A Dona Rosa "Bolacha" era nossa vizinha de frente...Não sei se ganhou esse apelido pelo fato de vender bolachas ou se era pela cara cheia e antipática que tinha. Ela penteava os cabelos brancos em um coque alto e usava um par de óculos redondo, parecidíssima com a Vovó Donalda, personagem das revistinhas do Pato Donald. Era avó do Amaral, meu melhor amigo e colega do Grupo Escolar Antonio dos Santos Cabral, lá perto da antiga caixa d’água.
O Amaral nasceu com uma doença chamada "simioto". Era muito fraquinho e tinha feições simiescas (procurem o dicionário) e sua avó, muito religiosa, fez uma promessa não sei pra que santo, de vestir o garoto de branco até os 10 anos, se conseguissem sua cura.
E não é que o pobre coitado curou-se! E teve que se vestir, inteiramente, de branco até àquela idade combinada com o santo. Enquanto todos os moleques iam à escola de azul marinho e branco, ele vestia-se como um anjo! Era alvo de toda a espécie de gozação e morria de ódio da avó, por conta da promessa.Bom, crescemos juntos e eu adorava brincar na casa dele, pois tinha um quintal enorme, com várias espécies de animais e árvores. A frente da casa era bem afastada da rua, com uma cerca baixinha do lado da calçada.
Tinha um jardim maravilhoso, forrado de flores, amoras e morangos; muitos morangos, vermelhinhos e viçosos. Enquanto a avó ficava tricotando por debaixo de uma primavera e vigiando-nos por de cima de suas lentes, nós tentávamos apanhar os frutos às escondidas mas a velha era mais esperta do que nós, então, na maioria das vezes, ficávamos na vontade.
O pai dele virou uma fera, arrebentou o portãozinho do jardim e foi bater na porta da casa, furioso. Nós ficamos escondidos no imenso quintal mas fomos encontrados e o Amaral apanhou bastante naquela tarde. Quando D. Maria Bolacha foi contar pra minha mãe, ela não deu muita bola não (minha mãe, ignorância de católica ferrenha, sempre foi intolerante com evangélicos).Nossa! Dessa vez eu apanhei demais; meu pai me pegou de "rabo de tatu" (uma espécie de chicote em forma de espada, de couro cru, com três línguas sobrepostas) que fiquei com as costas cheias de vergões. Apanhamos tanto que juramos vingança...uma vingança maligna!
Meu pai nasceu em um domingo de páscoa e mesmo sendo móvel o data do dia santo, era sempre nesse domingo que ele comemorava seu aniversário. Um grande almoço à moda italiana, com comida farta e toda a família e amigos reunidos. Naquele ano ele havia trazido frangos, leitoa e dois cabritinhos para o "banquete" e os pobres chifrudinhos ficaram amarrados no fundo do quintal numa dieta de água e folhas de manjericão (para perfumar a carne).Manhã seguinte, acordamos cedo e, inocentes, fomos soltar papagaios...
Poderia ensiná-los a fazer um cabrito à espanhola ou recheado com castanhas mas como vocês não vão comprar cabritos mesmo, hoje a receita será à base de morangos:



Caro amigo João!
ResponderExcluirSerá que a Dona Rosa "Bolacha" exalava bacalhau?
Caloroso abraço! Saudações aromáticas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP
Olá João!
ResponderExcluirTem promessa que nem Cristo aprovaria, quanto mais expor um filho ao ridiculo, em troca de um pedido atendido. Nunca entendi porque as pessoas precisam se torturar para pagar promessas. Ficaria mais digno e justo ajudar um asilo ou creche ou dar uma cesta básica para uma familia carente.
Gostei do que vcs fizeram com os cabritos. Mas afinal eles foram ou não foram pra panela? Tadinhos...
abços
Professor, com certeza ela exalava esse aroma (que para os italianos antigos, era o famoso "profumo di donna") kkk
ResponderExcluirabs
Joao
Cris, eles foram é para o forno e recheados de morangos e dálias. rsrs
ResponderExcluirforte abraço
João
aff!você era e é terrível!
ResponderExcluirThais, eu era o caçula... e tá explicado! rsrs
ResponderExcluirAbraços
João