg de filés, 1 Kg e meio de batatas, 6 tomates médios, 1 cebola grande picada, 1 copo de leite, azeitonas, louro, 1 colher (de sopa) de azeite de dendê,1 pacote de creme de cebola (em qualquer supermercado tem), azeite de oliva, nós moscada ralada, queijo parmezão ralado e 1 vidro de leite de coco.


Fritar a cebola, acrescentando os tomates e o louro. Refogar até desmanchar os tomates.


À parte, desmanchar o creme de cebola com o leite e o leite de coco, juntando à panela. Acrescentar o dendê, a pimenta, o cheiro verde e as azeitonas, mexendo até o creme dar a consistência. Por último acrescentar a nóz moscada ralada (1 colherinha de café bem rasa). Desligar o fogo e reservar.


Em uma forma ou pirex grande, dispor camada de fatias grossas de batatas, camada de peixe (temperado previamente com sal, limão e alho), camada do creme, camada de batatas e o restante do creme. Levar ao forno quente até cozinhar e secar um pouco a água que sempre surge.Espalhar queijo parmezão ralado por cima e levar novamente ao forno apenas para gratinar.

14 comentários:

  1. Caro amigo João!
    É sempre deleitante ouvir suas imperdíveis reminiscências, que além de nos possibilitar múltiplos viéses nos brinda com suculentas receitas!!!!
    Não vejo a hora de provar novamente seus disputadíssimos quitutes!!!
    Caloroso abraço! Saudações gulosas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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  2. Olá, Teacher!
    Hoje levarei um "escondidinho de carne seca" para uma reunião de amigos. Acabei de fazê-lo, só falta gratinar... ehehe
    Abs
    João

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  3. Olá João! Acho que vim atraida pelo cheiro do bacalhau!!
    Filha de portugueses, fui criada com muito bacalhau e azeite. Meu pai tinha um empório e isso facilitava as coisas.
    Minha avó fazia bacalhau todo dia. Era como nosso arroz e feijão, mas hoje, bacalhau só em dias de festa e olhe lá!!
    Nesta páscoa vai de feijoada mesmo!
    bjoss

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  4. e ai jão;tudo bem?
    vim pelo cheiro, tem bacalhau pra mim?
    to indo pra ai eim,saudades ..
    abração amigo.

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  5. Eh, Rodrigão! Mineiro gosta de bacalhau, também?! rsrs
    Abração
    João

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  6. Coitada da Rita!
    Coitada de todas as mulheres que sofrem do estigma do bacalhau,coitado do Sr.Manoel e graças pelo desaparecimento da senhora robusta e cruél que não amou,não foi amada e não deixou amar Tem gente que só enche o saco.
    To com uma saudade de você.Nunca mais recebi nem um emailzinho.
    Uma Pascoa recheada de bacalhau,eu compro iscas de bacalhau o que minha mãe jogava fora ,hoje é vendido.Ai eu cozinho com batats ,coloco muito alho frito e azeite e imagino que estou comendo uma posta bem deliciosa,porem essa sua receita é um escândalo vou fazer hoje.

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  7. João, me deleito com seus contos.Ri muito com a piada sobre o bacalhau, tinha uma vizinha de quando era criança, na Av. Madureira que fazia jus a este escrito .kkkkkkkkkk
    Confesso que não gostava muito de bacalhau ,(talvez fosse trauma)hoje gosto ,minha mãe faz uma salada deliciosa,com batatas,azeitonas.
    Fiquei com pena do Manoel, mas também ele não era flor que se cheire, abandonar a família e ficar sem dar notícia, mas também a Maria não sabe perdoar, o muiézinha marrenta.Quem se deu bem no final das contas foi a Rita.
    Adorei sua receita.

    www.mundodosabor.blogspot.com

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  8. Cris, tudo bem, minha amiga?
    Fartura dos velhos tempos, né? Bacalhau a dar com pau...rsrs.
    Hoje em dia tem que ser "batalhau"!!
    Abs

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  9. Thais, tudo bem, minha querida!
    Sabe que as vezes olho na foto da minha bisavó e fico imaginando como a gente perde elos da família dos quais nunca mais ouvimos falar! Naqueles tempos, também, tudo era muito difícil, né? Uma viagem daqui até a Capital era uma dificuldade. E com isso fico pensando também em minha filha e neta que se foram para os Estados Unidos e não pretendem voltar.É um elo que também poderá se perder de meus descendentes...C'èst la vie!
    Forte abraço

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  10. Menina, as portuguesas antigas eram duronas!
    Sabe, estive olhando teu perfil lá no "Mundo do Sabor" e pude mais uma vez constatar que as pessoas de nosso signo (gêmeos) têm as mesmas características que lhes são peculiares. A alegria nata e o amor familiar é uma constante. Tuas preferências relativas à literatura, música e filmografia batem com as minhas.
    Abraços
    JB

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  11. Querido amigo João!

    Com histórias (deliciosas com esta que acabas de contar) ou sem histórias, bacalhau é um prato dos deuses!

    Que maravilha poder acompanhar estes "causos" familiares que contas com tanta maestria!E as receitas, então? Saupimpas, como costumo dizer o nosso amigo, Professor JP!

    Um grande abraço,

    Nivia Andres
    Santiago, RS

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  12. Oi, Nívia! estou precisando de novas ideias para novas crônicas! Enquanto isso, vou repetindo aquelas do livro
    Abs
    João

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  13. Olá, vim retribuir a sua visita!!!
    Gosto muito da merluza feita deste modo!!!
    Abçs!!!

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  14. Então, Manu: fica bom demais!
    Agradeço tua visita e espero que estejas sempre por aqui.
    Abs
    João

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