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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A ZORAIDE

 Dos 11 filhos de “seu” Guerino, 7 eram mulheres e todas tinham os nomes começando com a letra “Z”. A primeira chamava-se Zulmira e por ser a mais velha, ajudou a criar os irmãos mais novos, cuidando dos pais até morrerem. Ficou, por conta disso, solteirona. As demais, se bem me lembro, eram: Zuleika, Zenaide, Zilda, Zoraide, Zélia e Zelinda (a mais nova, mãe do Amaral).

 Zoraide, desde mocinha foi, a contragosto, internada em um convento,  destinada a ser freira e assim que vestiu o hábito, foi mandada para Portugal, a serviço de Cristo. 












 Lá ficou, por muitos anos, em terras de Alentejo, até que numa tarde de verão, sentada à janela do velho convento e 
 bordando uma nova toalha para o altar de Santa Adelaide, pegou-se a admirar o jovem jardineiro que cuidava dos canteiros de rosas.


Sentindo um "fuxico" na barriga, suspirou: “Não suporto mais essa merda de vida!” Jogou para longe o bastidor de bordar e desandou a chorar, histericamente.

Na mesma tarde, comunicou à superiora sua decisão: “Vou voltar ao Brasil e me casar!” Por mais que a Madre tentasse persuadi-la foi tudo em vão; devolveu o hábito e a aliança de “esposa de Jesus”, voltando para casa “pelas asas da TAP”.



 Lembro-me de sua chegada, numa roupa meio fora de moda, um lenço na cabeça para esconder os cabelos ainda tosados e _ o que mais marcou em minha lembrança _ a marca branca na testa, sinal do hábito que usara durante mais de 20 anos. Aquela marca precisou de algum tempo e bastante sol para desaparecer...
Mas, antes que a marca desaparecesse de vez, ela já estava de namoro com um primo meio distante e também solteirão, chamado Orlando: o “Landão Pé de Mesa”.




A família deu graças a Deus pois a situação da moça incomodava a todos, carolas que eram! O rapaz comprou uma casa perto do hospital, mobiliou-a inteiramente e “seu” Guerino providenciou o enxoval às pressas. 



A festa de casamento prometia ser muito boa mas quando minha mãe recebeu o convite das mãos de Dona Rosa “Bolacha”, escutou a recomendação da velha: “Dona Alzira, a festa é só para os adultos, ninguém pode levar crianças!”

 Minha mãe tinha 6 filhos, Tia Beatriz outros 6 e a Tia Deolinda mais 8. As três irmãs, portuguesas de quatro costados, sempre moraram bem perto uma das outras, inseparáveis e a família, quando se juntava: era um “Deus nos acuda”. Logicamente, elas ficaram revoltadas com a imposição da vizinha e resolveram não comparecer ao casamento e nem mandar presentes.

Mas, nós ficamos “aguados”e minha prima Terezinha chegou até a ter febre com vontade de ir. Daí, então, nossas mães combinaram um plano de desagravo: “Nós não vamos, mas eles irão!” 
Na hora da festa, os 20 primos, vestidos com “roupas de missa”, foram invadindo o imenso quintal de “seu” Guerino, todo embandeirado e iluminado.

 O Amaral, neto dos velhos e meu amigo, correu para nos dar o recado: “Minha avó falou para vocês irem embora porque a festa é só prá adultos...” A Lila que era a mais velha dos primos, tomou a dianteira e rosnou; “Quero ver ela tirar a gente daqui... Vamos aprontar o maior escândalo!” 
Bom, resumindo, o bolo não deu nem “pro cheiro”.

Para terminar a estória, posso dizer que o casamento da Zoraide não durou nem dez dias, ao final dos quais, o “Landão Pé de Mesa” devolveu a moça, virgem como sempre foi. 
A união não se consumou pois quando a coitada, inocente, percebeu a razão do apelido do marido, desandou a gritar de medo e nem o deixou encostar-se nela...
 Com o tempo, transformou-se em “ministra da eucaristia”, levando aos doentes o conforto da oração e o consolo da comunhão.

A ex-freirinha aprendeu, lá no convento, a fazer diversos tipos de confeitos e passou a ser a doceira de nosso bairro. Com ela aprendi as “balas de noiva” (alfenins) e uns pasteizinhos de Natal que até hoje fazem sucesso. Vou transcrever a receita dos pastéis, já que as balas alfenins são mais difíceis..

 PASTEIZINHOS DOCES DE NATAL : Recheio – ½ litro de leite; 1 kg de batatas inglesas cozidas e passadas no espremedor; ½ kg de açúcar; 1 noz moscada ralada, casca de 1 limão ralada e uvas passas.
Cozinhar tudo junto (menos as uvas passas), mexendo sempre, até soltar-se do fundo da panela.
Massa – 3 ovos; 1 kg de farinha de trigo; ½ kg de açúcar; ½ litro de leite; 1 colher (sopa) de pó Royal.  Misturar tudo e sovar até o ponto de abrir com o rolo.
Fazer os pastéis pequenos, rechear, acrescentando 2 uvas passas em cada recheio. Fritar em óleo bem quente.

Um comentário:

  1. Caro amigo João!
    A lambisgoia da Agrado está sôfrega para conhecer o "Landão Pé de Mesa" e disse que a Zoraide foi uma tolinha por não ter usufruido dos atributos do marido.
    Caloroso abraço! Saudações angelicais!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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