LEIAM MEUS LIVROS

"Crenças e Desavenças" - Editora Baraúna
"Qual será o Sabor da crônica?" - Editora Baraúna
Cada título contém 40 crônicas e pequenos contos de pura alegria com o mesmo número de receitas "que dão certo". Pedidos através:
www.editorabarauna.com.br - www.livrariacultura.com.br - jbgregor@uol.com.br

sexta-feira, 15 de julho de 2011

"MADAME ZOHRA"

 Minha sogra, quando morou em Paracatu/MG, abriu um restaurante num grande posto de gasolina da saída da cidade. Lembro-me que o fogão era enorme, com oito bocas e ficava no centro da cozinha. Além do restaurante ela alugava alguns quartos, contíguos ao posto, para os inúmeros viajantes que por ali passavam, rumo à Brasília, Goiânia ou Unaí. 
Era uma vida muito dura, ganhava um bom dinheiro mas levava bastante calotes, também.

 Eu, que morava em Brasília, distante uns 200 km, adorava passar os finais de semana na casa dela; uma casa antiga dos tempos coloniais. Aliás, a cidade toda é um verdadeiro museu a céu aberto com casario e igrejas dos áureos tempos da mineração. Gostávamos de ir até as margens do rio Paracatu e seus pequenos afluentes para bater peneiras ou bateias.

 Nosso intento não era pegar peixes e sim tentar “garimpar” pó de ouro, metal ali abundante nos século XVIII e XIX,  tempos de Ana Jacinta de São José, a famosa Dona Beija, sua mais ilustre moradora. Ainda guardo um pequeno frasco cheio do valioso pozinho dourado, fruto de nossas aventuras garimpeiras.

Minha sogra resolveu fechar o restaurante após ter levado calote de um cearense muito alegre e falante que “levou a velha no bico” e por ali ficou por mais de um mês, comendo, bebendo e dormindo. Fugiu sem pagar a conta, deixando umas sacolas no quarto onde dormia e quando minha sogra foi “confiscar seus bens”, só encontrou duas redes velhas e várias bermudas e camisetas sujas.

 Passou a fazer bolos doces e salgadinhos para festas, pois não queria sair da cidade e muito menos morar conosco em Brasília. A bem da verdade, eu dava graças a Deus pois sempre fui partidário daquela máxima que ensina: “a sogra não deve morar tão longe a ponto de vir com malas e nem tão perto a ponto de vir só de chinelos...”

 Para complementar sua renda, passou a ler sorte e eu fui o causador dessa transmutação da excelente cozinheira que era para uma esperta “Buena Dicha”...Ela era descendente de espanhóis, da Catalunha, e sua sala era lotada de objetos  relacionados à Espanha: touros, castanholas, dançarinas de flamenco, leques e quadros de toureiros.

 Olhando tudo aquilo, certo dia, tive a brilhante idéia: “Cybelle; já que você está nesse aperto danado, porque não começa a ler sorte. É só arrumar um baralho de tarô, decorar o significado das figuras e fazer cenas de mistério”. Ela adotou a idéia na hora, lembrando-se de que sua avó, Assunción Mariño, sabia ler as cartas.

 Comprei-lhe os apetrechos, inclusive um livro que ensinava os segredos da quiromancia. Em poucos dias ela estava “afinada”na leitura das mãos e no tarô. No início, anotava nas costas das cartas a primeira letra dos presságios: Nas costas do valete de copas ela escrevia “A” de amor ou amante apaixonado. Na dama de espadilha, era a letra “R” de rival; no reis de ouro era o $, de marido rico; no reis de espada, o “V” de vingança ou marido ciumento e assim por diante.

Resultado disso tudo foi que durante anos, com o pseudônimo de Madame Zohra, ela ganhou seu dinheiro na maciota e foi uma cartomante de sucesso até o fim da vida. Criou e manteve os sonhos de muita gente e falando em sonhos, vou transcrever uma receita dela que é  uma doçura:

 SONHOS DA CYBELLE:  2 colheres (sopa) de margarina ou manteiga; 2 colheres cheias de fermento (ou 3 tabletes); 20 colheres de açúcar; 2 ovos inteiros; 1 copo de leite morno; 1 pitada de sal e farinha que dê para amassar. Enrolar os sonhos e cobrir com um pano grosso, para crescer. Ponha uma bolinha da massa em um copo com água:quando subir, pode fritar os sonhos em óleo nao muito quente. 
Espalhar açúcar por cima e rechear com geléia ou com CREMINHO DE MAIZENA (meia lata de leite condensado, meia lata de leite comum; meia lata de creme de leite 1 gema e 1 colher de maizena, levar ao fogo até engrossar). 

4 comentários:

  1. Caro João!
    Será que a Madame Zohra continua fazendo sucesso no Olimpo, na ala reservada aos habitantes olimpianos crédulos?!...
    As cartas não mentem jamais!!!
    Caloroso abraço! Saudações videntes!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

    PS - Nunca me esqueço da vez que fui a uma cartomante devido a insistência da minha saudosa amiga Irene Soffner (1922-1998), que trabalhou comigo na Delegacia de Estrangeiros e Passaportes, que ficava no Parque Dom Pedro, onde permaneci de 1976 a 1980...
    A cartomante morava num daqueles apartamentos decadentes do bairro do Pari e ao subir as escadarias o odor predominante era o seminal...
    Ela me esperava na sala... Ao colocar as cartas na mesa ficou com a feição enigmática... Depois disse:
    - Você ainda está em lua de mel, seu casamento não passará de sete anos... Deste casamento virão quatro filhos, mas você abandonará sua mulher, porque não consegue ficar longe da sua amante... Para encurtar a história paguei o preço exigido e sai daquele ambiente decadente. As previsões dela foram fajutas, porque não tinha amante, tivemos dois filhos e minha mulher me atura desde 1977.

    ResponderExcluir
  2. fala jao blz???

    muito boa.. a historia qto a receita do sonho... meu se ta cada vez melhor...

    abraçao do gordo!

    ResponderExcluir
  3. João - gostei muito da Madame Zohrae dos sonhos; aqui em Salvador, faz parte do cardápio da merenda escolar da criançada, vou fazer este sonhos da D. Cybelle para minhas meninas!

    Abraços

    ResponderExcluir
  4. É meus amigos...a velha era foda!!!
    Abs
    João

    ResponderExcluir