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segunda-feira, 7 de junho de 2010

DA BAHIA À CORNUALHA - II

Foram 25 anos de agonia e êxtase... Sentada num promontório rochoso, selvagem e completamente isolado da pequena urbe, Maria da Paz repassava mentalmente todas as alegrias e tristezas vivenciadas naquele fim de mundo, tão estranho para ela, mesmo depois de tantos anos.

Ela e a sogra sempe se destestaram mutuamente. O primeiro "pega" deu-se, já, no primeiro dia em que ficou sozinha, naquela casa sombria que abrigara várias gerações da família Hornblower, desde o século XVII. Jan saira com a mãe, a fim de comprar algumas roupas decentes para a jovem. Maria da Paz, sem tem o que fazer e querendo agradar àquela mulher fria e sizuda, começou a arear algumas panelas escuras que encontrara na cozinha.

Pensando que eram pretas de tanta gordura e fumaça de fogão, juntou um punhado de areia a uma palha de aço e esfregou que esfregou, até deixar os utensílios brilhando como prata. Quando a sogra viu aquilo, soltou um grito de horror e raiva. Começou a esbravejar para o filho, dizendo que passara vários meses juntando dinheiro e coragem para comprar aquelas panelas caríssimas. Era um conjunto de Teflon negro, recém lançadas no mercado europeu. "E, agora, essa selvagem estragara tudo!"

A baianinha, sem entender nada, desandou a choramingar e a balbuciar, num inglês terrível: "Mas, Jão, passei a tarde todinha areando essas panelas, estou até com a mão dura!"

Afora as oportunidades em que acompanhava o marido em suas viagens mar adentro, sua vida era muito triste e a sogra fazia de tudo para torná-la pior. As duas tiveram que separar a casa ao meio e cada uma tinha seu território.

Essa divisão deu-se após uma tarde em que, aproveitando-se da ausência da nora, Miss Daphne desmontou o altar dos orixás que a nora mantinha em seu quarto. Destruiu todas as imagens, jogando-as no mar. Para o filho, a mulher justificou-se:" É vodu dos bravos, coisas do demônio!" Em represália, Maria da Paz, armada de um atiçador de lareira, quebrou todas as porcelanas da sogra, salvando-se, apenas, uma chávena de chá "Companhia das Indias", herança da avó ou bisavó de Jan.

E foi através dessa xícara remanescente que, muitos anos depois, Maria da Paz deu o golpe final de desforra sobre a sogra.

A Internete já havia chegado àquele rincão desolado e na casa havia dois computadores, um para cada mulher. Foi por essa época, também, que "da Paz" ficou viúva, após o naufrágio de um dos barcos pesqueiros que levou Jan consigo, para o fundo do Canal da Mancha.

A solidão tornou-se insuportável. Já nem se importava mais com a presença da sogra, a qual, aliás, passou a tratá-la com mais suavidade, talvez, com medo de ficar sózinha, caso a baianinha resolvesse voltar para o Brasil. Frequentemente convidava a nora para partilhar de seu chá ou de seus bordados.

As vezes, enquanto Maria da Paz bordava, Miss Daphne entrava na Internete e ali ficava, batendo bapos com outros internautas, usando o pseudônimo de ESTRELA DO ORIENTE. Enquanto teclava, bebericava goles de chá, naquela única xícara que lhe restara.

Foi então, que surgiu a idéia maquiavélica: De seu computador, Maria da Paz acessou a mesma sala de bate papo que a sogra frequentava e com o apelido de TUAREG, começou a "paquerar" a ESTRELA DO ORIENTE. Dizia ser um advogado, aposentado e viúvo. Morando em Londres, com um único filho, sentia-se tão solitário quanto ela. Em poucos dias, Miss Daphne estava apaixonada e dizia para a nora que o tal de TUAREG, profundo conhecedor da alma feminina, conseguira reimplantar em seu coração, aquele sentimento que há décadas não mais sentia...

Desenvolveu-se o namoro on-line, até o ponto em que marcaram um encontro para se conhecerem. Miss Daphne contratou faxineiras para deixar a casa brilhando e preparou um jantar especial para compartilhar com o amado. Porém, terminou a noite sorvendo xícaras e mais xícaras de chá, frente ao computador, tentando encontrar o amado e saber o por quê do "cano".

Passaram-se semanas de silêncio até que o TUAREG deu o ar da graça, dizendo que estivera na UTI, vitimado que fora por três infartos seguidos. Escreveu ainda que se o pior acontecesse, ela seria notificada, através de seu filho.

Certa noite, Miss Daphne, aborrecida com o desaparecimento misterioso de sua xícara de chá, recebeu um e-mail, do "filho" de TUAREG, comunicando-lhe o falecimento do pai. Na mensagem, solicitava que a mulher informasse seu endereço pois que o pai, em seus últimos momentos, pedira que fosse-lhe enviada sua foto, com um presente_ um objeto pessoal que ele estimara muito.

Dias depois, sob o olhar curioso e malévolo da nora, Miss Daphne abriu uma linda caixa, recebida pelo "Express Postal Service", contendo um xícara idêntica à que perdera e mais a foto de um anão, com uma "dedicatória" de TUAREG...

Já que falei tanto em chá, seguem umas dicas básicas de chás (sempre na forma de infusão) e suas propriedades medicinai.

CHÁS - Carqueja (digestivo); Erva Cidreira (gases, calmante); Alecrim (insônia e depressão); Hortelã (máu hálito, insônia e calmante); Louro (dor de estômago); Sálvia (dor de garganta e resfriado); Endro (espasmos digestivos); Poejo (má digestão, arrotos); Funcho (calmante e asma); Malva (bexiga); Losna (cólica, diarréia e náuseas); Boldo (indigestão) e Alfazema (enxaqueca e indigestão).


2 comentários:

  1. Caro amigo João!
    Seu brilhante conto me fez refletir sobre os incontáveis viéses que o mundo cibernético nos possibilita! O grande desafio é saber utilizá-lo de forma a aumentar o nosso círculo de amizades, bem como as aprendizagens, inimagináveis, antes do advento desta fantástica tecnologia, que mudou nosso modo de vida!
    Caloroso abraço! Saudações eletrônicas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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  2. Tem completa razão, professor...
    Esse mundão de Deus tem muita gente boa e a Internet permite-nos termos acesso a qualquer tipo de conhecimento. Só não aprende quem nunca esteve a fim de se instruir.
    Vc conhece o Blog da Vovó Neuza? A velhinha é supimpa!!
    Tenha um bom dia.
    João

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