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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O "CHICO BELO"

 Meu pai e meus irmãos sempre "mexeram com vacas". Vacas leiteiras, bois de corte, touros reprodutores, bezerros para engorda e por ai a fora... Passei minha infância e adolescência sentindo aquele cheiro de curral: misto de leite, feno e bosta fresca de vacas. Até que era um cheirinho honesto e aconchegante!
 Sinto saudade de quando meu pai ou algum dos irmãos mais velhos me acordava, tipo quatro ou cinco horas da manhã para acompanhá-los até ao sítio. Iam buscar os latões cheios de leite e trazê-los de volta à cidade para serem entregues na LECO, companhia de laticínio da região. Eles carregavam-me consigo, um tanto para fazer companhia e mais para abrir as porteiras que eram inúmeras
Parece-me que naquele tempo o inverno era mais intenso e com mais neblina. Chegava ao curral, morrendo de frio e corria com minha canequinha de alumínio para que o retireiro a enchesse com o leite que saia das tetas, quentinho que até soltava fumaça...
 O local onde as vacas leiteiras ficavam chamava-se estábulo ou retiro e o empregado encarregado da ordenha era o retireiro. Tivemos vários retireiros, pois era uma profissão dura e poucos aguentavam o tranco por muito tempoLembro-me de um deles, chamado Francisco e apelidado pelos meus irmãos de "Chico Belo". Nada a ver com beleza, pois o homem era feio pra caráio e foi justamente por ser feio que meus irmãos, maldosamente, assim o apelidaram.
 O Belo era muito briguento  e por ser magrinho, vivia apanhando de todo mundo nos forrós que frequentava. Voltava para casa completamente bêbado e machucado, guiando sua carrocinha de dois assentos. Aliás, de tão zonzo, ele não guiava nada e quem se encarregava de levá-lo até à porteira do sítio era o coitado do burro. De tanto trotar por aqueles caminhos, o animal já estava condicionado ao trajeto.
 Chegando em casa, descarregava toda a valentia na pobre da mulher, que apanhava mais que cabrita na horta. Dizem que ele costumava bater nela com o gato: pegava o bichano pelo rabo ou pelo cangote e socava-o nas costas e pescoço da esposa. A coitadinha ficava toda arranhada e mordida pelo gato endoidecido.
Vizinho ao sítio, morava uma família  meio cigana. O marido usava um chapéu todo enfeitado com fitas e sempre trazia ao pescoço um longo lenço vermelho. Sua figura era reconhecida ao longe tanto pelo lenço berrante, como por sua montaria, uma égua preta, alta e nervosa. O homem, apelidado de Tião Sartana era meio arredio e de pouca prosa.
Não é que o Chico Belo foi se engraçar com a mulher do cigano! Era só o marido sair de casa que para lá ia o retireiro.
Quando meu irmão ficou sabendo do perigoso affair, resolveu pregar uma peça no empregadoPrimeiro, alertou-o de que o Sartana ficara sabendo da traição e que tinha jurado vingança.
   No domingo seguinte, enquanto o Belo curtia a bebedeira da véspera, deitado na varanda do seu rancho, um bando de cavaleiros invadiu o sítio, gritando e dando tiros para o ar. Na frente da turma, vinha meu irmão, montado num cavalo preto e com um chapéu e lenço  idênticos aos usados pelo cigano.
A mulher do retireiro sabia da farsa e conforme o combinado, começou a gritar desesperada: _Chico, corre que aí vem o Tião Sartana !
 O coitado, sem saber o que fazer, subiu no telhado e foi esconder-se dentro da caixa d'água. Puxou a pesada tampa de amianto e ficou ali, quietinho, com água pela boca. De vez em quando, meu irmão dava um tiro para o ar, em meio à gritaria dos comparsas. Por mais de uma hora o safado ficou tiritando de frio, com medo de descer.
Só saiu depois que ouviu o tropel de cascos, batendo em retirada. Por longo tempo, deixou de frequentar bailes e botecos, evitando, assim, confrontar-se com o inocente cigano.
Por conta do leite, vou ensinar, hoje, como minha mãe fazia seus deliciosos queijos frescos.
 QUEIJO FRESCO:  4 a 5 litros de leite (de preferência natural, caso impossível usar o integral não pasteurizado, mais gordo do supermercado). Uma tampa medida de coalho dissolvido em meio copo de água filtrada (o melhor é da marca Estrela), 1 colher rasa (de sopa) de sal. Amornar o leite (bem pouco, mais ou menos 37 graus). Misturar o coalho e o sal, mexer bastante para agregar os componentes. Deixar descansando por mais ou menos 30 minutos, até coagular. Com uma faca comprida, talhar toda a massa na vertival e na horizontal (fazendo um xadrez), pois assim, a massa separa-se do soro (líquido). Aguardar uns 10 minutos e coar toda a massa numa peneira (de plástico) ou em um pano bem fino e poroso. Deixar escorrendo por uma meia hora.
Colocar a massa em uma forma toda furada (eu uso um aro daqueles tubos hidráulicos, de plástico, todo furado nas laterais). Espremer bem a massa com as mãos, dos dois lados, para o queijo ficar lisinho, sem buracos. Coloque numa tábua de bater carne, um pouco inclinada para continuar escorrendo, de um dia para o outro. Desenforme e guarde na geladeira.
Dicas: A) Todos os utensílios devem ser extremamente higienizados.  B) É importante que escorra todo o soro amarelado para não azedar o queijo. C) Se quiser um pouco mais salgado, no momento em que estiver espremendo a massa na forma, esfregue sal nas duas superfícies. D) Talvez não seja da primeira vez que o queijo ficará perfeito mas, com a prática chegar-se-á à perfeição.

4 comentários:

  1. Caro amigo João!
    A lambisgóia da Agrado está sôfrega para oferecer os agrados da Agrado para "Chico Belo"!!!...
    Caloroso abraço! Saudações angelicais!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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  2. Professor, depois que postei esse "causo" é que ví que já tinha sido publicado anteriormente. Agora, deixo, né? rsrs
    Abs
    João

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  3. João,

    Revendo os comentários em meu blog deparei-me com um antigo comentário seu; deixei para visitar o seu blog mais tarde, mas ficou apenas na intenção. Hoje fiz essa visita, li alguns textos, alguns contos curtos, e gostei muito. (Pretendo voltar.)

    Um abraço,
    Pedro.

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  4. Obrigado, Pedro!
    Vc honra-me com teus comentários e eu sempre tenho
    prazer de visitar teu erudito e agradável espaço.
    Escrever para mim é uma brincadeira...
    Abraços
    João

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